quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

POLÍTICA PARA OS JOVENS

EDITORIAL ZERO HORA 01/12/2011

O Brasil dos adolescentes brasileiros está desconectado do Brasil dos adultos, que evolui economicamente e oferece oportunidades de ascensão profissional e social cada vez mais escassas nos países ricos. No país de quem tem de 15 a 17 anos, um quinto dos jovens está fora da sala de aula. O dado é um desalento que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) oferece às autoridades como alerta, em relatório sobre a situação da adolescência no Brasil. O documento é um retrato sombrio de uma etapa da vida decisiva para a definição de futuros individuais e coletivos. Quando deveriam se afirmar como cidadãos, milhões de adolescentes brasileiros são tratados com descaso por sucessivos governos. O relatório do Unicef tem o poder de denunciar o fracasso das políticas públicas em educação, em saúde, em ações contra a violência e na criação de perspectivas concretas de mudanças, em especial entre jovens de famílias de baixa renda.

São muitas as consequências desse desleixo, que produzirá efeitos perversos durante um longo período, como adverte o Unicef. Jovens que abandonam a escola desperdiçam chances e são os mais vulneráveis aos apelos da criminalidade e aos danos de todo tipo de violência. Os números são implacáveis: de cada grupo de 100 mil pessoas da faixa etária de 12 a 17 anos, 19 foram assassinadas no Brasil em 2009. São 11 homicídios de meninos e meninas por dia. A taxa de mortalidade de outra faixa, de 15 a 19 anos, é o dobro da registrada entre a população geral. Os jovens brasileiros morrem de forma violenta por morarem em áreas sequestradas pela delinquência, por se envolverem direta ou indiretamente com o crime e também porque são vítimas de acidentes de trânsito.

Não deixa de ser um paradoxo que o país tão eficiente na condução de sua economia seja o mesmo omisso em relação aos adolescentes, que representam um contingente de 21 milhões de pessoas, ou 11% da população. O Unicef lembra que as políticas voltadas para adolescentes não alcançam populações vulneráveis, são descontinuadas e conduzidas de uma forma que mais se assemelha a projetos-piloto.

Entre as sugestões apresentadas, destaque-se a que propõe ao governo federal a elaboração de projeto específico, dentro do Plano Nacional de Educação, para os adolescentes fora da escola. Observe-se que o relatório do Fundo da ONU chega a conclusões semelhantes às de outros diagnósticos, que apontam para os altos índices de evasão escolar entre jovens, muitos dos quais abandonam os estudos seduzidos pela ampliação da oferta de empregos nas mais diversas áreas.

Como fato positivo, há o reconhecimento de que a universidade pública vem acolhendo cada vez mais adolescentes pobres. Mas persiste na sociedade a discriminação contra negros e índios. Os negros têm multiplicado por quatro, em relação aos brancos, os riscos de serem assassinados. Um adolescente indígena tem três vezes mais possibilidade de ser analfabeto do que os adolescentes em geral. Jovens, sem distinções de cor e classe, como ressalta o Unicef, não podem ser vistos apenas como projetos de adultos, mas como sujeitos, como cidadãos, dos quais o Estado ainda sonega uma educação de qualidade e outros direitos capazes de reduzir desigualdades e equalizar oportunidades.

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