ZERO HORA 10/05/2014 | 06h01
Confissão feita pela amiga da madrasta à polícia foi gravada. Polícia considera material uma prova de que Edelvânia Wirganovicz abriu mão de ter um advogado quando depôs
por Adriana Irion
A defesa de Edelvânia nega que o crime tenha sido premeditado e tenta invalidar o relato dado por ela aos policiaisFoto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Um dos principais trunfos da Polícia Civil para desvendar a morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, o depoimento da assistente social Edelvânia Wirganovicz consta no inquérito com gravação e filmagem. O material comprovaria que a amiga da madrasta abriu mão de ter advogado ao ser ouvida.
Depois de Edelvânia ter confessado o planejamento e a execução do crime e ter apontado onde estava o corpo, a defesa dela questionou a validade do relato por ter sido tomado sem advogado. Por trás da estratégia de invalidar o relato, estaria a tentativa de minimizar a responsabilidade de Edelvânia e da madrasta, Graciele Ugulini.
Basicamente, a defesa da assistente social negou que o crime tenha sido premeditado e que ela tenha participado. Teria apenas ajudado Graciele a enterrar o corpo. Na mesma linha, a madrasta também negou premeditação ao depor. Admitiu ter matado Bernardo, mas sustentou ter sido por “acidente”, por exagerar na dose ao dar remédios para acalmá-lo. Ao perceber que estava morto, teria tido ajuda da amiga para enterrá-lo.
Além de ter a gravação indicando que Edelvânia foi avisada de seus direitos, como o de ter um advogado ou ficar em silêncio, a polícia montou, a partir da confissão, um roteiro de como o crime ocorreu. Está comprovado, por exemplo, que a pá e a cavadeira usadas para fazer a cova foram compradas dois dias antes do crime.
Testemunhas reconheceram a assistente social como a pessoa que fez a compra. Na loja onde foi adquirida a soda cáustica que teria sido usada sobre o corpo, a polícia localizou um ticket de caixa indicando a venda daquele produto no mesmo horário registrado por Edelvânia no depoimento.
A soda foi comprada minutos antes das ferramentas. Edelvânia também deu à polícia o nome do remédio que Graciele teria feito Bernardo tomar, o Midazolam. A perícia confirmou a presença da medicação no corpo do garoto.
O que a assistente social revelou
Sondagem e críticas: pelo relato de Edelvânia, a madrasta Graciele Ugulini planejava há muito tempo a morte do enteado, considerado um “incômodo” na vida do casal. Teria dito, até, que o menino era “ruim, que era difícil de lidar e que brigava até com o pai”.
A proposta: após a conversa, disse Edelvânia, Graciele teria afirmado que tinha bastante dinheiro e que se a amiga a ajudasse a dar um sumiço em Bernardo lhe daria dinheiro e ajudaria a pagar o apartamento dela.
Plano traçado: Edelvânia disse que em 2 de abril Graciele teria revelado o plano: dopar o menino e aplicar uma injeção letal. Teria pedido um local para “consumir” o corpo. As duas teriam ido ao interior de Frederico Westphalen e começado a cavar com uma enxada de Edelvânia.
Compra de ferramentas: Graciele e Edelvânia teriam decidido comprar outras ferramentas, além de um produto para “diluir rápido o corpo e que não desse cheiro”. As ferramentas, uma pá e uma cavadeira, foram apreendidas na casa da mãe de Edelvânia.
Despiste ao garoto: segundo Edelvânia, Bernardo rumou para a morte depois de sair da escola acreditando que ganharia uma TV e que faria uma consulta com uma “benzedeira”.
“Piquezinho na veia”: no veículo da assistente social, Bernardo teria recebido uma dose de Midazolam e ouvido da madrasta que, antes de consultar com a benzedeira, precisava levar um “piquezinho na veia”. A injeção teria sido aplicada logo depois. Edelvânia relatou que a madrasta aplicou-a na veia do braço esquerdo com uma seringa e “ele foi apagando”.
Ocultação do corpo: após tirar a roupa e os tênis — que foram colocadas no lixo —, as duas teriam enterrado o menino na cova antes sem conferir se ele estava vivo (depois, a perícia comprovou que ele já estava morto).
Pagamento antecipado: Edelvânia disse que recebeu, no dia 2, R$ 6 mil de Graciele. O acerto seria R$ 20 mil, mas ela teria se disposto, depois, a pagar o que faltava para quitar o apartamento da amiga. A assistente social garantiu que só ela e Graciele sabiam do fato.
Relembre o caso
Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.
De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia.Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.
Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.
Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini — que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município —, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.
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