quarta-feira, 14 de maio de 2014

PAI FOI O MENTOR, DIZ POLÍCIA



ZERO HORA 14 de maio de 2014 | N° 17796

PARTICIPARAM DESTA REPORTAGEM ADRIANA IRION, LETÍCIA COSTA E MAURÍCIO TONETTO.

CASO BERNARDO INQUÉRITO CONCLUÍDO

DELEGADOS LISTARAM INDÍCIOS contra Leandro Boldrini, a madrasta do menino e a amiga dela. Depoimentos, ligações interceptadas e uma receita médica pesam contra os três



Omenino Bernardo se queixava da falta de amor em casa. Ontem, ao apresentar suas conclusões sobre a morte do garoto de 11 anos, a Polícia Civil sustentou que não só a indiferença pesava no lar dos Boldrini em Três Passos.

Haveria um plano para excluir Bernardo da família, e, para os policiais, os mentores desse plano foram o pai da criança, o médico Leandro Boldrini, e sua mulher, Graciele Ugulini.

O casal teria planejado o assassinato de Bernardo e contado com a ajuda da assistente social Edelvânia Wirganovicz, motivada por oferta de dinheiro, para executá-lo.

– Eles mataram o menino na sexta-feira (4 de abril) e foram dizer que se deram conta (do desaparecimento dele) no domingo – afirmou a delegada Caroline Bamberg Machado, que conduziu as apurações por um mês.

O resultado foi um inquérito de 11 volumes e 2 mil páginas, enviado ontem à Justiça local. Chefe da Polícia Civil, Guilherme Wondracek foi a Três Passos avalizar o trabalho dos colegas, apresentado em uma entrevista coletiva:

– As provas são robustas. Há indícios para incriminar os três.

Detalhes registrados desde o começo das buscas ao menino ajudaram a polícia a montar o quebra-cabeça de um crime que teria sido premeditado. A investigação não indica quando o planejamento teria começado, mas há testemunhos indicando que Graciele chegou a falar a conhecidos sobre a vontade de se livrar de Bernardo depois de a criança ter ido ao Fórum, em 24 de janeiro, reclamar de desamor em casa e pedir para trocar de família.

Logo depois do suposto sumiço, a polícia recebeu informações de que Bernardo tinha uma vida familiar difícil e que a madrasta teria feito “maldade” com ele. Apesar dos relatos sobre o descuido em relação a Bernardo, o casal induziu a polícia a um cenário diferente, o que reforçou as suspeitas.

– Graciele iniciou contato com Edelvânia em fevereiro. Alguns dias antes, ela havia ido à cidade de Redentora e conversado com uma amiga, e lá disse que Leandro e ela queriam matar Bernardo – frisou o delegado Marion Volino.

Conforme a investigação, no dia em que seria morto, Bernardo foi bajulado pelo pai e pela madrasta. Graciele teria, inclusive, deixado que ele abraçasse a irmã de um ano e meio, algo sempre proibido na casa dos Boldrini. Segundo a delegada, Bernardo não viajaria com a madrasta espontaneamente. Caroline afirmou que o menino aceitou sair com Graciele porque ganharia um aquário. A versão conhecida até ontem era de que os dois foram a Frederico Westphalen para comprar uma TV. O aparelho foi de fato adquirido.

– Ele saiu para buscar um aquário, algo que ele queria muito – afirmou Caroline.


AS DÚVIDAS

Pontos que ainda dependem de investigações ou perícias

- Qual foi a participação de Evandro Wirganovicz, preso no último sábado, suspeito de ter aberto a cova em que seria enterrado Bernardo.

- Perícia na receita de midazolam supostamente assinada por Leandro Boldrini e em nome de Edelvânia. Ela usou a prescrição para comprar o comprimido em Frederico Westphalen.

- Resultado da perícia sobre a substância que teria sido injetada no braço do menino e causado sua morte. Já foi apontado pela perícia que havia midazolam no corpo de Bernardo.

- Perícia em roupas e calçados das mulheres suspeitas para verificar eventual presença de resíduos de soda cáustica.

- Análise das informações resultantes de quebra do sigilo financeiro dos suspeitos.



Defesa contesta provas contra Boldrini

Representante do pai de Bernardo avalia que delegada deu opinião pessoal e reitera não haver comprovação do envolvimento do médico.


A tese da Polícia Civil de que Leandro Boldrini foi mentor da morte do filho não mudou a convicção do advogado dele, Jader Marques, de que as provas são frágeis. Desde a prisão, o defensor vinha tentando demonstrar que o médico amava o filho, uma estratégia para enfraquecer a imagem de pai omisso e ausente.

– Depois de anunciar que apresentaria provas, a delegada concluiu o inquérito manifestando apenas a sua opinião pessoal. Nada aponta para a conclusão de participação do pai – disse Marques.

O advogado nega suposto acerto entre as defesas para livrar Boldrini. Na segunda-feira, ZH revelou que escutas telefônicas faziam parte dos indícios reunidos pela polícia. Em conversas entre familiares do médico, foi dito que estava “acertado entre os três advogados” que as duas mulheres não implicariam Boldrini. Os diálogos indicariam que, em troca, o médico, com renda mensal em torno de R$ 40 mil, sustentaria ambas.

Os defensores de Edelvânia Wirganovicz e Graciele Ugulini não foram localizados ontem. Os dois têm sustentado que não houve premeditação. Graciele, ao depor à polícia, disse que a morte foi acidental, e que a amiga só ajudou a enterrar o corpo. O advogado de Edelvânia colocou a confissão dela sob suspeita, por ter ocorrido sem a presença de advogado, e disse que ela só ocultou o corpo.

QUARTO SUSPEITO NÃO FOI INDICIADO

Como o prazo da prisão temporária de Boldrini, Graciele e Edelvânia venceu ontem, a polícia pediu a preventiva dos três, o que foi aceito pela Justiça. Com isso, pai, madrasta e a amiga dela podem ficar presos durante todo o processo, se for preciso. O juiz Marcos Luís Agostini também levantou o segredo de justiça no inquérito.

Irmão de Edelvânia, o motorista de caminhão Evandro Wirganovicz, cumpre prisão temporária desde sábado por suspeita de envolvimento, mas ainda está sob investigação e não foi indiciado. Ele é suspeito de ter aberto a cova.



Pela manhã, antes da divulgação sobre o desfecho da apuração, passeata cobrou punição de responsáveis

EVIDÊNCIAS APRESENTADAS CONTRA OS TRÊS SUSPEITOS


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