segunda-feira, 19 de agosto de 2013

SOLTOS NA REDE


ZERO HORA 19 de agosto de 2013 | N° 17527

RÓGER RUFFATO | CAXIAS DO SUL

Descontrole dentro do Case de Caxias. Jovens em cumprimento de medidas acessam a internet no alojamento


Longe dos monitores e sem a ameaça de revistas rígidas, jovens do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) seguem o exemplo que vem dos presídios gaúchos. Eles acessam a internet via celular e se exibem em fotos ou debocham do frágil controle da instituição nas redes sociais. Pior: têm a opção de contato direto e sigiloso com integrantes de bondes e comparsas em liberdade.

Assim, combinam vingança contra desafetos e projetam ações para a hora em que ganharem a liberdade. Um desses internos é um rapaz de 18 anos. Após passagens pelo Case por tráfico de drogas, entre 2009 e 2011, ele ganhou semiliberdade, mas voltou a ser recolhido ao local em julho deste ano, também por envolvimento na venda de entorpecentes. De dentro do Case, o interno mantém a página no Facebook atualizada com recados e fotos.

Os posts são curtidos e comentados por amigos, a quem o adolescente não demonstra arrependimento por se envolver com a criminalidade.

Assim como esse infrator, internos de outras unidades do Estado também se comunicam com o mundo externo via aparelho celular. Na última quarta-feira, um adolescente de 17 anos modificou a foto de capa do perfil no Facebook. Ele cumpria medida em Caxias do Sul por homicídio, mas foi transferido para outra unidade em janeiro deste ano, de onde mantém fazendo as atualizações na rede.

De acordo com o diretor do Case, Cláudio Gonçalves, a instituição tem a meta de padronizar as buscas por celulares:

– Antes, tínhamos dificuldades em fazer as revistas uniformemente por falta de servidores. Com a chegada dos novos socioeducadores, no último mês, poderemos rever esses procedimentos. Vamos intensificar as buscas, principalmente em dias de visitas, quando entra muita coisa.


Monitores com medo das ameaças


Acuados por ameaças recorrentes que chegaram a se concretizar em julho – quando um monitor foi ferido nas costas com arma artesanal por um interno – servidores do Case denunciam o total descontrole sobre o que entra ou sai da instituição. Em 26 de julho, interromperam as atividades em protesto.

Segundo relatos de servidores ao Pioneiro, internos percebem a fragilidade do sistema e tentam fugas.

– Temos encontrado grande quantidade de drogas e celulares com eles. Esse material vem parar dentro do Case por visitas ou é jogado pelos muros. Não temos condições de revistá-los todos os dias – relata um servidor.

Para o juiz da infância e juventude Leoberto Brancher, o acesso de celulares e drogas no Case reflete a pouca vontade dos socioeducadores em manter as revistas constantes.

– Eles (os monitores) não estão fazendo o trabalho direito. Mas essa é uma questão que deve ser resolvida internamente. Como juizado apenas não posso permitir que brigadianos substituam socioeducadores e uma casa para o cumprimento de medidas se transforme em presídio – sustenta Brancher.

Conforme o diretor do Case, Cláudio Gonçalves, a unidade apresentará um plano de ação ao Ministério Público em 30 dias.

Reprodução Facebook

NO FACEBOOK - Alguns comentários, transcritos na linguagem dos adolescentes

- Após postar foto na quinta
“Olha come q nós tamo fikam na fé ai vagabundagem sabe o jeito logo é nós de novo”.
- Ameaça a grupos rivais pelo controle do tráfico, após foto publicada antes de adolescente ser apreendido.
“Manda vim que nois destroi”.

- Na sequência
“hoje mira atira mais amanha vai se alvo so nao deche pra para so quando tive cheio de buraco”

- Sem arrependimento
“Crime finalcia o seu sonho e depois cobra um alto preço mais não da nada é a nossa profisão”

- Desabafo
“Meu pior veneno cunpri a p... da pena mais sei q logo vo sai”

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