ZERO HORA 28 de junho de 2015 | N° 18208
INFORME ESPECIAL | Tulio Milman
Talvez, o único caminho que leve a algum lugar
Jornalismo construtivo. Taí um conceito interessante. E muito simples. Em vez de só ficar denunciando e apontando os problemas, buscar alguma espécie de compromisso com a solução. Não as soluções do jornalista, mas as de outras vozes. Vozes diversas, plurais.
Compartilho com vocês um caso que deu certo.
Há alguns meses, o Informe Especial noticiou o abandono e o descaso com crianças que esperam adoção em Porto Alegre. As informações estavam em um relatório do Ministério Público, instituição que, de forma independente e corajosa, iniciou o movimento.
Abrigos em más condições, situação jurídica precária, abusos de naturezas diversas, todos impunes. E se, em vez do escândalo, a coluna optasse pelo alerta? Ativismo em vez de jornalismo? Não. Vejo, nesse caso, uma soma, e não uma divisão. Jornalismo e ativismo. De forma transparente, aberta e clara. Em nome do interesse público.
Evitar a indignação fácil e, com isso, alertar os atores adormecidos. Em vez de adotarem uma postura defensiva, eles passaram a agir. Muita coisa aconteceu desde então.
Gente incompetente foi afastada, processos foram modificados, abrigos passaram por reformas, nomes de crianças foram enviados ao Cadastro Nacional de Adoção, onde deveriam estar há anos, mas não estavam.
Ainda falta. Mas o movimento gerado pela intenção de construir teve impacto positivo na vida e na esperança de dezenas de crianças.
Foi arriscado abrir mão da contundência quando ela era uma tentação óbvia. Mas me sinto feliz. Sei que é difícil transitar pelos meios-tons nesta era de extremos. Não condeno a indignação, nem a denúncia forte, nem o grito de alerta. São parte da essência do bom jornalismo. Muitas vezes, recorri a eles, e outras tantas, recorrerei. Mas nem sempre.
O jornalismo e seu poder de mudar. O jornalista como meio, e não como fim. O tema das adoções vai continuar ocupando espaços nesta página. Ao Ministério Público, ao governo do Estado e ao Poder Judiciário, o reconhecimento pelo esforço para resolver esse problema invisível e grave. E o desejo de que o esforço seja redobrado.
Aprendi que o jornalista e suas fontes podem, sim, algumas vezes, querer as mesmas coisas e trabalhar juntos. Se isso ficar claro para o leitor, não é pecado. Esse, em casos como o da adoção, é um caminho ético e possível.
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