sábado, 19 de abril de 2014

ABANDONO FATAL

REVISTA ISTO É N° Edição: 2317 | 17.Abr.14


Pai e madrasta são suspeitos de assassinar garoto de 11 anos, que chegou a ir à Justiça reclamar do descaso com que era tratado pela família



Quando o corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, foi encontrado na segunda-feira 14 na cidade de Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul, veio à tona uma trágica história de abandono familiar na qual a criança era vítima. Há anos os habitantes da cidade gaúcha de Três Passos, onde Bernardo morava, já conheciam seu drama. Segundo relatos de vizinhos e amigos, o menino vivia à deriva pelo município. Costumava dormir na casa de conhecidos, passava os fins de semana perambulando pela rua ou com amigos e, quando teimava em voltar para casa, ouvia a negativa da madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, 32 anos, que não queria abrir a porta para ele, obrigando-o a pular o muro. Ela tampouco permitia que o garoto chegasse perto da irmã de um ano e meio, que ele adorava. No ano passado, Bernardo contou com a generosidade de uma família para acompanhá-lo à sua primeira comunhão, uma vez que nenhum parente compareceu. O descaso era tanto que a criança foi ao Ministério Público local para reclamar que o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, não lhe dava atenção, e que a madrasta não gostava dele. Disse, ainda, que havia duas famílias na cidade com quem gostaria de ficar. Em fevereiro, uma audiência com pai e filho trouxe alguma esperança para uma possível reaproximação.


HORROR
Acima, o enterro de Bernardo, na terça-feira 15: ele foi sepultado ao lado da mãe,
Odelaine, que se suicidou em 2010. Abaixo, a madrasta, Graciele,
e o pai, Leandro, presos sob suspeita de matar Bernardo





A investigação sobre o crime que matou Bernardo está no início, mas Graciele e Boldrini, assim como a assistente social Edelvânia Wirganovicz, que indicou o local do corpo, estão presos preventivamente, suspeitos do assassinato da criança, segundo a delegada Caroline Bamberg Machado. “Fatores econômicos podem ter motivado o crime”, disse Caroline, numa alusão ao patrimônio do médico, profissional conceituado na região, proprietário de uma clínica. O menino desapareceu na sexta-feira 4. No começo da tarde, Graciele foi multada por excesso de velocidade em um trecho rumo a Frederico Westphalen. Bernardo estava com ela no carro. Quando chegou à cidade, foi até a casa de Edelvânia. Lá, pílulas dopantes teriam sido misturadas a um suco dado ao menino, que o fez adormecer. Em seguida, ele teria recebido a injeção com uma substância preparada por Graciele. No domingo, Boldrini acionou a polícia e espalhou cartazes com fotos do garoto pela região. Dez dias depois, o corpo foi encontrado dentro de um saco plástico, em um matagal. Agora, a polícia investiga informações de que Bernardo teria recebido uma dose excessiva de analgésico usado para endoscopia. Ainda é preciso esperar o resultado da perícia, que deve apontar o tipo de substância usado na injeção letal aplicada no menino.

Segundo a população local, afora a evidente negligência com a criança, Graciele e Boldrini aparentam ser um casal normal. E, mesmo reclamando por atenção, Bernardo não relatava maus- tratos nem violência. “Nos finais de semana, quando eu ia visitar minha filha, ele estava sempre na casa de algum amigo”, diz o pai da madrasta, Plínio Ugulini. “A única coisa que Graciele me dizia é que Bernardo estava com um problema e fazia tratamento com um psiquiatra.” A criança foi sepultada na terça-feira 15. Será enterrada ao lado da mãe, Odelaine, que morreu em 2010, aos 30 anos. De acordo com a polícia, ela se matou com um tiro na cabeça no consultório onde o pai de Bernardo trabalhava.

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