segunda-feira, 21 de julho de 2014

CASO BERNARDO, UMA CONFISSÃO MARCA PELA FRIEZA


ZERO HORA 21 de julho de 2014 | N° 17866


ADRIANA IRION

CASO BERNARDO

DEPOIMENTO À POLÍCIA de Edelvânia Wirganovicz prestado horas depois da localização do corpo do menino, no dia 14 de abril, revela detalhes do crime quase sem demonstrar emoção


Zero Hora teve acesso à gravação em vídeo, disponível no site desde a manhã de domingo, do depoimento que desvendou a morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, ocorrida em 4 de abril, em Frederico Westphalen. Na noite de 14 de abril, por cerca de 58 minutos, a assistente social Edelvânia Wirganovicz repetiu para a polícia os detalhes que horas antes haviam levado os policiais até a cova em que o corpo nu do menino estava enterrado.

Mascando chiclete, contou, por exemplo, sobre o produto comprado para “dissolver rápido a pele” do menino e não “dar cheiro”. Por duas vezes, tomou água. Pareceu quase sorrir ao buscar detalhes na memória. Explicou o que disse a Graciele quando soube do plano para matar Bernardo:

– Eu disse ‘pensa bem no que tu vai fazer, olha o risco, né, pensa bem para ser bem-feitinho’.

Em dois momentos, negou o envolvimento de outras pessoas. Questionada se o pai de Bernardo tinha conhecimento do crime, afirmou que ele não sabia. Em Frederico Westphalen, informalmente, Edelvânia havia confessado participação no crime, dizendo ter recebido dinheiro da madrasta de Bernardo, Graciele Ugulini, para ajudar a enterrá-lo. Conduziu os policiais até o buraco. Levada a Três Passos, prestou depoimento à delegada regional Cristiane de Moura e Silva. No mesmo prédio, já estavam presos Graciele e o pai do menino, o médico Leandro Boldrini.



EM CONTRASTE, MADRASTA CHORA AO DIZER QUE NÃO TEVE INTENÇÃO

Ontem à noite, o programa Fantástico, da TV Globo, mostrou trechos do depoimento de Edelvânia e também do de Graciele. Em contraste com a amiga, a madrasta chora ao dizer que não teve intenção de matar:

– O guri começou a agitar e incomodar. Aí peguei alguns remédios dele. Vi que ele começou a babar. Chamei, sacudi, e nada. Eu só pensei ‘a gente vai ter que dar um jeito nesse corpo. No caminho, fui pensando ‘o que vou dizer pro pai dele?’. Aí, resolvi falar isso, que ele tinha ido dormir num colega. Deveria ter pedido ajuda pra alguém, mas estava tão desesperada que eu só queria consumir com o corpo.

VALIDADE DO DEPOIMENTO


A legalidade da confissão de Edelvânia foi questionada pelo defensor dela pelo fato de ter ocorrido sem a presença de um advogado. A polícia garantiu que ela foi avisada do direito de ficar calada e de só falar em juízo. Em pelo menos dois momentos, isso foi repetido para Edelvânia durante a gravação. Pouco depois de uma hora do depoimento, é feita a leitura para conferência, e a assistente social acrescenta mais informações. Aos 71 minutos, a gravação capta gritos de pessoas que se aglomeravam na frente da delegacia:

– Justiça, assassinos, justiça!


PREPARAÇÃO PARA O PRESÍDIO

Um médico faz exame de lesão corporal, praxe que antecede a ida de suspeitos para presídios depois do depoimento. Edelvânia levanta a blusa, ele examina os pulsos e o pescoço. Mais uma vez, podem ser ouvidos gritos, mais nítidos. Ela escuta cabisbaixa. É consolada por quem está na sala, prevendo que sua saída será mais tranquila, pois as pessoas não sabem da presença dela ali. O alvoroço seria por conta da presença do pai do menino e da madrasta, suspeitos de ligação com a morte. Uma hora e 17 minutos depois de a gravação começar, Edelvânia retira o chiclete da boca.

OS DEMAIS IMPLICADOS

A segunda parte da gravação é o depoimento em si, e a terceira é a revisão, com leitura e acréscimo de informações. Na finalização, Edelvânia acrescentou mais um detalhe: a madrasta lhe contara que havia tentado matar Bernardo sufocando o menino com um travesseiro. O fato é registrado e, 33 minutos depois, a leitura da confissão é concluída. Em depoimento à polícia, Graciele admitiu ter matado Bernardo, mas alegou ter sido por acidente, por excesso de calmantes. O médico Leandro Boldrini sempre negou qualquer participação no crime.


RELEMBRE O CRIME

Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, desapareceu na sexta-feira, 4 de abril, em Três Passos, noroeste do Estado. Segundo o pai, o cirurgião Leandro Boldrini, 38 anos, Bernardo teria ido a Frederico Westphalen com a madrasta, Graciele Ugulini, 36 anos, para comprar uma TV.

Segundo o pai, o menino teria dito que passaria o final de semana na casa de um amigo. Como no domingo ele não retornou, o pai acionou a polícia. Boldrini chegou a contatar uma rádio local para anunciar o desaparecimento.

Cartazes com fotos de Bernardo foram espalhados. Na noite de segunda-feira, dia 14, o corpo foi encontrado enterrado dentro de um saco no interior de Frederico West- phalen, na localidade de Linha São Francisco. Segundo a Polícia Civil, Bernardo foi dopado antes de ser morto com uma injeção letal.

Seu corpo foi velado em Santa Maria e sepultado na mesma cidade. No dia 14, foram presos Leandro Boldrini , a madrasta e Edelvânia Wirganovicz, 40 anos, que colaborou com a localização do corpo.

Depois, o irmão de Edelvânia – Evandro Wirganovicz – foi preso temporariamente por suspeita de facilitar a ocultação de cadáver, crime pelo qual acabou sendo denunciado pelo Ministério Público (MP).

Após pedido de aditamento do MP, a Justiça também aceitou a denúncia de Evandro por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de veneno e recurso que dificultou defesa da vítima), e decretou sua prisão preventiva. Os quatro ainda estão presos à espera de julgamento.

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