segunda-feira, 13 de abril de 2015

PAIS QUE MALTRATAM FILHO SÃO OBRIGADOS A VOLTAR PARA A ESCOLA

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 12/04/2015


Pais que maltratam filhos são obrigados a voltar para a escola. Encontros são formas de ensinar a esses pais que agredir não é educar. Justiça do RJ adota medida como proteção à criança e ao adolescente.




Pais que perdem a cabeça com os filhos e acabam partindo para a agressão. A situação chegou a tal ponto que agora existem até escolas para ensinar como os pais devem educar os seus filhos sem usar a violência.

Fantástico: Qual foi a pior agressão que você fez a sua filha?
Mãe: Foi quando ela chegou tarde. Eu queria saber onde ela estava, ela não quis me dizer onde ela estava, aí eu fui batendo nela até levar para o banheiro. Chegou no banheiro, eu dei choque nela.
Fantástico: Como você deu o choque?
Mãe: Eu tinha uma coisa de esquentar água. Separei os fios e um botei perto dela e outro eu botei na água.

O depoimento forte é de uma mãe que foi obrigada a frequentar uma escola de pais criada pela Justiça do Rio de Janeiro.

Os pais que chegam ao Juizado da Infância e Juventude do Rio de Janeiro têm recebido como medida de proteção à criança e ao adolescente participar de palestras. Os encontros são realizados semanalmente durante quatro meses. Uma forma de ensinar a esses pais que agredir não é educar.

“Os pais são inseridos por determinação judicial e essa família é trabalhada. A gente tenta ensinar a esse pai e a essa mãe a efetivamente exercer da maneira correta o seu poder familiar”, explica o juiz da Infância e Juventude Pedro Henrique Alves.

Durante os encontros, pais e mães falam sobre a violência em casa. “Batia com a mão. Deus não deu mão para a gente bater?”, diz uma mãe.

“Batia com o que tivesse na minha frente. Se tivesse garrafa, jogava em cima, até faca eu já joguei em cima”, diz outra mãe.

“Bati na minha filha com um chinelo, aí ela tinha consulta marcada no médico, e o médico viu a marca do chinelo, eles prenderam a minha filha, chamaram a assistente social e me levaram para o conselho tutelar. Por isso, me mandaram para cá”, conta uma mãe.

“Se ele quer efetivamente continuar com seu filho, ele vai ter que frequentar a Escola de Pais, ele vai ter que se cuidar, ele vai ter que se tratar”, destaca o juiz.

“Quando eu fui convocada para vir participar da Escola de Pais. Na hora eu fui até fui irônica. ‘Eu, aprender a ser mãe de novo?’ A gente acha que está agindo certo, só que realmente nós estamos agindo errado”, admite uma delas.

Não é fácil flagrar a agressão dos pais. Mas quando isso acontece, a Justiça pode agir. É o caso mostrado no Fantástico no domingo (5). As imagens das câmeras de segurança de um prédio em uma área nobre do Rio mostram que, na entrada do elevador, uma adolescente de 13 anos leva uma bofetada no rosto e quem bate é mãe dela.

Quando as duas saem, começa uma sequência de tapas e puxões de cabelo. A menina chega a ser jogada no chão. Depois, leva mais tapas. A mãe ainda tira o sapato e dá três golpes na cabeça da adolescente. Tudo isso, de acordo com a polícia, porque a filha chamou a mãe de ridícula.

O caso foi denunciado ao Ministério Público, que está analisando o inquérito. O Fantástico entrou em contato com o advogado da mãe, mas as ligações não foram atendidas. São atitudes como essa que chegam ao Juizado da Infância e Juventude.

“Hoje consigo conversar, consigo abraçar, beijar e dizer que a amo. Antes, não”, lembra outra mãe.

O amor entre pais e filhos costuma ser incondicional. Mas isso não significa estar livre de problemas, das discussões, do enfrentamento, da falta de entendimento. E qual o limite na hora de impor o respeito diante de um filho? A Escola de Pais está tentando ajudar. Homens e mulheres vão para aprender a serem pai e mãe melhores. E todos chegam por livre e espontânea vontade.

“Nós discutimos no primeiro pileque. No segundo, houve um tapa, e eu acho que foi muito importante a atitude para mostrar que também que tem que ter uma responsabilidade. Não faria novamente, dói mais na mãe que no filho”, destaca a professora Andrea Baro.

“Não é agressão, não é você ser rude. Nada disso vai conseguir com que você convença alguém a fazer alguma coisa, muito menos o seu filho”, explica Rosana Jurado, presidente da Escola de Pais de SP.

O projeto voluntário é chamado de Escola de Pais do Brasil que existe em quase todo o país.

“Teve tapas, lógico, teve brigas, desentendimento, chegamos a gritar uma com a outra. Muitas vezes, o diálogo foi difícil”, diz a neuropsicopedagoga Thereza Bianchi.

Thereza e o marido aprenderam a agir de forma diferente com a filha mais velha e o caçula, que hoje já são adultos. “A primeira coisa é manter a calma, porque se você deixar o nervosismo dominar a situação, você acaba perdendo a cabeça de fato. E o mais importante disso tudo é você saber que você cometeu essa agressão e ir conversar com ele e pedir perdão”, orienta o administrador Carlos Bianchi Júnior.

“Educar não é coisa para fracos, educar é para fortes. E quando eles chegam na adolescência, precisamos ser mais fortes ainda e muito mais pacientes”, destaca Dolma Magnani, coordenadora da Escola de Pais de Florianópolis.

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