quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

DEU A LÓGICA

SUA SEGURANÇA | Humberto Trezzi - ZERO HORA 26/01/2012



Chega a dar um desânimo quando termina a leitura da exemplar série de reportagens de Adriana Irion e José Luís Costa. Ao deparar com o ponto final, o leitor fica com a nítida impressão de que, da Febem para a Fase, só mudou o nome.

A Febem – mais especificamente, os seus males – eu conheci bem. Em 1998, com as colegas Clarice Esperança e Eliane Brum, participei da elaboração de uma série de reportagens intitulada Casa dos Horrores, que eviscerava os chamados “lares de recuperação de menores” no Rio Grande do Sul. Podiam fazer de tudo, menos tornar humanos os jovens. A época era de conflito cotidiano entre infratores e funcionários das casas. O saldo desse clima de animosidade era de jovens incendiados, monitores mutilados e adolescentes torturados de forma sistemática. Após exaustivo rastreamento, descobrimos que nove adolescentes tinham morrido de forma misteriosa em apenas dois anos, entre os muros daquela instituição que deveria transformá-los em gente. Alguns, queimados. Outros, asfixiados. O resultado foi o indiciamento criminal de monitores e pessoas da direção da Febem por homicídio (acabaram absolvidos, posteriormente).

Em 2002, com o objetivo de mudar esse quadro de terror, surgiu a Fase. Visitei algumas unidades desde então e, justiça seja feita, a coisa melhorou. As rebeliões, que chegaram a ser semanais, não acontecem nem anualmente. Apela-se mais para quadras de esporte do que para celas de isolamento. Mas falta muito. As casas de recuperação, modelares, ficaram no papel (existem só duas). E os concursos para novos funcionários? Grande parte dos servidores é ainda do tempo da Febem. Com situação assim, o levantamento feito por Zero Hora só poderia dar no que deu: a lógica. Apenas dois nos quais é possível colocar um carimbo de recuperado. Até quando?

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