segunda-feira, 21 de abril de 2014

O CRIME DE TRÊS PASSOS (II)



ZERO HORA 21/04/2014 | N° 17770


PAULO SANT’ANA



Prossegue tenso e rico de detalhes o rescaldo do crime de Três Passos em que foi barbaramente trucidado o menino Bernardo, de 11 anos.

A chave para abrir o cofre da engrenagem psicológica que envolveu o assassinato está na atitude da madrasta e do pai do menino assassinado.

Os dois chegaram ao ponto de não comparecer à primeira comunhão do garoto. Como se sabe, um dos instantes mais importantes e solenes da vida de uma criança é o momento da sua primeira comunhão.

Pois a madrasta e o pai do menino tiveram o topete de não comparecer ao ato, sendo substituídos por conhecidos da família, que ficaram aturdidos com essa ausência.

A madrasta e o pai arranjaram uma viagem desnecessária para não comparecerem.

Um desprezo profundo do casal para com a criança. Esse desprezo explica em parte as razões do crime.

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Uma amiga da madrasta do garoto depôs a Zero Hora sobre como a madrasta encarava o guri. Eis o que lhe dizia a madrasta: “Aquele demônio! Aquilo não vale nada, passa o tempo todo me incomodando. Tem uma cara para o pai e outra, a verdadeira, para mim”, assim se queixava com ódio da vítima uma das suas assassinas. Essa atitude, verificada algum tempo antes do assassinato, mostra claramente o que sentia a madrasta assassina pelo enteado massacrado e explica cabalmente o crime. O ódio que a madrasta nutria pelo enteado levou-a, entre outros menores motivos, ao tresloucado assassinato.

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De acordo com as investigações policiais e o levantamento jornalístico até agora verificados, a amiga da madrasta que enterrou junto com ela o corpo do menino foi levada à cumplicidade no crime por motivo financeiro, a madrasta prometeu-lhe dar milhares de reais de presente, com o que quitaria seu apartamento. E ela não vacilou em ajudar a amiga, por lucro e solidariedade.

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O crime foi brutal, foi fruto de uma associação criminosa e se inscreve entre os mais famosos delitos ocorridos na história policial gaúcha.

Impressiona, em vários depoimentos que se conhecem agora, a indiferença do pai para com o menino. Encarava como normal o ódio da sua esposa para com o seu filho e já há suspeitas de que incentivava esse ódio.

Daí por que o pai está preso. Não se sabe se ele teve participação material no crime, mas se tem certeza, por várias outras atitudes dele, que, entre a criança que foi trucidada e a madrasta que a trucidou, o pai ficava do lado da madrasta incondicionalmente.

E tudo indica que o pai sabia que sua mulher tinha assassinado Bernardo.

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Uma suspeita que este colunista tinha e que agora se corporificou é a de que há a possibilidade de o menino ter sido enterrado vivo, ou seja, que a tal “injeção letal” que sua madrasta lhe aplicou não foi suficiente para matá-lo.

Horrendo crime.


 DO LEITOR


Caso Bernardo

Mais uma vítima da lentidão e burocracia do Poder Judiciário. Todos os órgãos do sistema agiram com falta de respeito ao menor, por não agirem com pressa antes que acontecesse o pior. Essas autoridades poderão dormir tranquilas? Não devemos esquecer que o pai do menino era um renomado médico, o que talvez provocou o descaso das autoridades.

Amandina Aquines

Advogada – Porto Alegre

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Concordo com Paulo Sant’Ana, talvez apenas a pena de morte para alguns crimes seja a solução mais justa. Estupradores, traficantes, homicidas pensariam duas vezes antes de cometerem suas barbáries.

Larry Beltrame

Empresário – Porto Alegre

Via e-mail

Depois de ter lido na íntegra a reportagem de Humberto Trezzi (21/04), mudei completamente meu conceito sobre a pena que os assassinos devem cumprir. Agora digo não à pena de morte. Seria brando demais. O que eles merecem é prisão perpétua em “regime fechado”.

Alda Pegoraro Roeder

Dona de casa – Nova Prata

Via e-mail

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