HUMBERTO TREZZI | TRÊS PASSOS
CASO BERNARDO
Um cotidiano de anos de omissões, carência e frieza culminou no cruel assassinato de Bernardo Boldrini. Para a polícia, não há dúvida de que dois dos três responsáveis pelo crime moravam com ele: o pai e a madrasta
Em meio a garfadas de pizza de chocolate, com o olhar fugidio de sempre, Bernardo Boldrini deixou escapar em uma pergunta toda a angústia acumulada em seus 11 anos de vida.
– Tia, tu pode ser minha mãe?
A tia – na realidade, a enfermeira Andréia Oliveira Küntzell, mãe da melhor amiga de Bernardo – quase engasgou. Levou um choque e começou a lacrimejar. Num instante, recobrou-se, olhou firme para o garoto e topou:
– Então vamos lá buscar as tuas coisas, vamos!
Mas Bernardo teve, então, um instante de recaída:
– E o meu pai, como vai ficar?
– Boa pergunta – retrucou a “tia” Andréia.
Embora o pai de Bernardo, o conhecido cirurgião Leandro Boldrini, fosse ausente da vida do menino, o guri se preocupava com ele.
Certa vez, no Espaço da Criança, mural do jornal Atos e Fatos, de Três Passos, Bernardo escreveu sobre suas preferências. Falou que gostava do Grêmio, de nhoque, de Michel Teló, que desejava ser médico psiquiatra quando crescesse e, no quesito Meu Herói, respondeu: meu pai.
Após o rápido diálogo, Andréia abraçou o garoto, e o delicado assunto daquela noite de dezembro passado não foi adiante. A conversa, no escaldante anoitecer de verão em Três Passos, voltou a ser a pizza com refrigerantes e a série de filmes Jogos Vorazes, que a criança adorava.
Quatro meses depois, o corpo de Bernardo foi encontrado, nu e dentro de um saco plástico, enterrado numa cova rasa em Frederico Westphalen, a 80 quilômetros de casa. Imagens captadas por câmeras de segurança mostram que a última pessoa a ser vista com ele é a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini Boldrini. Ela e uma amiga, a assistente social Edelvânia Wirganovicz, saem com o garoto de um posto de combustível e retornam horas depois, sem ele, com o carro embarrado, e colocam uma pá no porta-malas do veículo. As gravações foram decisivas para decretar a prisão das duas, já que ambas tinham afirmado, em depoimento à Polícia Civil, que nada sabiam sobre o paradeiro do garoto naquele dia.
Para piorar, Graciele tinha sido multada por um policial, que viu o menino com ela, embora a mulher afirmasse não saber onde estava a criança. Os policiais conseguiram que a Justiça decretasse também a prisão do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, suspeito de acobertar o crime.
só tenho a lamentar a morte pré matura desse menino.Moro em Minas Gerais e acompanho a triste historia de Bernardo á pouco tempo...depois que vi os videos na tv,confesso que fiquei muito abalado e por algumas vezes chorei...o garoto sendo tratado daquela forma,pedindo socorro e sofrendo tortura psicológica,é algo que não entra na minha cabeça.Estava sofrendo há muito tempo com a falta de carinho e amor (sentimentos básicos á uma criança)ao ponto de procurar a promotoria, para morar com outra familia.Só o fato de uma criança fazer esse tipo de pedido,já era o suficiente para acreditar que tinha algo muito errado acontecendo...faltou bom censo.Mas agora é tarde, muito tarde...ele foi cruelmente assassinado,aliás já vinha sendo há muito tempo.Vá com Deus, Bernardo...não te conheci,mas aprendi a te admirar e por causa de você, também aprendi que todo o amor e carinho que dermos á uma criança,ainda será pouco...passei à amar e à respeitar ainda mais os meus filhos...que Deus te acolha.
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