WANDERLEY SOARES, O SUL
Porto Alegre, Quarta-feira, 01 de Fevereiro de 2012.
Muita coisa mudou para a gurizada. Sempre para pior.
Uma série de matérias elaboradas e editadas criteriosamente pelos coleguinhas do jornal Zero Hora sobre a questão dos menores infratores, que merecidamente ganhará alguns prêmios, foi fundamentada em dados oficiais e que, repetidas vezes, ao longo dos últimos anos, tenho aqui apontado e pautado, sem que os representantes do oficialismo tenham contestado uma só linha, mesmo de forma escorregadia, como é dos costumes de quem está no poder. Nas reportagens, nenhum mistério, nada surpreendente, embora tudo seja chocante. A Fase, ex-Febem (não duvido que a política da transversalidade descubra uma outra denominação antes que o mundo acabe) tem sido uma das usinas de criminosos que lotam os presídios de adultos. Para os recém-chegados, cumpre-me dizer que a Febem e a Fase tiveram seu embrião, há algumas décadas, no chamado Abrigo de Menores, um depósito fedorento de gurizada infratora instalado no Partenon, na avenida Bento Gonçalves, quase defronte de um cabaré chamado de "Dois leões". O portão do prostíbulo era guarnecido por duas feras moldadas em concreto. A partir da "era dos Dois leões" muita coisa mudou para a gurizada. Sempre para pior. Sigam-me
Teia de soluções
Irretocáveis as matérias que relataram, em linguagem jornalística, os dados oficiais. No entanto, se os apontamentos são oficiais, se estão vivos e entranhados na memória dos computadores do Estado, qual o motivo que teriam representantes do oficialismo para acordar agora para o problema se ele existe, em tremores sempre crescentes, desde o velho Abrigo de Menores da era dos Dois leões? Evidentemente que a busca desses personagens governamentais é, em primeiro plano, não perder o espaço na mídia e, mesmo que atabalhoadamente, oferecer uma teia de soluções para aproveitar a fase aquecida da discussão, pois logo pode aparecer um egoísta para levantar uma questão mais polêmica. Depois, ora depois, depois é só montar uma comissão para estudar o que haverá de se fazer. Um salto à frente.
Fenômeno
Parece-me que a tentativa mais estridente e afoita de montar no cavalo encilhado nessa questão dos menores infratores foi a da secretária especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, numa entrevista em que abraça uma tese a partir do que foi pensado há mais de 20 anos, época em que ela, a ministra, estava em seus sonhadores 25 anos de idade, avançou para um futuro absolutamente virtual, passou sem muita profundidade pelas coisas presentes e acenou com soluções que Vinicius de Moraes chamou, numa de suas composições, de "fenomenais". Dentro desta moldura, quando a presidente Dilma retornar de Cuba e falar com Maria do Rosário, certamente haverá de pensar: "Tendo Maria do Rosário aqui, o que tinha eu de me aconselhar com Fidel?"
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