quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

FUNASA - MOTIM, TIROS E MORTES. UMA POR DECAPITAMENTO


Presidente da Funase divulga números oficiais da rebelião no Cabo. Uma ala da unidade foi totalmente destruída, e duas, parcialmente. 11/01/2012 17:18 - GERALDO LÉLIS, do FolhaPE, com PRISCILLA AGUIAR, de Grande Recife

Em entrevista coletiva um dia após a rebelião que deixou várias alas destruídas na Funase do Cabo de Santo Agostinho. O presidente da instituição, Alberto Vinícius, confirmou as três mortes, sendo eles José Mário de Oliveira Filho, de 18 anos, Allan Fraga de Oliveira, 19, e Pedro Henrique de Oliveira, 18. Este último teve a cabeça decepada e o corpo pendurado.

DHPP – O presidente também informou que quatro internos foram encaminhados ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa para prestar esclarecimento.

FUGAS – Durante toda a confusão, houve três fugas, sendo que dois jovens foram recapturados.

CAPACIDADE – A unidade tem capacidade para acolher 166 menores infratores, mas a população na Funase do Cabo era até o momento da rebelião de 367 adolescentes. As 21 unidades do Estado abrigam atualmente 1.496 internos, quando a capacidade é de 852. Em 2011, esse numero chegou a 1.615.

ALAS DESTRUÍDAS – A Ala 01 foi considerada totalmente destruída, enquanto que as 2 e 4 estão parcialmente.

ATENDIMENTOS MÉDICOS – Ao todo, foram 16 internos que receberam atendimentos médicos, sendo que nove foram transferidos para hospitais e um segue internado.

TRANSFERÊNCIAS – Nove reeducandos foram redistribuídos para unidades do Recife, de Caruaru, Abreu e Lima e Petrolina.

Alberto acredita que a ausência do ex-diretor de segurança da unidade, o coronel Severino Leandro, tenha facilitado para que a rebelião acontecesse. O coronel foi afastado do cargo após ser indiciado por maus tratos. Severino estava na diretoria de segurança havia quatro anos. Alberto acredita que o coronel será inocentado.

Segundo Alberto, haverá apuração para saber se houve facilitação por parte de alguém de dentro da unidade. “Eventos dessa natureza geralmente contam com a conivência de algum ente q não é adolescente, e isso será apurado”, declarou.


"A rebelião de terça foi a mais cruel que já vi em seis anos". Revelação é de uma agente. Prédio está completamente destruído.
11/01/2012 21:46 - DANÚBIA JULIÃO, do Portal FolhaPE

Segundo uma agente socioeducativa, que preferiu não se identificar, em seis anos de serviços prestados, a rebelião dessa terça-feira (10) foi a mais cruel já vista por ela. “Eles agiram para chocar, percebe-se pelo fato de terem jogado a cabeça de um dos mortos para o lado de fora da unidade”.

A realidade agora é que a situação interna do prédio e dos internos é crítica, até a enfermaria ficou completamente destruída. Eles ficaram sem luz e muitos sem roupa, devido ao motim e aos incêndios. Também faltava água, que, segundo o Conselheiro Tutelar, Geraílson Ribeiro, estava sendo providenciada na tarde desta terça-feira.

A ala 1 e 2, onde teve início o motim da terça-feira são os mais comprometidos. Todos os internos da ala 1 foram transferidos para a 3; metade dos da ala 2, para a 4. Apenas o pavilhão 5 não se envolveu nos motins.

De acordo com agente socioeducativa, morte estava “anunciada”. Uma das vítimas sairia da unidade em fevereiro. 11/01/2012 21:45 - DANÚBIA JULIÃO, do Portal FolhaPE


Segundo uma agente socioeducativa, que não quis se identificar, uma das mortes dessa terça-feira (10) era esperada . “Eles foram até a ala 6, onde estava Alan Fraga de Oliveira, 19 anos, (um dos mortos na rebelião), na intenção de matá-lo. Eles disseram que fizeram isso porque ele queria ‘tirar o comando do comando’, referindo-se à liderança do reeducando conhecido como Playboy, que foi transferido da unidade há uma semana. Alan estava na ala 6, onde ficam apenas os ameaçados de morte ou que tenham tido algum comportamento errado.

"Naquele dia, haviam 6 reeducandos lá”, disse. Segundo a agente, Alan era um dos garotos que se via a possibilidade de recuperação. Ele foi o único da unidade que recebeu indulto de Natal. Alan seria liberado no mês de fevereiro. Ao saber da sua morte, a mãe do garoto saiu da unidade, desesperada, chorando muito e gritando, amparada pelo tio do garoto. Inconformada, ela dizia que tinham matado o seu filho. Alan foi carbonizado.

REBELIÃO. Motim controlado na Funase do Cabo. Tiros e confusão marcam início da manhã no prédio. 11/01/2012 09:30 - Com informações de DANÚBIA JULIÃO - do Portal FolhaPE - e WAGNER SANTOS - da editoria de Grande Recife

Internos passarão por contagem

O motim dos internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase) do Cabo de Santo Agostinho, que começou no início da noite de ontem (10), já está controlado. Após o fim da rebelião, na madrugada desta quarta-feira (11), os internos fizeram outra confusão. Por volta das 9h, os familiares, que aguardavam na frente do prédio para entrar no período de visitas, escutaram tiros e explosões dentro do prédio, o que gerou uma confusão também do lado de fora da unidade. Segundo o representante da Funase, não houve nenhuma fuga ou homicídio.

Os reeducandos só se acalmaram com a chegada do ex-diretor da unidade, coronel Leandro. Durante a madrugada, os familiares fizeram virgília esperando alguma novidade sobre os seus parentes. Até o início da manhã, o resultado da rebelião eram três mortos, inclusive, um deles teve a cabeça decepada e jogada para fora do prédio. O saldo de feridos, segundo a Funase, é de seis internos.

Agora à tarde, os familiares se reuniram na frente da Funase para rezar e tentar se tranquilizar. Muitas das mães estavam emocionadas. Os internos vão almoçar e depois passar por um processo de contagem e identificação. Ainda de acordo com esse representante, a situação dentro do prédio é de destruição, até a enfermaria está acabada. Segundo familiares, os reeducandos não gostam da atual diretora, Maria Suzete Lúcio.

Pouco antes das 15h, foi autorizada pelo Conselho Tutelar a entrada de cinco mães e um pai na Funase, para que eles pudessem servir de testemunhas de como está a situação dentro da unidade para os demais familiares. A decisão gerou descontentamento entre os outros pais e mães, que exigem igual permissão. Eles reivindicam informações sobre como estão os adolescentes após toda a confusão e alegam que as pessoas escolhidas não serão capaz de passar a informação de cada interno para familiares respectivos.

Os seis familiares autorizados a entrar confirmaram que não há condições de andar pelas dependências da unidade, pois não há energia, o que dificulta a visibilidade dos internos. Segundo eles, os pavilhões 1, 2 e 4, junto com a administração, estão destruídos. Ainda segundo as cinco mães e o pai que entraram, os garotos afirmaram estar em situação tranquilizada e pediram que os familiares fiquem calmos, para garantir a calma deles lá dentro.

Tranquilizados e sabendo que não poderão ver o parente interno, alguns familiares já deixam a localidade para retornar no próximo dia de visita, que deverá ser confirmado para domingo, como já acontece rotineiramente. A energia da unidade já está sendo restabelecida. Os garotos, por sua vez, estão alimentados e aguardam a chegada de água para beber.

Rebelião – A rebelião dentro da Funase do Cabo de Santo Agostinho durou seis horas e meia. O saldo foi de três corpos carbonizados, sendo um deles decapitado. As vítimas foram José Mário de Oliveira Filho, de 18 anos, Alan Fraga de Oliveira, conhecido como Geléia, de 19 anos, e Pedro Henrique de Oliveira Lima, de 18 anos, que foi decapitado.

Mesmo após o término da rebelião, o clima foi tenso durante toda a madrugada. Centenas de pessoas, entre familiares e amigos, procuravam informações sobre parentes detidos. Até o momento, a polícia prendeu quatro homens suspeitos de liderarem o motim da Funase.

Os suspeitos são Renato Almeida Cruz, de 19 anos, Jonatas Gomes Cabral da Silva, de 19 anos, conhecido como Delesão, Jefferson Fernando da Silva, de 18 anos, conhecido como Chuck, Danilo Berlarmino dos Santos Filho, de 19 anos, vulgo Arroz. Ainda não existe provas que eles tenham envolvimento nos crimes, mas, segundo a polícia, os rapazes serão autuados por danos ao patrimônio.

FUNASE. Segundo dia de rebelião teve bombas e tiros, mas nenhum morto. Motim foi controlado ainda durante a tarde - 11/01/2012 21:40 - DANÚBIA JULIÃO, do Portal FolhaPE

Parentes reivindicavam volta do coronel e reclamavam do tratamento dado pela diretora

Depois de uma noite tensa e violenta, com três mortos, sendo um deles decapitado e os outros dois queimados, os internos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), no Cabo, voltaram a se rebelar nesta quarta-feira (11), dia de visita, o que acabou agravando a situação. Desde a última terça-feira (10), muitos familiares ficaram de vigília, esperando a entrada na unidade, que aconteceria às 9h, e outros chegaram durante toda a manhã. Eram centenas de pessoas na frente da unidade. Todos entraram em desespero quando viram a entrada dos cerca de 40 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar, por volta das 10h. Era o sinal de mais um motim.

Eles só saíram da unidade por volta das 14h, depois de conter os ânimos dos internos. Antes, ouviam-se os constantes disparos de bombas de efeito moral e balas de borracha. Os reeducandos chegaram a jogar pedras para o lado de fora da instituição, outro conseguiu fugir, mas foi logo capturado e um segundo foi atingido com um tiro no pé quando tentava se evadir. Em mais um dia de rebelião, não foi registrado nenhum homicídio.

A rebelião desta quarta-feira (11) começou porque, com o motim da terça-feira (10), os internos das alas 1 e 2 tiveram que ser redistribuídos e ficaram misturados com os demais, disse um supervisor, integrante da diretoria, que preferiu não se identificar. “Além disso, vivemos uma situação delicada, temos poucos agentes. São, por turno, no máximo, 15. Quando, na verdade, o ideal seriam 25. Além disso, temos uma superlotação. Hoje são quase 400 internos em um espaço que dizem caber 166. Mas, na verdade, para que pudéssemos realizar trabalho de recuperação desses jovens, deveriam ter aqui, no máximo 120”, relatou.

Com a saída da diretora da unidade, Maria Suzete Lúcio, e a chegada do ex-diretor da unidade – retirado do cargo em novembro passado –, coronel Severino Leandro, os reeducandos se acalmaram. Seus parentes reivindicavam a volta do coronel e reclamavam do tratamento dado a eles pela atual diretora. O coronel Leandro permaneceu dentro da unidade durante toda à tarde, e, junto com Conselheiros Tutelares, fez vistorias nas celas para verificar a situação dos internos.

“Fomos verificar se a polícia abusou da força ou tratou mal os meninos. O que vimos foi que eles foram tratados da forma devida e que estão bem. Eles queriam comida e água, porque muitos estavam sem comer desde ontem, e atendemos”, garantiu o diretor da Associação Metropolitana dos Conselheiros Tutelares de Pernambuco, Geraílson Ribeiro. Durante a vistoria, foram encontradas armas artesanais e outros objetos usados com essa intenção, como barrotes. Peritos do Instituto de Criminalística (IC) também estiveram no local para estudar a área dos homicídios.

Movidos pela perseverança e persistência, familiares passaram o dia inteiro com a esperança de ao menos ver o seu parente. Mas, pouco antes das 15h, veio a notícia de que isso não seria possível devido às condições internas da unidade. Então foi montada uma comissão com cinco mães e um pai, para entrar e servir de testemunhas de como está a situação dentro da unidade para os demais familiares. Eles saíram perplexos.

“Não dá para ver ninguém. Os pavilhões 1, 2 e 4 e a administração estão destruídos. Está sem luz. O que vi foi muito sangue pelo chão, tudo queimado, destruído. Cadeiras de mesas quebradas. Grades quebradas. Está tudo horrível. É necessário que a mãe tenha muita força para entrar e ver uma situação dessa. Mas eles estão bem”, disse a doméstica Marilene Maria da Silva, de 38 anos de idade.

Mas, mesmo com o relato dos pais, a decisão gerou descontentamento entre os demais familiares que esperavam para ver seu parente. Eles exigiam igual permissão. Reivindicavam informações sobre como estão os adolescentes após toda a confusão e alegavam que as pessoas escolhidas não seriam capazes de passar a informação de cada interno para familiares respectivos.

No fim do dia, a situação parecia está contornada, mas segundo uma agente penitenciária que preferiu não se identificar, o clima era de hostilidade. “Eles perguntam pela visita. Quando respondemos que não terá, eles perguntam se temos certeza disso, tentando nos intimidar”, informou. A direção da unidade informou que as visitas devem ser apenas no domingo (15), como acontece rotineiramente.

Durante a operação na Funase, foi necessário o reforço no policiamento com soldados da CIPCães. Do lado de fora, tinham duas viaturas do Samu, um caminhão de combate a incêndio e uma ambulância do Corpo de Bombeiros.

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