segunda-feira, 1 de junho de 2015

OS NATIMORTOS

JORNAL EXTRA, em 30/05/15 10:08


Por: Aurílio Nascimento




Cena do filme "Pixote, a lei do mais fraco", de Hector Babenco


Natimorto é o termo jurídico para definir o feto que é expulso do útero sem vida. Em 1977, o escritor e jornalista José Louzeiro publicou a obra "Pixote – a infância dos mortos". Muito provavelmente, o escritor utilizou o título como uma analogia ao termo jurídico. Quatro anos após seu lançamento, a história de Louzeiro foi para as telas, com o título "Pixote – A lei do mais fraco", dirigido por Hector Babenco, ganhando vários prêmios. Tanto o livro como o filme, foram um grande sucesso. Outro livro e mais um filme foram lançados: "Pixote nunca mais", de Cida Venâncio, e "Quem matou Pixote", do diretor José Joffily.

A trágica história de um grupo de meninos abandonados que se aventuram na vida do crime e morrem, retratadas nas obras acima citadas, terminou imitando a realidade. Para estrelar o filme de Hector Babenco, foi escolhido um garoto da periferia de São Paulo, Fernando da Silva Ramos. Mesmo com o estrondoso sucesso, Fernando ingressou na vida do crime, e terminou morto em confronto com a polícia.

Treze anos após o livro de Louzeiro, foi publicada com estardalhaço a Lei 8.069/90, que ficou conhecida como ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente. Não precisa ser vidente para se imaginar que uma lei, cujas inicias ao se pronunciar, tornar-se uma onomatopeia de nojo, daria certo. O noticiário policial bem prova isto.

Tão logo a lei 8.069/90 passou a vigorar, um estranho fenômeno politico eclodiu: a criação de milhares de ONGs, todas afirmando sua imensa preocupação com os menores abandonados e bancadas com o dinheiro público. Poucas - ou quase nenhuma - foram capazes de salvar aqueles que nasceram condenados à morte lenta nas ruas.

A trágica morte do médico Jaime Gold, assassinado a facadas durante um assalto, na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, por dois menores contumazes no crime, logo irá se transformar em apenas um número. Nada mais do que isto. A família da vítima terá que conviver com a dor. A sociedade com a perda de um grande profissional no auge de sua carreira.

Enquanto isto, ólogos e ólogas, parlamentares neófitos, pesquisadores e estudiosos defendem teses e leis sem lógica e absurdas. Todos estes integram o conjunto de estrelas que, se fosse possível comprar suas ideias pelo que valem e revender pelo que eles pensam que valem, o lucro bateria qualquer fortuna do planeta.



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