ZERO HORA 28 de julho de 2015 | N° 18240
EDITORIAIS
Nada é mais urgente, para centenas de crianças e adolescentes mantidos em abrigos públicos de Porto Alegre, do que uma resposta rápida das autoridades ao ambiente de terror instalado em algumas dessas casas. Reportagens publicadas por Zero Hora não deixam dúvida de que o setor público fracassa também na proteção a quem deveria ter o decidido acolhimento do Estado. Violência sexual, maus-tratos e outros delitos cometidos contra os internos expõem a face cruel de instituições e pessoas sustentadas pela sociedade para, em tese, socorrer quem já sofre o descaso das próprias famílias e ainda se defronta com possibilidades mínimas de um dia vir a ser beneficiado por uma adoção.
Mesmo que se considere que tais casos são exceção, em mais de cem abrigos da Capital, alguns mantidos por ONGs, que acolhem um total de 1,3 mil crianças e adolescentes, nada justifica o que foi constatado por investigações do Ministério Público. Fica exposta, em grande parte dos casos, uma combinação de violência e negligência, como revelam 32 das 59 sindicâncias conduzidas pelo MP a partir de julho do 2014. O índice de irregularidades em 54% dos abrigos demonstra que a estrutura não é apenas falha, mas delituosa e, nos casos menos graves, omissa em relação ao que acontece.
Outra constatação é de que não se trata de uma novidade. ZH já havia mostrado, em 2004, que situa- ções semelhantes se reproduziam nos abrigos. Esse não é um drama de responsabilidade apenas do MP e da Justiça. É, antes, uma questão a ser enfrentada pelos órgãos de governo responsáveis por uma área que não poderia falhar com as expectativas e os sonhos de quem depende basicamente dos governos estadual e municipal para continuar vivendo com dignidade.
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