domingo, 26 de julho de 2015

CASAS NADA ESPECIAIS



ZERO HORA 26 de julho de 2015 | N° 18238


VÍTIMAS DE ABRIGOS




Há pouco de esperança nos abrigos João-de-Barro e Quero-Quero, justo onde deveria estar a “derradeira oportunidade”. Na rede municipal, os dois são chamados de “Casas Especiais” pelo fato de terem sido concebidos para receber uma população diferenciada. Reúnem jovens que estão crescendo zanzando de abrigo em abrigo, muitos com histórico grave de uso de drogas, envolvimento em atos infracionais e transtornos de conduta. Não estão em regime de prisão. São adolescentes não-adotados nem colocados em novas famílias. Cresceram sob os cuidados do poder público. Ou sob a ausência deles.

O Quero-Quero funciona na frente de um movimentado ponto de tráfico de drogas, na zona sul da Capital. Todas as relações possíveis são ruins. Ou os jovens são fortemente atraídos por ganhos com a venda de drogas, ou satisfazem o vício com facilidade, ou se tornam alvo de ameaças, até de morte, por parte dos criminosos que moram do outro lado da rua.

A existência ali de um órgão público, que atrai a atenção de autoridades, não agrada aos chefes do tráfico. Vale registrar que as normas de proteção à infância ditam que os abrigos devem estar inseridos nas comunidades locais, tendo a participação de pessoas dessa população no processo educativo. O que nem sempre acontece.

Na mesma manhã de abril deste ano em que estiveram no JB, autoridades encontraram no Quero-Quero o cenário de desleixo similar.

Três adolescentes estão estirados em sofás olhando para um desenho incompreensível pela falta de qualidade na imagem da TV. Outros, jogam fla-flu na “área vip”, estimulados pelo cartaz que preconiza: “Quem acredita, sempre alcança”. Um recado cheio de significado para sujeitos de tantos direitos, tidos como prioridade de atenção absoluta de qualquer agente público. Mas será verdade?

Há adolescentes fumando, espalhados pelo pátio imenso, em meio a lixo acumulado, pedaços de móveis, colchões, fardos de papel higiênico jogados no chão. Uma funcionária explica que recém está assumindo e fala de um plano de atividades a serem ofertadas aos acolhidos. No pátio está o nome com a imagem da ave, pintado em uma parede para que ninguém esqueça que está nas dependências da casa especial Quero-Quero.

Devido a problemas com traficantes e a outras irregularidades, no dia 6 deste mês, o MP pediu que a Justiça desse prazo de cinco dias para a Fasc mudar o Quero-Quero de endereço. Na sexta, o pedido foi analisado pela Justiça e há 10 dias para a Fasc se manifestar a respeito dos pedidos.

DETALHE ZH

Para produzir essa reportagem, de dezembro a julho, ZH acompanhou o resultado das audiências realizadas pelas autoridades nos abrigos públicos de Porto Alegre.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA
- Uma nação sem justiça é uma nação perdida" alertavam os antigos mestres chineses. É uma vergonha um país enorme e rico como o nosso não ter um sistema de proteção das crianças e adolescentes em situação de risco. Assim, jovens "com histórico grave de uso de drogas, envolvimento em atos infracionais e transtornos de conduta" que deveriam ter a proteção e os cuidados do Poder público, crescem no desleixo, na insalubridade, na ausência e na omissão do Estado, a mercê das doenças, das drogas e do crime

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