segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PELAS CRIANÇAS SEM VOZ

 

ZH 13 de outubro de 2014 | N° 17951


EDITORAL



É significativo que o Prêmio Nobel da Paz 2014 tenha sido concedido à jovem paquistanesa Malala You- safzay, militante dos direitos humanos, que o dividirá com o ativista indiano Kailash Satyarthi, opositor do trabalho infantil e da exploração das crianças para ganhos financeiros. Índia e Paquistão se enfrentam neste momento pelo território da Caxemira. A importância da distinção, porém, está justamente na defesa da educação liderada pela mais jovem vencedora da premiação, aos 17 anos, intensificada a partir do momento em que foi baleada pelos talibãs simplesmente pela sua insistência em estudar.

Desde o atentado, a garota transformou-se num símbolo do direito de toda criança frequentar a escola, não importa qual a sua condição ou onde reside. Por isso, é significativo que a adolescente tenha recebido o anúncio da premiação justamente quando se encontrava em sala de aula na Grã-Bretanha, onde passou a residir. E, mais ainda, que tenha dedicado a láurea a todas as crianças “sem voz”, que precisam ser ouvidas.

Assim como continua a ocorrer no Paquistão, em todo o mundo, incluindo o Brasil, milhões de crianças deixam de frequentar a escola a cada dia. Sem estudo, ficam com menores chances de deixar para trás um cotidiano marcado pela miséria e pela falta de perspectivas de ascensão social. Essa é uma situa- ção que só convém a quem insiste em explorar o trabalho infantil e a obscurantistas que, como os talibãs, valem-se da desinformação para manter a população subjugada pelo terror.

Por isso, a atuação dos dois premiados é complementar. Crianças forçadas a trabalhar desde cedo, muitas vezes pela necessidade de ajudarem no sustento da família, tendem a se desinteressar pelos estudos, relegando-os a um plano inferior. A escolha de Malala para dividir o Nobel da Paz com um militante indiano ajuda a reforçar a importância do estudo para o futuro das crianças. Educação é a chave para assegurar oportunidades mais equânimes a quem está na fase de aprendizagem.