CARTA DO EDITOR | Nilson Vargas – Editor-chefe
Zero Hora “adotou” o Filho da Rua. Não a pessoa, mas a causa. Ao lançar, no domingo passado, no caderno “Filho da Rua” e em conteúdo especial multimídia, a discussão sobre meninos e meninas que perambulam e muitas vezes dormem e moram pelas calçadas, deu um sinal claro do compromisso de não abandonar este tema.
Nossas armas não são a caneta do gestor público, ou o dom de injetar nas pessoas o vírus da máxima generosidade. Nosso poder de fogo está em ser um veículo de comunicação engajado nas causas da sociedade, sensível aos dramas humanos e disposto a fomentar o debate com uma matéria-prima preciosa: o jornalismo. O conteúdo já produzido e veiculado, resultado de um trabalho de três anos da repórter Letícia Duarte e do fotógrafo Jefferson Botega, acompanhando os passos do menino Felipe, foi o primeiro – e grande – movimento. Foi dali que extraímos dos leitores um volume impressionante de manifestações por e-mail, nas redes sociais, em pesquisas de opinião e em outros fóruns. Manifestações que chamam atenção pela emoção e pela lucidez.
Como não se emocionar com o drama de um guri que vê a infância indo embora, consumida pela pobreza, a droga e a falta de perspectivas? E, ao mesmo tempo, como não associar este drama individual a um pacote de circunstâncias coletivas que inclui desestrutura familiar, paternidade irresponsável, avanço do crack, precariedade da rede de proteção, falhas nos macroprogramas sociais, entre outras. No papel e nos meios digitais, Zero Hora alcançou o objetivo de chamar atenção para o tema.
A semana mal havia começado e um Painel RBS reunia autoridades e especialistas para discutir o assunto, com respaldo de todos os veículos do Grupo RBS. Depois do impacto da reportagem, a meta já era mirar em soluções. Ao longo da semana, novas reportagens em ZH e zerohora.com deram início à missão de mergulhar nos fatores que empurram crianças para as ruas. Uma destas reportagens está nesta edição e mostra que há, sim, saídas. Mesmo com precariedades, a rede de proteção formada por órgãos públicos e entidades da sociedade civil exibe razoável taxa de sucesso no resgate dos pequenos.
A missão não vai terminar, assim como, infelizmente, não há no horizonte perspectiva de que a ferida das crianças e adolescentes de rua seja curada. O assunto entra na lista permanente de pautas de Zero Hora. Novas reportagens já estão no forno, como a que vai debater o papel decisivo das famílias e outra que tratará de paternidade responsável. Outras abordagens virão, certamente. Afinal, um filho é para sempre.
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