EDITORIAL
O aumento do consumo de crack e a falta de planejamento familiar estão na raiz da superlotação da casa de acolhimento da prefeitura de Porto Alegre destinada a crianças e adolescentes. Apesar do aumento do número de vagas para dependentes de crack de 535 para 754 nos últimos três anos, a demanda por atendimento na rede pública cresceu ainda mais. O juiz José Antônio Daltoé Cezar, da 2ª Vara do Juizado da Infância e da Juventude de Porto Alegre, estima que mais da metade das crianças abrigadas pelo poder público é usuária da droga.
Uma das tantas características perversas do crack é a desestruturação das famílias: a maioria das crianças e adolescentes que são encaminhados pelo Conselho Tutelar ou pelos juizados da Infância e Adolescência para a rede pública vêm de famílias dizimadas pela droga e não contam, portanto, com a retaguarda dos pais para reinserção social.
A dimensão alarmante do problema, que parece ter fugido do controle das autoridades não apenas na Capital, mas também no país, não pode ser usada como argumento para que o poder público cruze os braços. A proteção da infância e da juventude deve ser a prioridade número um do município, ou se estará assinando, por omissão, a sentença de morte de centenas de menores deixados à mercê da praga do crack. Alguns sustentam que a solução passa pela abertura de novos abrigos e pelo aumento do valor dos repasses a essas instituições. Outros, que não há verba para criação de novas casas e que o orçamento atual é condizente com a realidade.
Seja qual for o caminho, não há momento mais propício para se debater o assunto do que o atual, em que a campanha eleitoral para prefeito e vereadores permite um exame amplo e minucioso do problema por todos os cidadãos. Espera-se dos candidatos ao Executivo municipal que apresentem diagnósticos e propostas exequíveis para o enfrentamento desse drama. Não se pode abandonar as vítimas do crack à rotina e ao descaso, sob pena de apenas desencadear um efeito dominó que repercutirá na inviabilização de um futuro digno.
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