ZERO HORA 23 de abril de 2014 | N° 17772
LETÍCIA COSTA* | TRÊS PASSOS
O que diz a polícia sobre morte da mãe
ADRIANA IRION E HUMBERTO TREZZI
Desde o sumiço e a morte de Bernardo Uglione Boldrini, a família da mãe do garoto, Odilaine Uglione, levanta dúvidas sobre o suicídio dela, ocorrido em 10 de fevereiro de 2010. O advogado dos familiares já anunciou que pedirá o desarquivamento do caso, investigado pela Polícia Civil de Três Passos.
A técnica em enfermagem Odilaine morreu, aos 32 anos, com um disparo dentro do consultório do então marido, o médico Leandro Boldrini. Como ele agora é suspeito de envolvimento no assassinato do filho, os Uglione levantam a hipótese de que ele possa também ter matado Odilaine ou induzido ao seu suicídio, já que a morte da mulher não teve testemunhas – os clientes do consultório aguardavam na antessala.
Mesmo com a pressão pela reabertura do caso, os indícios coletados pela polícia apontam que ela se suicidou. ZH teve acesso à maior parte do inquérito. A investigação aponta que Odilaine, um dia antes de morrer com um tiro, avisou num centro espírita que queria se matar. Falou o mesmo para a empregada da casa na data da sua morte. O casal estava em processo de separação.
Indícios técnicos também apontam para suicídio. A arma usada, um revólver calibre .38, disparou à queima-roupa. Mais: a polícia confirmou a ZH que foi feita perícia oficial e que o exame de resíduo de chumbo nas mãos indicou que o disparo foi feito por ela. Com base em tudo isso, os policiais fecharam o inquérito concluindo que foi suicídio.
A empregada da casa de Odilaine à época, Nelci de Almeida e Silva, contou à polícia que na quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010, depois de almoçar com o marido, em casa, Odilaine a chamou no quarto. As duas sentaram ao pé da cama, e a mãe de Bernardo disse:
– Eu não quero mais...
Nelci pensou que ela se referia ao casamento, mas Odilaine foi incisiva:
– Não, eu não quero mais viver.
Médico prestou depoimento
Segundo o testemunho de Nelci, Odilaine disse que, se “Leandro tinha o direito de saber o que era bom para ele, ela tinha o direito de escolher o que era bom para ela.” Quando a empregada aconselhou que ela pensasse melhor, Odilaine teria respondido:
– Tu não é ninguém para impedir.
Era o segundo aviso. Um dia antes, Odilaine estivera no Centro Espírita Francisco de Assis, em busca de conforto emocional. Uma das pessoas que a atenderam, Maria Isabel Neckel, lembra que a mulher confidenciou que o marido tinha pedido a separação.
– Ela estava desesperada, chorava muito e disse que ia se matar – descreveu a testemunha à polícia.
Na tarde de 10 de fevereiro, Odilaine entrou na antessala do consultório do então marido, que não estava no local. Segundo a secretária do médico, Andressa Wagner, ela pediu que não avisasse Leandro Boldrini de que estava ali e entrou no consultório, ficando lá sozinha até a chegada do médico.
Na antessala estavam sete pessoas. Ouvidas pela polícia, elas coincidem nas afirmações: ouviram um estouro, semelhante a um tiro, e logo o médico saiu correndo do consultório, gritando “chamem a polícia”.
Aos policiais, Boldrini disse que encontrou a mulher sentada no consultório e que ela dizia estar com calor. Ao se abaixar para ligar o computador, contou, a viu sacar uma arma da bolsa e apontar a esmo. Apavorado, diz que saiu correndo e então ouviu o estouro.
– Saí correndo, pedindo socorro, e não ouvi mais nada – disse o médico.
OS INDÍCIOS - Veja o que a apuração concluiu sobre o caso
O tiro que matou Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, foi dado à queima-roupa, situação comum em casos de suicídio. A Polícia Civil garante que existe exame pericial mostrando que ela atirou.
Foi Odilaine quem comprou o revólver calibre .38, segundo duas testemunhas. A polícia identificou o vendedor após receber denúncia anônima indicando o local da compra e o nome de quem vendera.
Odilaine falou para duas pessoas que pretendia se matar por causa da separação. Os avisos foram dados horas antes da morte à então empregada da família e a uma atendente de centro espírita.
Leandro Boldrini disse que a mulher havia tentado se matar outras três vezes. Cita nomes de médicos que a tratavam com antidepressivos.
LETÍCIA COSTA* | TRÊS PASSOS
CASO BERNARDO
Por duas vezes, ontem, a delegada Caroline Bamberg afirmou ter certeza do envolvimento do médico Leandro Boldrini na morte do próprio filho, seja por ação ou por omissão.
Responsável pela apuração da morte do estudante Bernardo Uglione Boldrini, a delegada de Três Passos, Caroline Bamberg, não tem dúvidas de que o pai do menino estaria envolvido no crime.
Sem entrar em detalhes da suposta participação do médico Leandro Boldrini, a policial afirma que pode ter sido de forma omissiva, se ele sabia que o filho já estava sem vida e não informou à polícia, ou ativa, fazendo parte de alguma ação que culminou com a ocultação do corpo em uma cova na cidade de Frederico Westphalen.
Em duas entrevistas coletivas concedidas pela manhã e na tarde de ontem, Caroline ressaltou que há elementos que comprovariam o suposto envolvimento de Boldrini no assassinato. Para não prejudicar as investigações, a delegada não expôs quais seriam as provas contra o pai.
– Tenho convicção de que, de alguma forma, ele participou. Não vou falar porque ainda estou investigando. Não estou satisfeita. Estamos trabalhando, se não tivesse nenhuma dúvida, iria concluir o inquérito. Tenho de apurar a participação de cada um deles – afirmou.
Caroline ressaltou ainda esperar que Boldrini não ganhe a liberdade enquanto as investigações estão em andamento. A Polícia Civil já ouviu os três suspeitos de participar da morte de Bernardo – o pai, a madrasta e uma amiga da madrasta – após eles serem presos, na segunda-feira, 14 de abril. A delegada não informa se algum deles negou participação no crime.
Dos três, apenas a madrasta, Graciele Ugulini, teria exigido a presença do advogado para ser ouvida na segunda-feira, feriado de Tiradentes. Vanderlei Pompeo de Mattos é o advogado que assumiu a defesa de Graciele, apontada pela amiga como autora da morte de Bernardo, por meio de uma injeção letal. Ontem, ZH tentou contato com o defensor, mas não obteve retorno das ligações. A delegada não participou do depoimento da madrasta, mas disse que os policiais que a ouviram teriam destacado “frieza e tranquilidade” dela durante a conversa com a polícia:
– Ela estava tranquila, não chorava. Eu não levo a pau e ferro nenhum depoimento. Não sei se as versões são verdadeiras.
Para concluir o inquérito, a Polícia Civil ainda ouvirá pessoas da convivência dos suspeitos e buscará mais elementos que provem o suposto envolvimento dos três. Fundamental para a conclusão da investigação, a análise do material genético coletado no corpo de Bernardo poderá indicar quais as substâncias químicas foram utilizadas no assassinato.
*Colaborou Mauricio Tonetto
Por duas vezes, ontem, a delegada Caroline Bamberg afirmou ter certeza do envolvimento do médico Leandro Boldrini na morte do próprio filho, seja por ação ou por omissão.
Responsável pela apuração da morte do estudante Bernardo Uglione Boldrini, a delegada de Três Passos, Caroline Bamberg, não tem dúvidas de que o pai do menino estaria envolvido no crime.
Sem entrar em detalhes da suposta participação do médico Leandro Boldrini, a policial afirma que pode ter sido de forma omissiva, se ele sabia que o filho já estava sem vida e não informou à polícia, ou ativa, fazendo parte de alguma ação que culminou com a ocultação do corpo em uma cova na cidade de Frederico Westphalen.
Em duas entrevistas coletivas concedidas pela manhã e na tarde de ontem, Caroline ressaltou que há elementos que comprovariam o suposto envolvimento de Boldrini no assassinato. Para não prejudicar as investigações, a delegada não expôs quais seriam as provas contra o pai.
– Tenho convicção de que, de alguma forma, ele participou. Não vou falar porque ainda estou investigando. Não estou satisfeita. Estamos trabalhando, se não tivesse nenhuma dúvida, iria concluir o inquérito. Tenho de apurar a participação de cada um deles – afirmou.
Caroline ressaltou ainda esperar que Boldrini não ganhe a liberdade enquanto as investigações estão em andamento. A Polícia Civil já ouviu os três suspeitos de participar da morte de Bernardo – o pai, a madrasta e uma amiga da madrasta – após eles serem presos, na segunda-feira, 14 de abril. A delegada não informa se algum deles negou participação no crime.
Dos três, apenas a madrasta, Graciele Ugulini, teria exigido a presença do advogado para ser ouvida na segunda-feira, feriado de Tiradentes. Vanderlei Pompeo de Mattos é o advogado que assumiu a defesa de Graciele, apontada pela amiga como autora da morte de Bernardo, por meio de uma injeção letal. Ontem, ZH tentou contato com o defensor, mas não obteve retorno das ligações. A delegada não participou do depoimento da madrasta, mas disse que os policiais que a ouviram teriam destacado “frieza e tranquilidade” dela durante a conversa com a polícia:
– Ela estava tranquila, não chorava. Eu não levo a pau e ferro nenhum depoimento. Não sei se as versões são verdadeiras.
Para concluir o inquérito, a Polícia Civil ainda ouvirá pessoas da convivência dos suspeitos e buscará mais elementos que provem o suposto envolvimento dos três. Fundamental para a conclusão da investigação, a análise do material genético coletado no corpo de Bernardo poderá indicar quais as substâncias químicas foram utilizadas no assassinato.
*Colaborou Mauricio Tonetto
O que diz a polícia sobre morte da mãe
ADRIANA IRION E HUMBERTO TREZZI
Desde o sumiço e a morte de Bernardo Uglione Boldrini, a família da mãe do garoto, Odilaine Uglione, levanta dúvidas sobre o suicídio dela, ocorrido em 10 de fevereiro de 2010. O advogado dos familiares já anunciou que pedirá o desarquivamento do caso, investigado pela Polícia Civil de Três Passos.
A técnica em enfermagem Odilaine morreu, aos 32 anos, com um disparo dentro do consultório do então marido, o médico Leandro Boldrini. Como ele agora é suspeito de envolvimento no assassinato do filho, os Uglione levantam a hipótese de que ele possa também ter matado Odilaine ou induzido ao seu suicídio, já que a morte da mulher não teve testemunhas – os clientes do consultório aguardavam na antessala.
Mesmo com a pressão pela reabertura do caso, os indícios coletados pela polícia apontam que ela se suicidou. ZH teve acesso à maior parte do inquérito. A investigação aponta que Odilaine, um dia antes de morrer com um tiro, avisou num centro espírita que queria se matar. Falou o mesmo para a empregada da casa na data da sua morte. O casal estava em processo de separação.
Indícios técnicos também apontam para suicídio. A arma usada, um revólver calibre .38, disparou à queima-roupa. Mais: a polícia confirmou a ZH que foi feita perícia oficial e que o exame de resíduo de chumbo nas mãos indicou que o disparo foi feito por ela. Com base em tudo isso, os policiais fecharam o inquérito concluindo que foi suicídio.
A empregada da casa de Odilaine à época, Nelci de Almeida e Silva, contou à polícia que na quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010, depois de almoçar com o marido, em casa, Odilaine a chamou no quarto. As duas sentaram ao pé da cama, e a mãe de Bernardo disse:
– Eu não quero mais...
Nelci pensou que ela se referia ao casamento, mas Odilaine foi incisiva:
– Não, eu não quero mais viver.
Médico prestou depoimento
Segundo o testemunho de Nelci, Odilaine disse que, se “Leandro tinha o direito de saber o que era bom para ele, ela tinha o direito de escolher o que era bom para ela.” Quando a empregada aconselhou que ela pensasse melhor, Odilaine teria respondido:
– Tu não é ninguém para impedir.
Era o segundo aviso. Um dia antes, Odilaine estivera no Centro Espírita Francisco de Assis, em busca de conforto emocional. Uma das pessoas que a atenderam, Maria Isabel Neckel, lembra que a mulher confidenciou que o marido tinha pedido a separação.
– Ela estava desesperada, chorava muito e disse que ia se matar – descreveu a testemunha à polícia.
Na tarde de 10 de fevereiro, Odilaine entrou na antessala do consultório do então marido, que não estava no local. Segundo a secretária do médico, Andressa Wagner, ela pediu que não avisasse Leandro Boldrini de que estava ali e entrou no consultório, ficando lá sozinha até a chegada do médico.
Na antessala estavam sete pessoas. Ouvidas pela polícia, elas coincidem nas afirmações: ouviram um estouro, semelhante a um tiro, e logo o médico saiu correndo do consultório, gritando “chamem a polícia”.
Aos policiais, Boldrini disse que encontrou a mulher sentada no consultório e que ela dizia estar com calor. Ao se abaixar para ligar o computador, contou, a viu sacar uma arma da bolsa e apontar a esmo. Apavorado, diz que saiu correndo e então ouviu o estouro.
– Saí correndo, pedindo socorro, e não ouvi mais nada – disse o médico.
OS INDÍCIOS - Veja o que a apuração concluiu sobre o caso
O tiro que matou Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, foi dado à queima-roupa, situação comum em casos de suicídio. A Polícia Civil garante que existe exame pericial mostrando que ela atirou.
Foi Odilaine quem comprou o revólver calibre .38, segundo duas testemunhas. A polícia identificou o vendedor após receber denúncia anônima indicando o local da compra e o nome de quem vendera.
Odilaine falou para duas pessoas que pretendia se matar por causa da separação. Os avisos foram dados horas antes da morte à então empregada da família e a uma atendente de centro espírita.
Leandro Boldrini disse que a mulher havia tentado se matar outras três vezes. Cita nomes de médicos que a tratavam com antidepressivos.
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