sábado, 4 de fevereiro de 2012

O DOPING E O ÓCIO


EDITORIAL ZERO HORA 04/02/2012

As declarações do psiquiatra Jose Pedro Godoy Gomes Neto de que aplica medicamentos em jovens para aquietá-los em função do ócio, além de estarrecer a comunidade gaúcha, é mais uma prova do fracasso da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) na sua missão de ressocializar infratores. Como esperar que adolescentes, rotineiramente entorpecidos por calmantes devido à falta de atividades esportivas e recreativas para liberar as energias próprias da juventude, tenham lucidez e disposição para estudar e retomar o caminho do bem?

Reportagem exclusiva publicada ontem em ZH revelou que o psiquiatra, desde 2003 atuando na Comunidade Socioeducativa, relatou por escrito e sem rodeios ao 3º Juizado da Vara Regional da Infância e Juventude: “Pelo ÓCIO, é por isto que se medica na Fase”. Note-se que ele, para ressaltar a prática, grafou a palavra em maiúsculas. No mesmo ofício que abismou a juíza Vera Deboni, e para não deixar dúvida sobre o seu trabalho, acrescentou que os próprios internos pedem um remedinho, de tão impacientes que ficam.

Ora, não se pode tolerar que a principal instituição gaúcha para jovens infratores, a Fase, utilize o doping como terapia. Não é preciso ser especialista para saber que ociosidade se resolve com esportes, recreação, diversão, estudo, leitura, artes e oficinas profissionalizantes. Já diziam os antigos que o tempo vago é mau conselheiro.

É promissor que a atual presidente da Fase, Joelza Mesquita, pretenda eliminar a utilização de ansiolíticos e outras drogas. Deve-se acompanhar esses esforços, para verificar se não estacionarão no plano das boas intenções. Se não vão esbarrar nos obstáculos de sempre, que remontam à época da extinta e nada saudosa Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor, a Febem. O curioso é que a primeira reação da direção da Fase foi antecipar o afastamento do médico Jose Pedro, que expôs a situação cruamente, sem hipocrisia. O que se espera é que a Fase ataque o problema, e não apenas o seu mensageiro. Se o psiquiatra errou, que seja julgado. Mas a receita do medicamento para controlar os malefícios do ócio certamente não foi introduzida por ele. Também não seria o responsável único pelo método de amolecer os arroubos juvenis via fármacos. Então, a correção do problema tem que ser mais abrangente.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - É mais uma prova de que os Poderes não exercem seus deveres, não cumprem a constituição, não aplicam as leis, nem fiscalizam seu atos e nem responsabilizam quem se omite ou descumpre a lei. A desarmonia entre os Poderes não atinge a conivência e o corporativismo entre eles. As consequências desta "negligência" de não tratar e abandonar os infratores e apenados à própria sorte se refletem na insegurança nas ruas, no retrabalho policial e na perda de vidas e patrimônios.

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