quinta-feira, 29 de maio de 2014

COLAPSO SOCIAL


JORNAL DO COMÉRCIO 29/05/2014

Katy Ziegler Hias


Estamos diante de um colapso social que se apresenta todos os dias na nossa frente e a sociedade continua não querendo enxergar e pior, banalizando a violência sob todas as formas. Estamos todos paralisados, engessados, frente às crueldades como no caso do menino Bernardo. Demonstrando claramente uma sociedade doente, que permite que uma criança peça socorro às autoridades e não seja atendida, no seu maior e mais legítimo direito, que é o de ser cuidada. O uso abusivo de álcool pelos adolescentes, a nudez em festas de jovens mostram a nós, pais e cidadãos, nossa omissão e cumplicidade com a impunidade e com o descaso com os valores centrais de moral e família. Vivemos um período de transição social, de padrões culturais que fazem com que hoje não saibamos mais o que é certo ou errado, nos levando a uma relativização de tudo ao nosso redor.

Acredito que devamos começar dentro das nossas casas, com nossas famílias, não permitindo que nossos jovens filhos convivam com valores distorcidos e distantes do maior alicerce do caráter do ser humano, a moral. A rotina desenfreada das famílias hoje está fazendo com que deixemos de transmitir ensinamentos básicos de amor, de integridade, de generosidade e de empatia, que são os responsáveis pela construção de um adulto amoroso, solidário, com senso crítico e com capacidade de discernimento. Chega de achar que é moderno ou que é diferente por ser de outra geração. Não podemos mais confundir liberdade com ausência de limites. A sociedade atual vive um caos na sua maior essência, como formadora de valores no ser humano. Estamos próximos de sucumbir como “humanos”, pois de humanização é o que mais carecem as relações.

Rogo a todos para que façamos nossa parte e saiamos desta apatia e, por que não, covardia! Se cada um de nós abandonar a inércia poderemos, juntos, realizar uma grande mudança. Como cidadã, psicóloga e, principalmente, mãe, clamo a todos. Vamos à luta!


Psicóloga e terapeuta de família

A COPA E OS DIREITOS DAS CRIANÇAS




ZERO HORA 29 de maio de 2014 | N° 17811
ARTIGO


Mariza Alberton*




Durante a Copa 2014, temos a considerar o inevitável risco da violação dos direitos de crianças e adolescentes. Grande número de estrangeiros há de vir ao Brasil e nem sempre suas motivações para visitar o país tropical estarão voltadas para o turismo sadio, nem para o espetáculo futebolístico. Mas não podemos culpar apenas os “gringos” que aqui aportarão por ocasião deste megaevento! Uma legião de brasileiros também circulará pelo nosso país e, muitos, com segundas intenções. Nossas crianças e adolescentes estarão em situação de risco..

Devemos sempre nos antecipar às situações desfavoráveis para fazer frente aos problemas e poder construir estratégias de ações positivas. No contexto do megaevento esportivo que o Brasil em breve sediará, a situação não pode ser diferente! Prevenir é sempre melhor do que remediar. Sendo assim, devemos evitar toda e qualquer situação que possa possibilitar violação dos Direitos Humanos de meninas e meninos. Para mobilizar e fortalecer as redes locais, articular e monitorar as ações, captar recursos, construir estratégias de intervenção e realizar planejamentos, já estamos há bastante tempo nos preparando. A Agenda de Convergência, construída pela ação conjunta das redes nacionais de promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, governo federal e por organismos internacionais, é uma importante ferramenta para estabelecer ações de proteção e defesa em favor da infância brasileira. A partir desta agenda, foram estabelecidos compromissos compactuados pelos gestores municipais das cidades-sede da Copa 2014 com a União e os respectivos Estados.

Em 2013, transformamos a Jornada Estadual contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes em espaço privilegiado para debater com as redes locais os legados da Copa para o nosso país, levantando problemas e apontando soluções. Coroando esta experiência, realizamos o evento “Por um Futuro Campeão” nesta quinta-feira, dia 29 de maio, às 18h30min, no Teatro do Sesc, em Porto Alegre. O objetivo é apresentar alternativas para garantia dos direitos de crianças e adolescentes durante a Copa.


PROFESSORA, ESPECIALISTA NA ÁREA DA VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES


sábado, 17 de maio de 2014

ESQUECER É PERMITIR. LEMBRAR É COMBATER


ZERO HORA 17 de maio de 2014 | N° 17799 ARTIGO


por Maria do Rosário*



Enfrentar esse e outros crimes abomináveis é uma tarefa urgente em qualquer época, mas ainda mais atualmente, quando desafiam nossos maiores pesadelos, como a violência sofrida por Bernardo Boldrini, Isabela Nardoni e tantas outras crianças. A indiferença não é possível diante de tais atrocidades e a impunidade contribui para que ainda mais crianças vivenciem os riscos da violência.

No combate à exploração sexual, conquistamos importantes leis. Desde 2009, promovemos uma profunda mudança no Código Penal quanto aos crimes sexuais, reconhecendo os pedidos de ajuda das vítimas em todo o Brasil. Isso permitiu, por exemplo, a responsabilização dos envolvidos em várias redes de exploração sexual, como a que agia a partir de Coari (AM).

A mudança na lei sempre teve como objetivo enfrentar a lógica pela qual a criança ou adolescente são tratados como responsáveis dessa violência. É preciso compreendermos que a criança não se prostitui, mas que pela via da violência sexual e psicológica ela é instrumentalizada e destruída pelo adulto violador. Nesta semana tivemos mais um avanço na lei: foi aprovado o projeto de lei 7.220/14, que inclui a exploração sexual de crianças, adolescentes e pessoas com deficiência entre os crimes hediondos.

Ainda que muitas vezes a lei sobre crimes hediondos possa ser questionada, esta inclusão pode contribuir para uma maior atenção de todos os agentes do Direito, oferecendo prioridade ao enfrentamento desse crime. Aliás, não apenas as leis, mas uma sociedade movida por princípios éticos exige que as autoridades escutem as crianças, ajam a seu favor, percebam qual é o seu melhor interesse e jamais se omitam.


DEPUTADA FEDERAL (PT)

sexta-feira, 16 de maio de 2014

CONSELHOS TUTELARES RECEBEM REFORÇOS


ZERO HORA 16 de maio de 2014 | N° 17798


MELHORES CUIDADOS

Microrregiões ganharam carros, equipamentos e esperam dobrar atendimento para o próximo ano



O reforço aos Conselhos Tutelares de Canoas faz jus à demanda da população, com a entrega de dois carros, equipamentos (computadores, impressoras, eletrodomésticos, bebedouro e geladeira) e um veículo adaptado para transportar cadeirantes, que será utilizado por todos os conselhos municipais de direito.

Os dois Conselhos Tutelares atendem a mais de mil denúncias por mês. O crescimento da demanda, segundo a secretária do Desenvolvimento Social, Maria Eunice, reforça o debate a respeito da criação de mais dois conselhos na cidade. Assim, Canoas teria, ao todo, 20 conselheiros tutelares, sendo cinco para cada uma das quatro microrregiões.

– Esperamos que a Câmara de Vereadores aprove o projeto até a metade deste ano, para que em 2015 já possamos contar com eleição para quatro, e não mais dois, conselhos – afirma a secretária.

- Veículos novos evitam a terceirização do transporte

Os veículos e os equipamentos são parte do Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Tutelares, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Já a kombi adaptada ao transporte de cadeirantes é investimento da prefeitura. Para a conselheira Flávia Gonçalves, da microrregião 2, o reforço é importante, principalmente na informatização dos atendimentos e nos acompanhamentos das crianças e dos adolescentes.

Segundo Carla Dorneles, conselheira da microrregião 1, que inclui o bairro Mathias Velho, um dos mais populosos de Canoas, os veículos facilitam o acompanhamento de situações de vulnerabilidade social, além de evitarem a terceirização do transporte.

DISQUE 100

Serviço de atendimento telefônico gratuito de denúncia de violação de direitos de crianças ou adolescentes, especialmente em casos de abuso ou exploração sexual

DISQUE 181

Disque denúncia estadual (mesma função do Disque 100)

Micro I

Rua Victor Kessler, 131, Centro

Telefone: 3472-3344

Atendimento se dá por agendamento, das 8h às 18h, de segunda a quinta-feira

Micro II

Rua Santos Ferreira, 1.058, bairro Marechal Rondon

Telefone: 3476-9709

Atendimento ao público de segunda a quinta-feira, das 8h às 18h

MATAMOS NOSSAS CRIANÇAS TODOS OS DIAS


ZERO HORA 16 de maio de 2014 | N° 17798 ARTIGO

por Luciana Suárez Grzybowski*



Matamos nossas crianças todos os dias... quando elas não são nossa prioridade, nem individual, nem familiar, nem social ou política! Matamos nossas crianças quando trabalhamos demais e terceirizamos os cuidados em excesso... quando superprotegemos e não deixamos que possam “ser”... Matamos nossas crianças quando negligenciamos sua fala e abusamos do seu corpo... quando não lhes damos as mínimas condições de sobrevivência... Matamos nossas crianças quando lhes damos muitas coisas que podemos comprar, mas não lhes damos nosso tempo, nossa convivência e nosso amor.

É, matamos nossas crianças todos os dias! Quando não desejamos tê-las e não conseguimos, na graça do cotidiano, transformar esse vínculo... matamos nossas crianças quando as sufocamos com nossos desejos e planos, impedindo que seu “eu” possa emergir. Quando a política pública para a infância é desqualificada, subinvestida e desprestigiada. Matamos nossas crianças quando esperamos delas mais do que podem dar, fazer ou falar, ou quando não esperamos nada, não as ouvimos e não as deixamos acontecer.

É, matamos nossas crianças todos os dias! Quando nossa atenção está condicionada à sua cor, sexo e status social, e não tão somente à singularidade do seu ser. Matamos nossas crianças quando usamos a violência física e psicológica e destruímos seus mais belos sonhos infantis. Matamos nossas crianças ao darmos rotina de adulto, não as deixando brincar, seja enchendo de atividades extraclasse ou fazendo-as trabalhar. Quando não ficamos com elas, não olhamos nos seus olhos, não as abraçamos, não as beijamos, não estamos juntos!

Matamos nossas crianças quando não valorizamos o que pensam, sentem e dizem... ou quando as deixamos ser os “tiranos” do lar. Matamos nossas crianças sempre que elas tornam-se “um meio para” e não “o fim em si próprio”. É, matamos nossas crianças todos os dias! Sim, matamos nossas crianças quando as infantilizamos ou as robotizamos demais... Matamos nossas crianças todos os dias, de uma ou outra forma, mas sempre que não olhamos com ternura seu esplendor e sua potência de vida.

*PSICÓLOGA CLÍNICA, PROFESSORA (UFCSPA)

quinta-feira, 15 de maio de 2014

O DESCASO DIANTE DE UMA POSSÍVEL CONDENAÇÃO

Promotores do MP concedem entrevista em Três
Passos (Foto: Estêvão Pires/G1)


Do G1 RS 15/05/2014 18h22

'Não tenho dúvida', diz familiar sobre pai de Bernardo ser mentor; ouça. MP liberou parte das escutas telefônicas durante coletiva; ouça os áudios. Órgão denunciou pai, madrasta, amiga e seu irmão como culpados.

Estêvão Pires


O Ministério Público do Rio Grande do Sul liberou parte das escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Civil durante as investigações da morte do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, em Três Passos, na Região Noroeste. Uma das interceptações mostram uma conversa do padrasto de Graciele Ugulini, madrasta do menino, Sérgio, confirmando o envolvimento do genro no crime. Os áudios foram uma das provas apresentadas durante o inquérito policial (escute ao lado).

Em coletiva de imprensa, na tarde desta quinta-feira (15), o MP denunciou o pai Leandro Boldrini, a madrasta Graciele Ugulini, a assistente social Edelvânia Wirganovicz e o seu irmão, Evandro Wirganovicz. Veja a íntegra da denúncia aqui.

"O mentor ideológico é ele [Leandro Boldrini]. Eu não tenho dúvida disso. Essa certeza que a delegada tem eu também tenho", fala Sérgio, pai da madrasta de Bernardo. Nas conversas, ele fala ainda sobre o depoimento da filha inocentando o médico. "Ele vai acabar saindo, né. Ela inocentou ele, mas acho que isso aí é jogo dos advogados", afirma. No áudio, Sergio conversa com uma mulher que ele chama de Magali, mas que ainda não foi identificada pelo MP.

Para a promotora, a frase de Sérgio é uma prova importante da investigação. “Essa foi a frase mais clara de todo o diálogo”, afirmou a promotora.

Bernardo Boldrini foi encontrado morto no dia 14 de abril, enterrado em um matagal em Frederico Westphalen, no norte gaúcho, a cerca de 80 km de Três Passos, onde morava com o pai, a madrasta Graciele Ugulini e a meia-irmã. Ele estava desaparecido desde 4 de abril. Leandro, Graciele, a assistente social Edelvania Wirganovicz e seu irmão Evandro Wirganovicz estão presos. Os três primeiros foram indiciados por homicídio qualificado, e a participação do quarto ainda é investigada.

Veja o diálogo entre Sérgio e mulher que ele chama de Magali:

Sérgio: Nada me faz pensar diferente. Até pelas cinco, seis vezes que eu convivi ajudando na procura do Bernardo, que eu convivi com o Leandro...
Magali: Leva a crer e ter certeza de que...
Sérgio: Que o mentor ideológico é ele. Eu não tenho dúvida disso.
Magali: Com certeza.
Sérgio: E ele vai acabar saindo. Ela inocentou ele, né, no depoimento.
Magali: Isso que eu não entendi porquê.
Sérgio: Acho que é jogo dos advogados.
Magali: Mas tu viu que a delegada tem certeza do envolvimento dele. Alguma coisa ela tem que que ter.
Sérgio: Mas a certeza que ela tem, eu também tenho.


Familiares falam sobre Graciele inocentar o marido

Em outro áudio apresentado, Sérgio discute com o filho Leonardo sobre a carta que Graciele enviou, inocentando o marido. Segundo o padrasto, os advogados de defesa realizaram uma reunião para discutir estratégias. Ele volta a reafirmar o envolvimento de Leandro no homicídio (escute ao lado).

Veja o diálogo entre Sérgio e o filho:

Leonardo: Ô pai, mas o Leandro tem a ver, né?
Sérgio: Claro, mas ela mandou uma carta ontem pra Simone inocentando ele. Mas, os advogados se reuniram na semana passada para ver uma estratégia para ele sair de tudo, né, e ela fica pagando lá e depois dá um jeito.
Leonardo: Vai ficar 10 anos, né?
Sérgio: Não fica 10. Fica cinco, seis anos. Porque vai cada dia trabalhado, três dias trabalhado desconta um.
Leonardo: É, então se fica 10 anos, vai descontando, fica sete.
Sérgio: Aí, fica sete, né.
Leonardo: Depois mais o bom comportamento, e tal, vai pro semi-aberto.


Irmã de Graciele diz que Leandro fez "lavagem cerebral" na mulher

Em uma outra gravação interceptada pela polícia, a irmã de Graciele, Simone Ugulini, conversa com uma pessoa não identificada. As duas mulheres falam que Leandro pode ter feito uma “lavagem cerebral” com a Keli, apelido da madrasta de Bernardo. Citam ainda que ele deve ter enlouquecido ela como fez com Odilaine, a ex-esposa, mãe do garoto, que se suicidou em 2010 (ouça ao lado).

Veja o diálogo entre Simone e uma amiga não identificada:

Mulher não identificada: Ele “pilhou” a Keli...
Simone: Não, a Keli não é assim. A gente conhece a minha irmã.
Mulher não identificada: Ele enlouqueceu ela, Simone, como deve ter enlouquecido a Odilaine. Não sei… uma lavagem cerebral. Ele deve ter enlouquecido ela como enlouqueceu a outra.
Simone: É...
Mulher não identificada: Sei lá o que ele faz… Não sei, não sei…
Simone: Lavagem cerebral.

Além dos áudios apresentados, Dinamárcia falou também da troca de SMS e contatos telefônicos entre Edelvania e Graciele. Nos telefonemas, elas inventam um álibi em Frederico Westphalen para justificar a ida da madrasta de Bernardo para lá. "É uma riqueza de detalhes que mostra com clareza o envolvimento das duas", afirma a promotora.


Ministério Público denuncia pai por falsidade ideológica

Leandro, Graciele e Edelvânia responderão por homicídio quadruplamente qualificado (motivos torpe e fútil, emprego de veneno e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Evandro também foi acusado de envolvimento no assassinato e ocultação de cadáver. O pai foi denunciado, ainda, por falsidade ideológica.

A promotora Dinamárcia Maciel e o subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Marcelo Dornelles participaram da entrevista coletiva. O anúncio ainda foi acompanhado pela delegada Caroline Bamberg Machado, titular da Delegacia de Polícia de Três Passos e responsável pelo inquérito que apurou o caso, além da delegada Cristiane de Moura e Silva Bauss, titular da Delegacia Regional de Três Passos, que também auxiliou nas investigações.

Durante a coletiva foi anunciada a transferência de Dinamárcia para São Luiz Gonzaga. Ela vai deixar a Promotoria de Três Passos. Com isso, o nome da nova promotora do caso será divulgado ainda nesta quinta-feira (15).

Denunciados pelo Ministério Público:

Leandro Boldrini: atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ele também auxiliou na compra do remédio Midazolan em comprimidos, fornecendo a receita azul. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune. Ele responderá também por falsidade ideológica por ter registrado um boletim de ocorrência com informação falsa, já que, segundo o MP, ele sabia da localização do filho.

Graciele Ugulini: mentora e executadora do delito de homicídio, bem como da ocultação do cadáver.

Edelvânia Wirganovicz: executora do delito de homicídio e da ocultação do cadáver.

Evandro Wirganovicz: envolvimento no homicídio e ocultação de cadáver.

Qualificadores:

Motivo torpe: uma vez que Leandro e Graciele não queriam partilhar com Bernardo os bens deixados pela mãe da criança. Em relação à Edelvânia, a torpeza fica evidenciada, conforme a denúncia, pelo fato de ela ter aceitado participar do homicídio mediante paga ou recompensa. Ela recebeu de Graciele a quantia de R$ 6 mil, além da promessa de auxílio financeiro para aquisição de um imóvel.

Motivo fútil: já que Bernardo era filho do casamento anterior de Leandro, ele representava “um estorvo” para a nova unidade familiar estabelecida entre o pai e a sua madrasta, conforme a denúncia.

Emprego de veneno: segundo o MP, os acusados ministraram superdosagem do Midazolam a Bernardo.

Dissimulação e recurso que dificultou a defesa da vítima: Bernardo, sem condições de saber das intenções homicidas, foi conduzido até Frederico Westphalen e recebeu superdosagem, via oral e intravenosa, do medicamento.

Menino de 11 anos foi encontrado morto, enterrado
em um matagal (Foto: Reprodução/RBS TV)

Entenda

Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No domingo (6), o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.

No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.

"O menino estava no banco de trás do carro e não parecia ameaçado ou assustado. Já a mulher estava calma, muito calma, mesmo depois de ser multada", relatou o sargento Carlos Vanderlei da Veiga, do CRBM. A madrasta informou que ia a Frederico Westphalen comprar um televisor.

O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. Na segunda-feira (14), o corpo do garoto foi localizado. De acordo com a delegada responsável pela investigação, o menino foi morto por uma injeção letal, o que ainda precisa ser confirmado por perícia. A delegada diz que a polícia tem certeza do envolvimento do pai, da madrasta e da amiga da mulher no sumiço do menino, mas resta esclarecer como se deu a participação de cada um.

EXPLORAÇÃO SEXUAL VIRA CRIME HEDIONDO


ZERO HORA 15 de maio de 2014 | N° 17797


INFÂNCIA / PROTEÇÃO AMPLIADA



Deputados aprovaram ontem à noite projeto de lei que transforma em hediondo o crime de exploração sexual de crianças e adolescentes, impedindo o condenado de obter anistia, graça ou indulto ou pagar fiança. A proposta, que veio do Senado, será enviada agora para sanção da presidente Dilma Rousseff.

Pelo projeto, a pena prevista em caso de “favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável” é de quatro a 10 anos de reclusão, aplicável também a quem facilitar essa prática ou impedir ou dificultar o seu abandono pela vítima.

O projeto estipula como exploração sexual de criança e adolescentes a utilização destes em atividades sexuais remuneradas, a pornografia infantil e a exibição em espetáculos sexuais públicos ou privados. A medida também define que o crime ocorre mesmo que não haja ato sexual propriamente dito, mas qualquer outra forma de contato ou atividade erótica que implique proximidade física e sexual entre a vítima e o explorador.

– É por isso que se diz que a criança ou adolescente foi explorada, e nunca prostituída, pois ela é vítima de um sistema de exploração comercial de sua sexualidade – argumentou a relatora do projeto, deputada Benedita da Silva (PT-RJ).

De acordo com o deputado Domingos Dutra (Solidariedade-MA), além da aprovação da lei, é preciso que o Estado seja mais ágil na investigação e punição dos criminosos:

– Do contrário, aprovamos uma boa lei, mas que não vai dar uma boa resposta em razão da ineficiência do Estado.

MP VAI DENUNCIAR PAI, MADRASTA E AMIGA POR ASSASSINATO DE BERNARDO



ZERO HORA 15 de maio de 2014 | N° 17797


ADRIANA IRION


CASO BERNARDO CRIME PLANEJADO

Pai, madrasta e amiga vão ser denunciados pelo MP

PROMOTORIA ANALISOU inquérito policial e concluiu que os três tiveram envolvimento direto no assassinato e na ocultação do corpo do menino



O Ministério Público (MP) denunciará hoje o médico Leandro Boldrini, a mulher dele, Graciele Ugulini, e a assistente social Edelvânia Wirganovicz por homicídio qualificado e ocultação de cadáver de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos.

Assim como a Polícia Civil, o MP tem convicção de que Boldrini, pai do menino, participou da trama para matar o filho. A denúncia será entregue à Justiça, em Três Passos. A promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira está preparando a acusação desde terça-feira, quando a polícia encaminhou à Justiça a conclusão da investigação. Mas ela já acompanhava o caso desde o registro do sumiço de Bernardo, em 6 de abril.

O garoto foi morto e enterrado dois dias antes, em Frederico Westphalen. A delegada Caroline Bamberg Machado, ao concluir o inquérito, indiciou os três suspeitos por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Eles estão presos desde 14 de abril.

Como o MP não está condicionado ao indiciamento feito pela polícia, não está descartado que outro delito seja imputado a algum dos três acusados.

Durante entrevista coletiva que será concedida hoje à tarde, com participação do subprocurador-geral de Justiça para Assuntos Institucionais, Marcelo Dornelles, o MP deve apresentar áudios de diálogos captados na investigação.

Há, no entendimento da promotoria, conversas que comprometem o pai e que provariam a participação dele no homicídio. A polícia também destacou diálogos gravados como evidências do envolvimento de Boldrini no crime.

A partir de agora, a denúncia será analisada pelo juiz Marcos Luís Agostini, que pode ou não acatá-la. Se a acusação for aceita, os denunciados viram réus.




quarta-feira, 14 de maio de 2014

PAI FOI O MENTOR, DIZ POLÍCIA



ZERO HORA 14 de maio de 2014 | N° 17796

PARTICIPARAM DESTA REPORTAGEM ADRIANA IRION, LETÍCIA COSTA E MAURÍCIO TONETTO.

CASO BERNARDO INQUÉRITO CONCLUÍDO

DELEGADOS LISTARAM INDÍCIOS contra Leandro Boldrini, a madrasta do menino e a amiga dela. Depoimentos, ligações interceptadas e uma receita médica pesam contra os três



Omenino Bernardo se queixava da falta de amor em casa. Ontem, ao apresentar suas conclusões sobre a morte do garoto de 11 anos, a Polícia Civil sustentou que não só a indiferença pesava no lar dos Boldrini em Três Passos.

Haveria um plano para excluir Bernardo da família, e, para os policiais, os mentores desse plano foram o pai da criança, o médico Leandro Boldrini, e sua mulher, Graciele Ugulini.

O casal teria planejado o assassinato de Bernardo e contado com a ajuda da assistente social Edelvânia Wirganovicz, motivada por oferta de dinheiro, para executá-lo.

– Eles mataram o menino na sexta-feira (4 de abril) e foram dizer que se deram conta (do desaparecimento dele) no domingo – afirmou a delegada Caroline Bamberg Machado, que conduziu as apurações por um mês.

O resultado foi um inquérito de 11 volumes e 2 mil páginas, enviado ontem à Justiça local. Chefe da Polícia Civil, Guilherme Wondracek foi a Três Passos avalizar o trabalho dos colegas, apresentado em uma entrevista coletiva:

– As provas são robustas. Há indícios para incriminar os três.

Detalhes registrados desde o começo das buscas ao menino ajudaram a polícia a montar o quebra-cabeça de um crime que teria sido premeditado. A investigação não indica quando o planejamento teria começado, mas há testemunhos indicando que Graciele chegou a falar a conhecidos sobre a vontade de se livrar de Bernardo depois de a criança ter ido ao Fórum, em 24 de janeiro, reclamar de desamor em casa e pedir para trocar de família.

Logo depois do suposto sumiço, a polícia recebeu informações de que Bernardo tinha uma vida familiar difícil e que a madrasta teria feito “maldade” com ele. Apesar dos relatos sobre o descuido em relação a Bernardo, o casal induziu a polícia a um cenário diferente, o que reforçou as suspeitas.

– Graciele iniciou contato com Edelvânia em fevereiro. Alguns dias antes, ela havia ido à cidade de Redentora e conversado com uma amiga, e lá disse que Leandro e ela queriam matar Bernardo – frisou o delegado Marion Volino.

Conforme a investigação, no dia em que seria morto, Bernardo foi bajulado pelo pai e pela madrasta. Graciele teria, inclusive, deixado que ele abraçasse a irmã de um ano e meio, algo sempre proibido na casa dos Boldrini. Segundo a delegada, Bernardo não viajaria com a madrasta espontaneamente. Caroline afirmou que o menino aceitou sair com Graciele porque ganharia um aquário. A versão conhecida até ontem era de que os dois foram a Frederico Westphalen para comprar uma TV. O aparelho foi de fato adquirido.

– Ele saiu para buscar um aquário, algo que ele queria muito – afirmou Caroline.


AS DÚVIDAS

Pontos que ainda dependem de investigações ou perícias

- Qual foi a participação de Evandro Wirganovicz, preso no último sábado, suspeito de ter aberto a cova em que seria enterrado Bernardo.

- Perícia na receita de midazolam supostamente assinada por Leandro Boldrini e em nome de Edelvânia. Ela usou a prescrição para comprar o comprimido em Frederico Westphalen.

- Resultado da perícia sobre a substância que teria sido injetada no braço do menino e causado sua morte. Já foi apontado pela perícia que havia midazolam no corpo de Bernardo.

- Perícia em roupas e calçados das mulheres suspeitas para verificar eventual presença de resíduos de soda cáustica.

- Análise das informações resultantes de quebra do sigilo financeiro dos suspeitos.



Defesa contesta provas contra Boldrini

Representante do pai de Bernardo avalia que delegada deu opinião pessoal e reitera não haver comprovação do envolvimento do médico.


A tese da Polícia Civil de que Leandro Boldrini foi mentor da morte do filho não mudou a convicção do advogado dele, Jader Marques, de que as provas são frágeis. Desde a prisão, o defensor vinha tentando demonstrar que o médico amava o filho, uma estratégia para enfraquecer a imagem de pai omisso e ausente.

– Depois de anunciar que apresentaria provas, a delegada concluiu o inquérito manifestando apenas a sua opinião pessoal. Nada aponta para a conclusão de participação do pai – disse Marques.

O advogado nega suposto acerto entre as defesas para livrar Boldrini. Na segunda-feira, ZH revelou que escutas telefônicas faziam parte dos indícios reunidos pela polícia. Em conversas entre familiares do médico, foi dito que estava “acertado entre os três advogados” que as duas mulheres não implicariam Boldrini. Os diálogos indicariam que, em troca, o médico, com renda mensal em torno de R$ 40 mil, sustentaria ambas.

Os defensores de Edelvânia Wirganovicz e Graciele Ugulini não foram localizados ontem. Os dois têm sustentado que não houve premeditação. Graciele, ao depor à polícia, disse que a morte foi acidental, e que a amiga só ajudou a enterrar o corpo. O advogado de Edelvânia colocou a confissão dela sob suspeita, por ter ocorrido sem a presença de advogado, e disse que ela só ocultou o corpo.

QUARTO SUSPEITO NÃO FOI INDICIADO

Como o prazo da prisão temporária de Boldrini, Graciele e Edelvânia venceu ontem, a polícia pediu a preventiva dos três, o que foi aceito pela Justiça. Com isso, pai, madrasta e a amiga dela podem ficar presos durante todo o processo, se for preciso. O juiz Marcos Luís Agostini também levantou o segredo de justiça no inquérito.

Irmão de Edelvânia, o motorista de caminhão Evandro Wirganovicz, cumpre prisão temporária desde sábado por suspeita de envolvimento, mas ainda está sob investigação e não foi indiciado. Ele é suspeito de ter aberto a cova.



Pela manhã, antes da divulgação sobre o desfecho da apuração, passeata cobrou punição de responsáveis

EVIDÊNCIAS APRESENTADAS CONTRA OS TRÊS SUSPEITOS


domingo, 11 de maio de 2014

O ADOLESCENTE E A CRIMINALIDADE



ZH 11 de maio de 2014 | N° 17793


EDITORIAL




O aumento do tempo de internação é decisivo para que o país enfrente o envolvimento de adolescentes com a delinquência

O Brasil cumprirá uma etapa importante no enfrentamento de crimes graves cometidos por adolescentes, se prosperar na Câmara dos Deputados o projeto que permite a ampliação do tempo de internação dos infratores de três para oito anos. Num país que muito debate causas e consequências dos delitos cometidos por menores de 18 anos, mas pouco delibera para atualizar a legislação, cria-se finalmente uma oportunidade de mudança. O que não se admite, como mostra a realidade, com a ratificação de estatísticas e estudos, é que o país continue a tratar delitos leves e graves como se fossem quase equivalentes, quando da definição do período de privação da liberdade. Está comprovado que o tempo limite de três anos não contempla a diferenciação entre quem, por exemplo, comete furtos sem violência e quem mata para roubar. A Câmara, onde tramita o projeto de lei que reforma parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pode e deve corrigir essa falha, compartilhando, num segundo momento, tal missão com o Senado.

Não há como continuar adiando mudanças, por mais complexas que sejam as questões suscitadas pelo envolvimento de adolescentes em delitos eventuais ou com a cumplicidade da criminalidade organizada. É neste aspecto, da participação em atividades ilícitas comandadas por bandidos, que os legisladores devem concentrar suas atenções. Ampliou-se nos últimos anos o uso deliberado de adolescentes para a prática de crimes graves. Assim, os adultos que articulam e coordenam as ações camuflam seu protagonismo. É positivo que o projeto preveja punição mais rigorosa de quem corrompe menores. E que estenda o limite de cumprimento da pena socioeducativa de adolescentes para oito anos.

Sabe-se que a internação deve ter, como objetivo, a reabilitação, ou o Estado estaria apenas exercendo o direito de punir. Como o ECA estabelece, compreensivelmente, tratamento diferenciado de infrações cometidas por menores de 18 anos, um adolescente, muitas vezes apreendido por latrocínio, acaba ficando numa unidade de internação por no máximo três anos. A sociedade reclama, no entanto, tratamento menos brando a quem, com capacidade de discernir entre o certo e o errado, comete crimes com requintes de crueldade. É frustrante quando prevalece, nessas circunstâncias, a percepção de que a Justiça não exerceu plenamente o dever da reparação em seu sentido mais amplo.

A ampliação do tempo de internação é uma mudança que pode ser política e juridicamente viabilizada, ao contrário da ainda controversa possibilidade de redução da idade da maioridade penal de 18 para 16 anos. Outro aspecto positivo é o que estabelece no projeto a obrigatoriedade de implantação, por União, Estados e municípios, das estruturas que deem forma às novas unidades de internação. O país não aceita mais que as desculpas por deficiências de leis e de verbas continuem, ao lado de outros fatores, contribuindo para o aumento da delinquência juvenil.

ESTE EDITORIAL FOI PUBLICADO ANTECIPADAMENTE NO SITE DE ZERO HORA, NA QUINTA-FEIRA, COM LINKS PARA FACEBOOK E TWITTER. OS COMENTÁRIOS PARA A EDIÇÃO IMPRESSA FORAM SELECIONADOS ATÉ AS 18H DE SEXTA-FEIRA. A QUESTÃO: EDITORIAL APOIA AUMENTO DO TEMPO DE INTERNAÇÃO PARA JOVENS INFRATORES. VOCÊ CONCORDA?

O LEITOR CONCORDA

Concordo. Aumentar o tempo de internação, desde que sejam adequadas as instituições destinadas a guarda e ressocialização. Que seus funcionários tenham a formação e os recursos necessários. Apoio pedagógico, psicológico etc.

LUÍS ANTÔNIO COSTA - PORTO ALEGRE (RS)

A ampliação do tempo de internação seria uma alternativa menos drástica do que a redução de idade criminal. No entanto, teria que vir associada a outras políticas de desenvolvimento e apoio ao menor. Os centros de recuperação teriam que ser estruturados para o desenvolvimento dos jovens e suas reais aptidões psicológicas e sociais.

MIGUEL EVILACIO DA SILVA - IMBÉ (RS)

Concordo. Afinal de contas, a vítima se vai para sempre e os seus familiares estão condenados a um sofrimento perpétuo. O mínimo que se pode fazer é punir os infratores com mais rigor e assim trazer algum alento a estas pessoas. Além disso, serve como exemplo para que esses menores reflitam melhor antes de cometer novas atrocidades. Vale ainda lembrar que hoje os jovens são muito bem informados, não valendo, portanto, o argumento de que não têm consciência do que fazem.

SETEMBRINO MONTANARI - VACARIA (RS)

O LEITOR DISCORDA

Não é o maior ou menor tempo de internação em entidades que pouco adiantam, pelo paternalismo e protecionismo exagerado, que impedem seus técnicos de aplicarem corretamente e com boa abrangência as medidas necessárias, achando que o problema será minorado. A solução, acredito, será viável no dia em que forem tratados como criminosos comuns e sujeitos às penas equivalentes. Fim para a idade de menor.

LAURO PETRARCA - PORTO ALEGRE (RS)

Outros comentários de leitores sobre o editorial desta página estão em zerohora.com/opiniaozh

sábado, 10 de maio de 2014

CASO BERNARDO, CONFISSÃO GRAVADA

ZERO HORA 10/05/2014 | 06h01

Confissão feita pela amiga da madrasta à polícia foi gravada. Polícia considera material uma prova de que Edelvânia Wirganovicz abriu mão de ter um advogado quando depôs

por Adriana Irion


A defesa de Edelvânia nega que o crime tenha sido premeditado e tenta invalidar o relato dado por ela aos policiaisFoto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal


Um dos principais trunfos da Polícia Civil para desvendar a morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, o depoimento da assistente social Edelvânia Wirganovicz consta no inquérito com gravação e filmagem. O material comprovaria que a amiga da madrasta abriu mão de ter advogado ao ser ouvida.

Depois de Edelvânia ter confessado o planejamento e a execução do crime e ter apontado onde estava o corpo, a defesa dela questionou a validade do relato por ter sido tomado sem advogado. Por trás da estratégia de invalidar o relato, estaria a tentativa de minimizar a responsabilidade de Edelvânia e da madrasta, Graciele Ugulini.

Basicamente, a defesa da assistente social negou que o crime tenha sido premeditado e que ela tenha participado. Teria apenas ajudado Graciele a enterrar o corpo. Na mesma linha, a madrasta também negou premeditação ao depor. Admitiu ter matado Bernardo, mas sustentou ter sido por “acidente”, por exagerar na dose ao dar remédios para acalmá-lo. Ao perceber que estava morto, teria tido ajuda da amiga para enterrá-lo.

Além de ter a gravação indicando que Edelvânia foi avisada de seus direitos, como o de ter um advogado ou ficar em silêncio, a polícia montou, a partir da confissão, um roteiro de como o crime ocorreu. Está comprovado, por exemplo, que a pá e a cavadeira usadas para fazer a cova foram compradas dois dias antes do crime.

Testemunhas reconheceram a assistente social como a pessoa que fez a compra. Na loja onde foi adquirida a soda cáustica que teria sido usada sobre o corpo, a polícia localizou um ticket de caixa indicando a venda daquele produto no mesmo horário registrado por Edelvânia no depoimento.

A soda foi comprada minutos antes das ferramentas. Edelvânia também deu à polícia o nome do remédio que Graciele teria feito Bernardo tomar, o Midazolam. A perícia confirmou a presença da medicação no corpo do garoto.

O que a assistente social revelou

Sondagem e críticas: pelo relato de Edelvânia, a madrasta Graciele Ugulini planejava há muito tempo a morte do enteado, considerado um “incômodo” na vida do casal. Teria dito, até, que o menino era “ruim, que era difícil de lidar e que brigava até com o pai”.

A proposta: após a conversa, disse Edelvânia, Graciele teria afirmado que tinha bastante dinheiro e que se a amiga a ajudasse a dar um sumiço em Bernardo lhe daria dinheiro e ajudaria a pagar o apartamento dela.

Plano traçado: Edelvânia disse que em 2 de abril Graciele teria revelado o plano: dopar o menino e aplicar uma injeção letal. Teria pedido um local para “consumir” o corpo. As duas teriam ido ao interior de Frederico Westphalen e começado a cavar com uma enxada de Edelvânia.

Compra de ferramentas: Graciele e Edelvânia teriam decidido comprar outras ferramentas, além de um produto para “diluir rápido o corpo e que não desse cheiro”. As ferramentas, uma pá e uma cavadeira, foram apreendidas na casa da mãe de Edelvânia.

Despiste ao garoto: segundo Edelvânia, Bernardo rumou para a morte depois de sair da escola acreditando que ganharia uma TV e que faria uma consulta com uma “benzedeira”.

“Piquezinho na veia”: no veículo da assistente social, Bernardo teria recebido uma dose de Midazolam e ouvido da madrasta que, antes de consultar com a benzedeira, precisava levar um “piquezinho na veia”. A injeção teria sido aplicada logo depois. Edelvânia relatou que a madrasta aplicou-a na veia do braço esquerdo com uma seringa e “ele foi apagando”.

Ocultação do corpo: após tirar a roupa e os tênis — que foram colocadas no lixo —, as duas teriam enterrado o menino na cova antes sem conferir se ele estava vivo (depois, a perícia comprovou que ele já estava morto).

Pagamento antecipado: Edelvânia disse que recebeu, no dia 2, R$ 6 mil de Graciele. O acerto seria R$ 20 mil, mas ela teria se disposto, depois, a pagar o que faltava para quitar o apartamento da amiga. A assistente social garantiu que só ela e Graciele sabiam do fato.

Relembre o caso


Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu no dia 4 de abril, uma sexta-feira, em Três Passos, município do Noroeste. De acordo com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, ele teria ido à tarde para a cidade de Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.

De volta a Três Passos, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia.Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento. Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados pela cidade, por Santa Maria e Passo Fundo.

Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo do menino foi encontrado no interior de Frederico Westphalen dentro de um saco plástico e enterrado às margens do Rio Mico, na localidade de Linha São Francisco, interior do município.

Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal no dia 4. Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos o médico Leandro Boldrini — que tem uma clínica particular em Três Passos e atua no hospital do município —, a madrasta e uma terceira pessoa, identificada como Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a identificação do corpo.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

MAIS DO QUE ESCOLHA




ZERO HORA DOMINICAL

EDITORIAL INTERATIVO


O Brasil cumprirá uma etapa importante no enfrentamento de crimes graves cometidos por adolescentes, se prosperar na Câmara dos Deputados o projeto que permite a ampliação do tempo de internação dos infratores de três para oito anos. Num país que muito debate causas e consequências dos delitos cometidos por menores de 18 anos, mas pouco delibera para atualizar a legislação, cria-se finalmente uma oportunidade de mudança. O que não se admite, como mostra a realidade, com a ratificação de estatísticas e estudos, é que o país continue a tratar delitos leves e graves como se fossem quase equivalentes, quando da definição do período de privação da liberdade. Está comprovado que o tempo limite de três anos não contempla a diferenciação entre quem, por exemplo, comete furtos sem violência e quem mata para roubar. A Câmara, onde tramita o projeto de lei que reforma parte do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pode e deve corrigir essa falha, compartilhando, num segundo momento, tal missão com o Senado.

Não há como continuar adiando mudanças, por mais complexas que sejam as questões suscitadas pelo envolvimento de adolescentes em delitos eventuais ou com a cumplicidade da criminalidade organizada. É neste aspecto, da participação em atividades ilícitas comandadas por bandidos, que os legisladores devem concentrar suas atenções. Ampliou-se nos últimos anos o uso deliberado de adolescentes para a prática de crimes graves. Assim, os adultos que articulam e coordenam as ações camuflam seu protagonismo. É positivo que o projeto preveja punição mais rigorosa de quem corrompe menores. E que estenda o limite de cumprimento da pena socioeducativa de adolescentes para oito anos.

Sabe-se que a internação deve ter, como objetivo, a reabilitação, ou o Estado estaria apenas exercendo o direito de punir. Como o ECA estabelece, compreensivelmente, tratamento diferenciado de infrações cometidas por menores de 18 anos, um adolescente, muitas vezes apreendido por latrocínio, acaba ficando numa unidade de internação por no máximo três anos. A sociedade reclama, no entanto, tratamento menos brando a quem, com capacidade de discernir entre o certo e o errado, comete crimes com requintes de crueldade. É frustrante quando prevalece, nessas circunstâncias, a percepção de que a Justiça não exerceu plenamente o dever da reparação em seu sentido mais amplo.

A ampliação do tempo de internação é uma mudança que pode ser política e juridicamente viabilizada, ao contrário da ainda controversa possibilidade de redução da idade da maioridade penal de 18 para 16 anos. Outro aspecto positivo é o que estabelece no projeto a obrigatoriedade de implantação, por União, Estados e municípios, das estruturas que deem forma às novas unidades de internação. O país não aceita mais que as desculpas por deficiências de leis e de verbas continuem, ao lado de outros fatores, contribuindo para o aumento da delinquência juvenil.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

ABUSO NA INFÂNCIA


ZERO HORA 07/05/2014 | 19h54


Um em cada cinco brasileiros sofreu abuso na infância. Segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), abuso de álcool e drogas é principal causa do problema


por Jaqueline Sordi


Crianças humilhadas, ameaçadas com facas, machucadas e vítimas dos mais diversos tipos de violência dentro de casa — por pais ou cuidadores — são mais frequentes do que se imaginava no Brasil. Os dados do 2° Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), realizado por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e divulgados nesta quarta-feira, alarmaram os pesquisadores e mostraram, pela primeira vez, que o Brasil é uma nação de pais violentos.

Conforme o estudo, 21,7% da população — um a cada cinco brasileiros, o que representa mais de 30 milhões de pessoas — sofreu algum tipo de abuso quando criança.

O consumo excessivo de álcool e outras drogas é apontado como causa e consequência dessas agressões. Os entrevistados relataram que, em 20% das situações de violência física, o parente ou cuidador havia bebido, deixando marcas que perduraram pela vida adulta — o risco de essas vítimas se tornarem dependentes drogas é duas vezes maior do que a população em geral. Entre os usuários de álcool, o percentual que sofreu violência infantil sobre para 45,7% , chega a 47,5% entre os viciados em maconha e a 52% em cocaína. E, quando o tipo de abuso é sexual, os números são ainda mais assustadores, relata Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e coordenadora do estudo:

— Dependendo do tipo de abuso, como a violência sexual, as chances de a criança se tornar um dependente de drogas podem ser até quatro vezes maiores. Temos dados que mostram que, entre usuários de crack em tratamento, a porcentagem que sofreu traumas gerados pelos pais chegou a 70%.

O levantamento ouviu 4607 maiores de 14 anos em 149 municípios brasileiros e indicou que o Brasil possui um dos mais altos percentuais de agressões de pais ou cuidadores contra crianças e adolescentes quando comparado a outras nações. Apenas uma pesquisa realizada em comunidades hispânicas nos Estados Unidos chegou a indicativos semelhantes, afirmou Clarice:

— Esta é a primeira vez que temos dados representativos nacionalmente sobre o assunto, e os números são preocupantes. Percebemos que é um comportamento cultural, independente da classe social ou nível de educação dos entrevistados.

Meninas são principais vítimas

Segundo a pesquisa, as meninas são as principais vítimas. Ao menos 20% das entrevistadas relataram que sofrem ou já sofreram algum tipo de agressão. Entre os tipos de abusos mais comuns, estão os empurrões, beliscões e arranhões. Em 11,9% dos casos, entretanto, os menores relataram que já apanharam até ficar com marcas pelo corpo. E, para agravar o problema, apenas 20% dos casos são reportados à polícia, afirma a pesquisadora:

— Muitas crianças aparecem em hospitais machucadas, com roxos ou membros quebrados, e os médicos não questionam a origem da violência. O que chega à polícia são casos mais graves, que envolvem morte. Essa falta de suporte faz com que as crianças sofram caladas por mais tempo, o que as leva a desenvolver quadros de depressão, adição à drogas e até mesmo suicídio.

Para Joana Narvaez, psicóloga da Unidade de Adição Alvaro Alvim, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, os dados da pesquisa confirmam não só sua percepção clínica — grande parte dos pacientes internados relatam terem sido vítimas de violência na infância ou adolescencia — como mostram que a adição às drogas, preponderamente ao crack, representa um sintoma antes de tudo social. Conforme Joana, um estado que não protege essas vítimas, que não contém a violência infantil e não dá suporte às famílias colabora para o alto índice de dependentes químicos:

— Jovens que sofrem traumas, que não tem ainda recursos psíquicos para dar conta da situação e que vivem em um ambiente sem adequada proteção ficam mais sucetíveis a buscar nas drogas uma fonte de anestesia, de alivio — comenta.

Os pesquisadores que realizaram o levantamento apontam que o quadro constatado mostra a necessidade de investimentos para que escolas e unidades de saúde tenham condições de detectar crianças que estejam sendo vítimas de violência por parte de familiares.

— O primeiro passo é a prevenção primaria, que significa educação. É preciso esclarecer aos pais que reforçar as atitudes positivas das crianças é muito mais eficaz do que punir as atitudes negativas. Nos casos em que a violência ocorre, é necessária uma rede de proteção e acompanhamento para estas famílias. A prevenção pode, em apenas uma geração, diminuir nossos problemas com abuso de substâncias psicotrópicas como o álcool, a cocaína e o crack — resume a pesquisadora.

Violência sexual

Pouco mais de 5% dos brasileiros acima de 18 anos, ou 5,4 milhões de pessoas, foram vítimas de abuso sexual da infância, cometida principalmente por algum parente (pai, padrasto e irmãos não se encaixam nessa categoria), um amigo próximo à família da criança ou um desconhecido.

Conforme a pesquisadora, o que diferencia a violência sexual das demais é o fato de causar um trauma menos reversível. Com outros tipos de abusos, uma rede de suporte estruturada e um sistema de precaução podem minimizar os danos . Mas, no Brasil, essa ainda é uma realidade longe de ser alcançada.


COMENTÁRIO DO BENGOCHEA- Apesar deste assunto ser muito válido como alerta às famílias no trato das crianças e adolescentes no Brasil é precisa separar o que é abuso e violência, da disciplina que deve ser imposta pela autoridade dos pais para que não cresçam na permissividade. E vale a pena ressaltar o comentário oportuno de um leitor online:

Bras • "A primeira coisa a discutir é o propósito dessas supostas pesquisas. Depois, a quem interessa a divulgação desses alegados resultados, tal como redigidos. O papel e as planilhas aceitam tudo. Cientificidade, coerência de procedimentos, toda vez que minimamente investigadas, nesses simulacros de estudos, resultam sempre tão escassas e longínquas quanto naqueles do IPEA sobre violência da mulher. A ideia de "verdade legitimada por estudos supostamente acadêmicos" não deveria passar pela cabeça de ninguém. Quem paga por esses "estudos"? Quem financia esses "resultados"? Que interesses nessa guerra de informações movem tais grupos? A sociedade deveria sempre lembrar a escala crescente de mentiras estabelecida por Mark Twain: há mentiras, mentiras deslavadas e... estatísticas. Usemos de bom senso, de espírito de exame, de cautela."

quarta-feira, 7 de maio de 2014

ADOLESCENTES EMBRIAGADOS

ZERO HORA 07 de maio de 2014




EDITORIAL


Só a desinformação sobre os riscos do consumo de álcool por adolescentes e a impunidade para comerciantes e donos de casas noturnas que ignoram a proibição da venda de bebidas para quem tem menos de 18 anos explicam a alarmante reportagem publicada no domingo por Zero Hora. A leniência em relação ao uso de álcool por meninas e meninos, que transforma Porto Alegre na campeã brasileira no consumo de álcool na faixa entre 13 e 15 anos de idade, é uma questão que não tem mais como esperar para ser enfrentada. Além de expor os jovens aos riscos naturais de quem se embriaga, o fenômeno prejudica a sua própria saúde física e mental, pois o álcool pode comprometer seriamente o seu desenvolvimento.

O primeiro passo para enfrentar esse fenômeno é não subestimá-lo, muito menos ignorá-lo, como preferem fazer muitos pais, mas também não tratá-lo de forma exagerada ou preconceituosa. A atuação dos pais é decisiva, pois os limites deveriam ficar claramente definidos já no ambiente familiar. Quem frequenta festas de aniversário a partir dos 13 anos e de formatura do Ensino Médio pode perceber a liberalidade no consumo de álcool nessa faixa de idade, na maioria das vezes por omissão ou consentimento dos pais e até estimulado por eles. O uso de álcool por jovens precisa ser combatido com a aplicação da lei no caso de transgressões e com mais informação sobre os riscos.

Há algum tempo, o Ministério Público vem se esforçando para agir de forma preventiva nesses casos. 

Mesmo a decisão de manter plantões e fiscalização nos locais mais frequentados por jovens contribui apenas para atenuar o problema. As ações têm-se mostrado insuficientes para prevenir comportamentos danosos para meninas e meninos que contam com a leniência de suas famílias e com a ganância de comerciantes e promotores de eventos destinados a essa faixa etária. A atitude mais comum nesses meios é a de não barrar quem já chega a uma festa embriagado ou recorre a documento emprestado ou falsificado para atestar maioridade, devido ao temor de se incomodar com os pais ou de perder clientes. Como não há quem fiscalize e puna os infratores com rigor e de forma contumaz e como muitos pais preferem fazer de conta que nada está acontecendo, o problema só se agrava.

O alcoolismo constitui-se num sério problema de saúde pública no país, além de estar associado a uma série de doenças. Jovens que começam a beber cedo demais têm mais chances de contribuir para o agravamento desse quadro. Além disso, ficam expostos a graves riscos resultantes do descontrole provocado pela embriaguez. É hora de se dar um basta a essa situação, preservando quem tem um futuro pela frente.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

VODKA PARA CRIANÇA DE DOIS ANOS

ZERO HORA 02/05/2014 | 08h11

Casal é detido após dar bebida alcoólica à criança de dois anos. Testemunhas relataram que mãe colocou um copo de vodka na boca da menina


Um casal foi detido na madrugada desta sexta-feira dando bebida alcoólica à uma criança de dois anos. De acordo com o 9º Batalhão da Polícia Militar, uma mulher de 22 anos e o namorado de 56 anos estavam em um bar, na esquina das ruas General Lima e Silva e República, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.

De acordo com as testemunhas, a mulher colocou um copo com vodka na boca da criança. O homem não ofereceu a bebida, mas não impediu a namorada. Segundo a polícia, os dois estavam bêbados.

Ambos foram encaminhados à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento. A criança está com os padrinhos.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

SEM SEDE, CONSELHEIROS TUTELARES ATENDEM NA RUA

DIÁRIO GAÚCHO 01/05/2014 | 12h01


Sem sede, conselheiros tutelares atendem na rua

Sem poder acessar a sede, integrantes do Conselho Tutelar da Microrregião 9, na Capital, trabalham ao ar livre. Prontuários teriam ficados trancados no prédio



Conselheiras tutelares da Micro Região 09 fazendo atendimento na ruaFoto: Arquivo pessoal / Arquivo Pessoal


Eduardo Rodrigues



Porto Alegre orgulha-se do título de Cidade Amiga da Criança, mas a foto desta página mostra o contrário. Em vez de oferecer acolhimento e discrição a pais e menores de idade com problemas, conselheiros tutelares da Microrregião 9, na Lomba do Pinheiro, são obrigados a prestar esse tipo de atendimento na rua. Esta quarta-feira foi o segundo dia de trabalho ao ar livre dos funcionários desalojados.

Recepção embaixo das árvores

Na terça-feira passada, ao chegar à sede provisória na Estrada João de Oliveira Remião, 5450, a conselheira Sônia Medeiros Nascimento encontrou a porta chaveada e o prédio cercado por tapumes para realização de uma obra. No lugar do imóvel, será construído um centro esportivo municipal. Sônia afirma que o engenheiro apenas comunicou que o local não poderia mais ser utilizado.

Sem acesso às salas, as conselheiras improvisaram uma recepção embaixo das árvores. O chão ganhou um tablado de madeira e, em cima deste, foram colocadas mesas e cadeiras.

- Há seis anos que estamos numa sede provisória. Por diversas vezes, avisamos a prefeitura e até indicamos locais para locação, mas nada foi feito - reclama a conselheira.

Improviso é afronta ao Eca

O ambiente inadequado fere o direito de proteção assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente a crianças e adolescentes. Mas a exposição pública não é o único problema. De acordo com Sônia, o isolamento do local não estaria permitindo o acesso a documentos e prontuários de casos que necessitam de acompanhamento.

Saúde cederá imóvel

O secretário adjunto da Governança Local, Carlos Siegle de Souza, admite que também foi surpreendido pelo isolamento do prédio. Mas não explicou porque a prefeitura deixou a situação se arrastar por tanto tempo sem uma solução definitiva. Segundo Carlos, a Secretaria da Saúde cederá até amanhã um espaço na UBS Panorama para ser a nova - e ainda provisória - sede do Conselho da Micro 9. Mesmo assim, a Governança não descarta a possibilidade de locar um prédio.

- Estamos há vários meses planejando esta mudança. Nossa ideia era montar uma casa pré-fabricada no terreno do Centro Administrativo Regional (Car) do bairro até a conclusão da obra, mas, quando desmontamos a casa, para montá-la no novo endereço, houve perda de material - justificou.

A obra

Além da construção do centro esportivo e cultural, em andamento, as novas sedes do Car e do Conselho Tutelar serão erguidas na Estrada João de Oliveira Remião, 5450.