quarta-feira, 2 de abril de 2014

FUNCIONÁRIOS DA FASE SÃO SUSPEITOS DE ALICIAMENTO DE INFRATORES


ZERO HORA 02 de abril de 2014 | N° 17751

ADRIANA IRION

FOGO AMIGO. Justiça afasta dois servidores da Fase

Funcionários são suspeitos de aliciar adolescentes infratores e insuflar motins



A investigação de uma rebelião ocorrida em maio em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase), em Porto Alegre, revelou bastidores de uma guerra por poder que envolveu até o suposto planejamento, por parte de um servidor, da morte de um colega. Um interno ganharia R$ 5 mil e uma arma para matar o funcionário. A apuração, conduzida pelo Ministério Público, mostrou ainda que dois servidores dariam drogas e bebidas alcoólicas para infratores e estimulariam atos de indisciplina e agressões entre internos. Eles foram afastados das funções pela Justiça.

Oobjetivo seria desestabilizar colegas de outras equipes para ganhar mais poder na unidade, o Centro Socioeducativo Poa I (Case POA I). Já a morte que teria sido, supostamente, encomendada teria o objetivo a ascensão na hierarquia interna da fundação. O suposto mentor do crime queria, de acordo com a investigação, ocupar o cargo do colega que morreria. A partir de minuciosos depoimentos de internos, o MP elencou nove fatos em desabono à conduta dos dois agentes socioeducadores e pediu o afastamento deles, além de condenação por improbidade administrativa.

Rogério da Silva Ibias já havia sido afastado pela presidência da fundação e Matheus Ostrek Webber saíra em licença-saúde. No final de janeiro, no entanto, a juíza Vera Deboni acatou pedido do MP a fim de reforçar a proibição de que os dois voltassem a ter contato com internos. Houve recurso, ainda não julgado. Segundo a Fase, os dois estão afastados do cargo desde a decisão da juíza.

Ao ingressar com ação de improbidade contra os dois, o promotor Júlio Alfredo de Almeida apontou a existência de disputa político-partidária na instituição: “A investigação traz a lume lamentáveis confrontos político partidários e disputa de poder dentro da unidade Case POA I, aliás fomentado por uma fração da direção da Fase, que não sua presidente, fato que foi objeto de registro pela respeitada equipe técnica daquela unidade onde expressamente é nominado o requerido Rogério Ibias como fomentador do confronto de grupos. (...) De fato não se poderia esperar deslinde menos funesto quando se mistura política partidária com socioeducação.”

Inquérito policial investiga suspeita de outros crimes

A apuração foi feita depois de um motim ocorrido em 20 de maio, quando internos atearam fogo e depredaram uma ala. Durante inspeções, os internos passaram a relatar supostos desvios de conduta dos dois servidores. Há relatos que reforçam suspeitas de entrega de drogas pelos servidores em troca de favores, como o domínio da unidade, a entrega de isqueiros, que são proibidos pelo risco de incêndios, agressões a internos e até um caso de assédio moral e sexual contra a companheira de um interno da unidade.

As suspeitas de planejamento da morte de um servidor, de ocorrência de tortura e do fornecimento de substâncias ilícitas aos internos estão sendo apurados em inquérito policial solicitado pelo MP.



CONTRAPONTOS

O que diz a Fase - Por meio da assessoria de imprensa, a presidente da fundação, Joelza Mesquita, informou que não falaria das suspeitas apuradas pelo MP.

O que dizem os agentes - Procurado por Zero Hora, Luiz Alexandre Markusons, advogado de defesa, declarou que a denúncia do Ministério Público seria baseada apenas em depoimentos dos internos da Fase e que seus clientes não irão conceder entrevista sobre o assunto.

Matheus Ostrek Webber classificou as denúncias do Ministério Público como “caluniosas” e não quis dar declarações antes de consultar seus advogados.

O outro suspeito, Rogério da Silva Ibias, não respondeu às ligações da reportagem.

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