segunda-feira, 28 de abril de 2014

ESSE MENINO ERA SEU FILHO


ZERO HORA 25/04/2014 | 14h48


Fabrício Carpinejar


Não posso nem chamá-lo de caro ou prezado, mas apenas usar seu nome: Leandro. Educação e respeito vão soar como cinismo.

Tampouco posso chamá-lo pelo sobrenome para indicar formalidade. Perdeu o direito do sobrenome. Seu filho pequeno está enterrado em seu sobrenome para sempre. Ele carregava seu sobrenome, você não soube carregar coisa alguma dele.

Tenho enfrentado vários pesadelos desde que ouvi a notícia de que seu menino de 11 anos fora morto pela madrasta.

Que seu menino foi posto numa cova às margens de um rio em Frederico Westphalen (RS) e poderia estar ainda vivo. Coberto pela terra quando deveria ser coberto pelo edredon para não passar frio de noite.

Seu filho foi enganado. Toda a vida enganado. Toda a vida humilhado. Na hora de seu fim, aceitou o passeio para longe de Três Passos porque jurava que receberia uma televisão.

Quando seu menino acordar dentro da morte, ele vai chamá-lo. Assim como toda criança chama seu pai quando tem medo do escuro. Vai chamá-lo e onde estará?

Ele acreditava que você era o herói dele. Estava exagerando para pedir que o salvasse, não entendeu o apelo?

Você nem pai foi. Nem homem foi. Você foi o que restou.

Como médico, não acha Bernardo uma criança um pouco grande para fazer um aborto?

O que dirá para irmãzinha dele? Que Bernardo está no céu? Que é uma estrela?

Perdeu também o direito de mentir. É você e sua memória sozinhos no silêncio. Só resta a memória para quem matou a consciência.

Nunca encontrará perdão. Deixou Bernardo desamparado. Deixou Bernardo com as mesmas roupas curtas, o mesmo uniforme escolar surrado, desde que a mãe faleceu. Deixou seu filho mendigar atenção pela cidade. Pelo fórum.

Não entendo o que leva um homem a anular sua família anterior por uma nova namorada. O sexo é mais importante do que a paternidade? A bajulação é mais importante do que a ternura? Queria estar disponível para festas? Cortar gastos?

Fingiu que Bernardo não existia para não atrapalhar a ambição da sua mulher? Fingiu que Bernardo não havia nascido para atender à exclusividade de sua mulher?

Filho não é escolha, é responsabilidade. Já casamento é escolha...

Se a mulher não gostava de seu filho, não deveria ter recusado o relacionamento?

Como seria simples. Bastava dizer "Ou meu filho ou nada!". É o que se fala no início do namoro.

Para você, nada.

Não é que você não tem mais nada, você não é mais nada. Abdicou de seu filho para ficar com alguém. Você não se contentou em abandonar sua família para criar uma segunda família, você aniquilou sua família para criar uma segunda família.

Obrigava Bernardo a esperar fora de casa até você chegar do trabalho, agora é você quem espera fora de casa.

Obrigava Bernardo a lavar as mãos para brincar com a irmã. Pois tente lavar suas mãos agora para tocar no rosto dele.

Tente todos os dias de sua paternidade. Sangue não sai com a culpa.

sábado, 26 de abril de 2014

BERNARDO NO EMARANHADO BUROCRÁTICO DA REDE DE AJUDA




ZERO HORA 26 de abril de 2014 | N° 17775



ADRIANA IRION


CASO BERNARDO. Documentos revelam como REDE DE AJUDA recebeu Bernardo



Ofícios, despachos e decisões judiciais a que ZH teve acesso contam como diversos órgãos perceberam e encaminharam as dificuldades que o menino de 11 anos enfrentava em sua família.

Quando o Ministério Público de Três Passos instaurou, em 16 de dezembro de 2013, um procedimento administrativo – o PA número 00917.00052/2013 – para apurar suspeita de que Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, sofria negligência afetiva, o sofrimento a que o menino órfão de mãe estava submetido já datava de mais tempo – pelo menos desde julho, segundo registros oficiais.

Ainda assim, mesmo que a cidade, a escola, o Conselho Tutelar, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (Creas), o Ministério Público e a Justiça tenham sabido, em algum momento, que ele tinha “medo”, vivia em “abandono”, “em situação de risco”, sujo, malvestido, por vezes desnutrido, não existe dentro do PA que virou processo judicial nenhum depoimento formal de Bernardo.

Há apenas recortes do que o menino que vagava pelas ruas teria dito a autoridades e a amigos em momentos diversos, mas nunca foi consignado em documento um depoimento completo de Bernardo que, sozinho, na manhã de 24 de janeiro, ingressou no fórum para pedir ajuda. Um sucinto relatório do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Cededica), que recebeu Bernardo naquele dia, registra que ele declarou “estar sofrendo maus-tratos em casa, principalmente advindos de sua madrasta, recebendo ofensas verbais”.

No mesmo dia, ele foi levado até a promotora da Infância e da Juventude de Três Passos, Dinamárcia Maciel de Oliveira, que o ouviu por mais de meia hora. O que ele contou à representante do MP não está formalizado no processo. Bernardo desapareceu e foi morto 70 dias depois desse contato. Nesse período, ainda participou de audiência de “conciliação” com o pai, o médico-cirurgião Leandro Boldrini, um dos presos por suspeita de envolvimento em sua morte. O que o pai prometeu diante do juiz e da promotora e o que Bernardo falou, as condições que deu para aceitar permanecer sob a tutela do pai e da madrasta, também não está escrito no processo.

MP e Judiciário defendem que o procedimento foi correto e que não havia exigência de um depoimento formal ser registrado.

– Houve uma subavaliação da palavra da criança, que é sujeito de direitos. Tudo que ele falou deveria estar consignado – avalia João Batista Costa Saraiva, juiz aposentado e consultor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Zero Hora teve acesso a documentos que contam parte da história de Bernardo, de como a rede de proteção percebeu e registrou as dificuldades que ele enfrentava no seio familiar.

– Tão importante quanto buscar as responsabilidades pelo crime, é aprender com o caso, estudar o que ocorreu, capacitar as pessoas. O aprendizado tem de ser usado em casos futuros, para que eventuais equívocos, eventualmente cometidos, sejam evitados – defende o desembargador José Antônio Daltoé Cezar, que atuou por mais de duas décadas na área da Infância e Juventude.



Menino estava morto quando foi enterrado


Um laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP) que chegou à Delegacia Regional de Três Passos ontem aponta que o menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, já estava morto quando foi enterrado, em uma cova na Linha São Francisco, em Frederico Westphalen. O resultado aponta que o estudante não teria aspirado terra depois de ter sido enterrado. A perícia verificou se havia no pulmão e na traqueia possíveis detritos similares a terra. O resultado deu negativo.

Os peritos que estavam na região auxiliando a polícia a desvendar o assassinato do menino retornaram a Porto Alegre com amostras promissoras de vestígios biológicos do levantamento do local da cova. O perito criminal Evandro Gomes não detalhou o conteúdo, mas disse que a avaliação do material pode contribuir com elementos novos para esclarecer o caso.


Justiça tira guarda de bebê dos pais


Suspeitos de participação na morte de Bernardo Ulglione Boldrini, o pai do menino, Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini, perderam ontem a guarda de sua filha, de um ano e cinco meses. O juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Três Passos, atendeu à solicitação do Ministério Público (MP) e suspendeu o poder familiar de ambos. A guarda provisória ainda não foi definida. Para a promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira, da Infância e Juventude, não é seguro que a menina permaneça com os pais caso venham a ganhar liberdade provisória – Boldrini e Graciele estão presos.

Outra solicitação da promotora foi atendida ontem. O juiz Marcos Luís Agostini, da 1ª Vara Judicial da cidade, decretou liminarmente a indisponibilidade dos bens de Boldrini, que fica proibido de realizar movimentações financeiras e vender móveis ou imóveis. Para o MP, o bloqueio é necessário para que não se corra o risco de Boldrini usar bens de Bernardo para pagar sua defesa por suspeita de participação no crime.



EMARANHADO BUROCRÁTICO

O que foi registrado em arquivos sobre Bernardo Uglione Boldrini 

Ofício do Colégio Ipiranga para o Conselho Tutelar, em 28 de novembro de 2013

“Bernardo é um menino que demonstra a necessidade de chamar a atenção para si e de forma, muitas vezes, negativa.”
“Seu comportamento fora de sala de aula com professores e outras pessoas do âmbito escolar costuma ser carinhoso, educado, prestativo...”
“Após a vinda do Conselho Tutelar para conversa com o menino e da entrega de notas, parece que se sentiu valorizado e protegido, tendo na ocasião apresentado uma melhora no comportamento e interesse escolar...”

Ofício nº 236/2013, do Conselho Tutelar para o Ministério Público, em 29 de novembro de 2013

“... levamos os profissionais do CREAS para conversar com o pai, que, no encontro, não foi muito compreensivo, mas prometeu tomar algumas providências em relação a BERNARDO, fazer um acompanhamento psicológico e psiquiátrico, mas, nos últimos dias, parece que o caso se agravou, segundo denúncias de profissionais da saúde e a família da JU (Juçara Petry, com quem o menino costumava ficar), o Bernardo está muito debilitado, abatido e desnutrido, quase que abandonado...”

Ofício nº 0177/2013, do Centro de Referência Especializado da Assistência Social para o MP, em 3 de dezembro de 2013

“O senhor Leandro nos recebeu prontamente e em sua fala negou todos os fatos.”
“Outro fato que nos relataram, nos chamou a atenção e que vale aqui ressaltar é que com apenas 09 anos (idade anotada errado, pois tinha 11 anos) foi ele que providenciou, juntamente com sua catequista, toda sua documentação para poder cumprir o sacramento da comunhão. Nem seu pai, nem sua madrasta acompanharam o ano catequético de Bernardo, sendo que não foram em nenhuma reunião, nem mesmo na primeira comunhão do filho.”
“A comunidade de Três Passos, em geral, sabe que Bernardo é negligenciado por seu pai e sua madrasta. O fato que nos apresenta é que ele é apenas um menino de 09 anos e que não está recebendo os devidos cuidados que a idade lhe exige.”

Despacho de abertura de procedimento pelo MP, em 16 de dezembro de 2013

“Instaura-se PA, em favor da criança, que se encontra em situação de risco em razão da negligência do pai/guardião.”
Ação do MP pedindo colocação em “família extensa, mediante guarda provisória”, em 31 de janeiro de 2014

“Ora, excelência, o caso é delicado e, até certo ponto, raro, dada a iniciativa da criança, ao buscar, por si mesma, uma solução para o problema familiar vivido.”
“...optou-se por promover a presente medida sem a inquirição do Dr. Leandro Boldrini na Promotoria de Justiça de modo a evitar que o menino Bernardo, eventualmente, pudesse sofrer maior agravo em sua já fragilizada relação intrafamiliar.”

Despacho do juiz Fernando Vieira dos Santos em 3 de fevereiro de 2014, quando marcou audiência de conciliação

“Ainda, para evitar represálias ao protegido, dada sua condição de vulnerável, o pai deve ser citado para a audiência na própria data da mesma e na mesma oportunidade em que o filho o for, diligenciando o oficial de Justiça na proteção do menino até o horário da audiência em questão.”

Petição em que o MP pede à Justiça a suspensão da guarda do menino pelo pai, feita depois do desaparecimento, em 7 de abril de 2014

“...imediata suspensão da guarda provisória concedida ao genitor da criança em face da flagrante negligência paterna com o bem-estar da criança favorecida, a qual se encontra em lugar ignorado.”

O juiz Fernando Vieira dos Santos decide, em 8 de abril de 2014, o que Bernardo pedia a amigos e autoridades: viver sob a guarda de outra família. Na data da decisão, o menino já estava morto havia quatro dias

“As circunstâncias do desaparecimento revelam um quadro como o descrito na inicial: se a criança não é submetida a agressão física, parece ser tratado com excessiva indiferença pela madrasta e incompreensível omissão pelo pai...”
“Aparentemente, BERNARDO, após o falecimento de sua mãe e da constituição de nova família pelo pai, passou a ser um estorvo à nova instituição familiar. ”
“Frente a essa situação, se BERNARDO for encontrado com vida e em boas condições de integridade pessoal, seu retorno à degradada realidade que enfrenta em seu lar parental é a medida menos acertada no momento. Logo, a suspensão da guarda, pretendida pela agente ministerial, é medida deveras acertada.”



Família de Carlos e Juçara Petry, que costumava acolher o menino, é citada nos ofícios

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A justiça do papel precisa acabar. Este fato revelou o quanto é nociva esta postura burocrata da justiça brasileira. As leis precisam mudar para que os poderes e instituições de justiça possam se transformar e se estruturar na promoção de uma justiça mais célere, mais próxima, mais vigilante, mais atenta com as circunstâncias, mais comprometida e tomando decisões mais ágeis e coativas. Não precisamos de juízes mediadores, mas magistrados presentes e coativos aplicando a lei com severidade e observando sempre a supremacia do interesse público em relação ao particular. 

Não se pode crucificar as autoridades envolvidas neste caso, pois é assim que funciona a justiça no Brasil, num emaranhado burocrático que dita passos de tartaruga aos processos, leva ao tempo infinito as decisões, transfere às cortes supremas o transitado em julgado, enfraquece os tribunais, distancia o magistrado da realidade e segrega instrumentos essenciais e auxiliares da justiça. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

DENÚNCIAS DE NEGLIGÊNCIA SUPERAM VIOLÊNCIA FÍSICA E SEXUAL

G1 24/04/2014 12h34

Denúncias de negligência contra pais superam de violência física e sexual. Bernardo Boldrini, 11, pediu nova família a juiz pela ausência do pai no RS. Menino foi achado morto; pai, madrasta e assistente social estão presos.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em São Paulo





Denúncias de crianças e adolescentes relatando a negligência de pais e responsáveis têm aumentado a cada ano no Brasil e já superam as de violência física e sexual, segundo dados do Disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Na semana passada, o caso do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, chamou a atenção do país. Encontrado morto com suspeita de ter recebido uma injeção letal antes de ser enterrado em uma cova dentro de um matagal em Frederico Westphalen (RS), o garoto se queixava de abandono familiar – pela morte da mãe, em 2010, e pela ausência do pai, o médico Leandro Boldrini – e chegou a procurar o Judiciário para trocar de família. O pai, a madrasta e uma assistente social amiga do casal estão presos por suspeita de envolvimento no crime.

Denúncias de negligência (a falta de cuidado de quem tem esse dever) se multiplicaram nos últimos três anos no país. Em 2013, o Disque Direitos Humanos recebeu mais de 90 mil ligações sobre o tema – 73,47% do total de 124.079 denúncias. Só em 2014, foram 37.586 telefonemas até abril.

A maioria delas retrata falta de amparo (89,7%), incluindo casos em que pais ou responsáveis não cumprem seu papel – por exemplo, expulsam crianças ou adolescentes de casa. Em seguida, aparecem negligência em fornecer alimentação (37,25%), limpeza e higiene (31,75%), medicamentos e assistência à saúde (16,5%), e o abandono (10,4%).

De 2003 a 2010, a negligência ocupava o terceiro lugar no ranking de denúncias, atrás da violência física e da sexual. A partir de 2011, porém, ultrapassou as demais (Veja os números no gráfico ao lado).

O Disque 100 mostra, ainda, que a maior parte das denúncias são contra mães (35,67%) e pais (17,7%). Em 45,1% dos casos, o local onde ocorre essa situação é a casa da vítima.

Abandono afetivo
Entre os casos de negligência, pode ser denunciado ao serviço o chamado "abandono afetivo", o mesmo vivido pelo menino Bernardo. Esse tipo de ocorrência ainda não é destacado nas estatísticas, mas já começa a chegar aos tribunais brasileiros.

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Irmãos relatam abandono de pais biológicos e adotivos

No dia 9 de abril, a 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) obrigou um pai de Sorocaba (SP) a pagar à filha indenização de R$ 200 mil. "Amor não pode ser cobrado, mas afeto compreende também os deveres dos pais com os filhos. [...] A proteção integral à criança exige afeto, mesmo que pragmático, e impõe o dever de cuidar", entendeu o ministro Marco Buzzi.



"Os casos de abandono sempre existiram. O que não tinha era essa identificação como algo lesivo, que gera indenização. O afeto começa a ser reconhecido como um direito", afirma a jurista Maria Berenice Dias, vice-presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), para quem o aumento das denúncias aponta uma maior conscientização sobre o tema.

Segundo a jurista, os casos mais comuns são aqueles em que o casal se separa, o pai paga pensão, "mas não convive [com o filho], não [o] procura no aniversário, não liga nenhuma vez". "A própria lei diz que é obrigação dos pais o cuidado com o filho, educação com o filho. O filho tem direito a ter esse tipo de assistência. Não tem que obrigar pai a gostar de filho. Mas, mesmo não gostando, tem que conviver. É da convivência que se cria o afeto”, afirma.
O Disque 100 funciona 24 horas. As denúncias podem ser anônimas, garantido o sigilo. As ligações podem ser feitas de todo o Brasil para o número 100 ou pelo site www.disque100.gov.br

A negligência afetiva na casa de Bernardo era investigada desde novembro do ano passado. Ele pediu ao juiz uma nova família. Como não havia sinal de maus-tratos, e o pai afirmou que queria uma nova chance de aproximação, o juiz o manteve com o pai. Bernardo aceitou. “Me senti enganado”, disse o magistrado ao G1 após confirmada a morte.

Para Berenice Dias, a ideia de família ainda é “sacralizada”, e o “Estado não está presente na casa das pessoas”. “A Justiça não conseguiu proteger uma criança que foi atrás. Ele pediu socorro, mas prevaleceu essa ideia de que pai pode tudo. Foi a primeira vez que eu vi uma criança ir ao juiz. Achei muito significativo. Isso mostra que, no fundo, não estamos preparados para prestar atenção à voz das crianças.”

OS TRÊS PASSOS

ZERO HORA 24 de abril de 2014 | N° 17773


PAULO SANT’ANA



Bem, a opinião pública já está convencida de que os três presos no caso de Três Passos têm culpa formada no assassinato do menino Bernardo.

A madrasta do menino, a amiga da madrasta e o pai do menino estão afundados até o pescoço perante o juiz e os jurados que decidirão se são culpados e quais as penas que sofrerão pelo clamoroso homicídio.

Sabem os leitores que quem decide sobre inocência e culpa são os jurados e quem decide a quantidade e valor da eventual pena é o juiz.

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O Jornal Nacional já se ocupou três vezes do crime de Três Passos e a revista Veja deu capa inteira sobre o momentoso caso nesta semana.

Não é para menos, uma madrasta, um pai e uma amiga da madrasta matarem um menino de 11 anos por causa ainda não suficientemente esclarecida, podendo ser só desprezo pela vítima ou interesse financeiro, só poderia adquirir mesmo essa repercussão nacional.

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Eu já tinha opinado antes das conclusões parciais da polícia que o pai, o médico-cirurgião, era culpado no homicídio.

E agora calculo o grau de culpa de cada um dos três presos acusados pelo horrendo crime.

Sem dúvida, a culpa maior, aparentemente, é a da madrasta. E a amiga da madrasta, que a ajudou a ocultar o cadáver, tem uma culpa em grau diminuído.

Mas e o pai? Aí é que está a coisa: se ele incentivou a madrasta a matar o garoto, tem culpa em grau igual à da madrasta.

Se não incentivou, mas apenas assistiu ao desenrolar dos preparativos para o homicídio e ocultou de todos o que sabia, tem culpa em grau menor do que o da madrasta mas também é culpa grave.

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O crime de Três Passos é horripilante. Mais ainda porque foi cometido contra uma criança inofensiva, a quem chegaram os autores a prometer que iriam a Frederico Westphalen para comprar um televisor de presente para ele e que deveria por isso acompanhá-los. E não foram, foram lá para enterrá-lo, ao que calculo, vivo.

Terrível. Como é que podem ser tão maus os humanos?

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A madrasta de Bernardo e sua amiga enterraram o corpo do menino.

E o pai ocultou o enterro do filho com luvas de pelica.

São tão frios e hipócritas esses assassinos, que devem estar vestindo luto pela morte do menino na prisão.

ASSASSINATO DE BERNARDO

PORTAL DO ANDRADE TALIS - abril 23, 2014
https://andradetalis.wordpress.com/


Enterrado pela segunda vez o menino Bernardo Boldrine, assassinado pelo pai médico e a madrasta enfermeira 


Após ser homenageado em Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul, município onde morava, e em Santa Maria, na Região Central do estado, cidade da família materna, o corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, foi sepultado na manhã desta quarta-feira (16). O enterro ocorreu por volta das 10h30 no Cemitério Municipal de Santa Maria, no mesmo jazigo da mãe, Odelaine, que teria cometido suicídio em fevereiro de 2010, aos 30 anos.








Nos semblantes dos que acompanhavam o enterro de Bernardo, indignação e incredulidade. “Não tem explicação”, muitos diziam. Uma oração seguida de abraços foi solicitada aos que acompanhavam o enterro. Amigos, professoras e colegas do colégio Ipiranga, de Três Passos, trouxeram faixas e flores para homenagear Bernardo.


Avó de Bernardo no sepultamento do neto. Foto: Deivid Dutra/A Razão

A avó, Jussara Uglione, pediu que não a deixassem sozinha. Jussara também agradeceu a todos o carinho prestado a ela e a Bernardo. “Isso não pode ficar impune”, reforçou a avó materna. Centenas de pessoas acompanharam o enterro do menino, natural de Santa Maria.

O corpo da criança foi encontrado na segunda-feira (14) enterrado em uma cova feita em um matagal da cidade de Frederico Westphalen, no Norte do Rio Grande do Sul. Segundo o atestado de óbito, a morte ocorreu no dia 4 de abril, de “forma violenta”.

Desde que ficou órfão da mãe, Bernardo morava com o pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugolini Boldrini. O casal, que tem uma filha de 1 ano, foi preso preventivamente junto com a amiga Edelvania Wirganovicz, que também teve participação no crime. Os três estão detidos em local não revelado pela polícia, por medida de segurança. Segundo a polícia, a mãe do menino cometeu suicídio com um tiro na cabeça no consultório onde o ex-marido, pai do garoto, trabalhava na época. (Fonte G1)

Zero Hora – A sua filha cometeu suicídio em 2010?
Jussara – Não, não acredito que ela tenha feito isso. Até hoje tenho suspeitas de que ela foi assassinada.

Logo após a morte da única filha, em 2010, a aposentada Jussara Uglione, 73 anos, moradora de Santa Maria, entrou com uma ação na Justiça para ter o direito de visitar o único neto. Segundo ela, o pai do garoto e marido de sua filha, não só negava o contato como a ofendia.

Zero Hora – A senhora tinha contatos com o seu neto frequentemente?
Jussara – Tentei várias vezes me aproximar dele, os meus advogados têm comprovantes de que fui impedida disso desde a morte da minha filha (em 2010).


Jussara e o neto

Fui impedida de vê-lo por 4 anos, me chamavam de velha doente, falavam que eu tinha problemas e que não teria condições de cuidá-lo. Eu tenho uma ótima situação financeira, tenho o nome limpo. Temos 73 anos de firma (revenda de veículos Uglione, em Santa Maria), somos honrados e honestos.

Jussara afirma que enquanto Leandro estava casado com sua filha, ele tinha Graciele Ugulini, 32 anos, como amante. “Tenho certeza que eles estavam juntos antes”, desabafa.


Graciele Ugulini, a madrasta

Sobre Bernardo, a avó aponta casos de maus-tratos contra o garoto, o que soube pelo próprio neto e por outras pessoas. “Ele não tinha chave de casa e precisava esperar sentado na calçada até que o pai chegasse. Ficava lá, com fome. Isso não se faz”, conta. Jussara relata ainda que Bernardo procurou auxílio jurídico pelo tratamento que recebia em casa. Em informações para a imprensa, a promotora da Infância e Juventude de Três Passos, Dinamárcia Maciel de Oliveira, cuidou do caso de suposta negligência entre novembro de 2013 e janeiro deste ano. (Fonte A Razão)

Relatos de vizinhos e amigos dão conta que Bernardo se dizia carente de atenção. Ele mesmo chegou a procurar a Justiça para relatar o caso. No início do ano, o juiz Fernando Vieira dos Santos, da Vara da Infância e Juventude de Três Passos, autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público (MP) instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.



O pai

De acordo com o MP, desde novembro do ano passado, o pai de Bernardo era investigado. Entretanto, nunca houve indícios de agressão física. Em janeiro, o menino foi ouvido pelo órgão e chegou a pedir para morar com outra família.

Ainda no início do ano, o médico pediu uma segunda chance, com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho, e assim convenceu a Justiça a autorizar uma nova experiência.



https://andradetalis.wordpress.com/2014/04/16/enterrado-pela-segunda-vez-o-menino-bernardo-boldrine-assassinado-pelo-pai-medico-e-a-madrasta-enfermeira/

VALIDADE DA CONFISSÃO PROVOCA DISCUSSÕES


ZERO HORA 24 de abril de 2014 | N° 17773


CASO BERNARDO



Prestado sem a presença de um advogado, o depoimento de Edelvânia Wirganovicz, que detalha o crime contra o menino Bernardo, está sendo colocado em xeque. O advogado Demetryus Eugenio Grapiglia diz que o depoimento, divulgado com exclusividade por ZH no domingo, teria sido obtido por meio ilícito:

– Minha cliente não fala mais uma palavra na delegacia, orientei que só fale em juízo e com advogado. Vou impugnar o depoimento porque foi feito sem a presença de advogado. Se ela tivesse dispensado, teria de estar no documento.

A delegada Caroline Bamberg diz que para depoimento na fase do inquérito não é obrigatória a presença de advogado:

– Não precisa estar escrito que ela dispensou o advogado. Ela foi orientada sobre os direitos constitucionais.

O advogado Felipe Moreira de Oliveira, professor Direito Processual Penal da PUCRS, lembra que, por si só, o depoimento não pode levar a uma condenação:

– Aconselha-se que toda pessoa investigada seja acompanhada de advogado para depor, mas é um tema de discussão jurídica. Recentemente, houve decisão do Superior Tribunal de Justiça dizendo que, se a pessoa é alertada dos direitos e opta por prestar mesmo assim, ele não é nulo.

Pelo depoimento, ao qual ZH teve acesso, Edelvânia teria sido cientificada de seus direitos constitucionais, dentre os quais o de permanecer calada e se manifestar em juízo. Caso não existisse esta informação, Oliveira acredita que as declarações poderiam ser anuladas:

– A tentativa dele (Grapiglia) é válida, mas acho muito difícil que se anule.

PRISÃO DO PAI FOI JUSTIFICADA POR CLAMOR PÚBLICO






ZERO HORA 24 de abril de 2014 | N° 17773


HUMBERTO TREZZI

CASO BERNARDO

Ao determinar a prisão do médico Leandro Boldrini, autoridades apontaram risco à preservação de eventuais provas, necessidade de garantia da investigação e a repercussão provocada pela morte do menino


A Polícia Civil diz ter indícios que comprovariam o suposto envolvimento do médico Leandro Boldrini na morte do filho, Bernardo, 11 anos. Mas o pai não está preso em decorrência de provas, que – se existem – até agora não foram tornadas públicas. A decisão foi tomada para que não atrapalhasse a coleta de indícios e pelo clamor público do caso.

– As prisões temporárias de Leandro Boldrini, de Graciele Ugulini (madrasta do Bernardo) e da amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, foram decretadas para garantia das investigações criminais e indícios de existência de um crime hediondo. Até pela gravidade, são de 30 dias e não cinco dias, como é usual – pondera o juiz Fernando Vieira dos Santos.

Santos responde pela Vara da Infância e Juventude de Três Passos e também decretou segredo de Justiça no caso, pelo fato de a vítima ser criança. O magistrado se baseou no princípio jurídico de periculum in mora (perigo na demora) para justificar a prisão. Ele diz que decidiu mandar prender o pai quando policiais enviaram o depoimento de Edelvânia, que confirmou ter participado da ocultação do corpo, segundo ela, a pedido da madrasta.

Diante da revelação e da informação de Edelvânia de que “não sabia se o menino já estava morto quando foi enterrado”, o juiz Santos considerou o fato gravíssimo e decretou as prisões. Temia que algum dos três sumisse com provas ou ameaçasse testemunhas, já que não há clareza de quem do trio participou do caso.

Os três não foram presos em decorrência de indícios, mas para que não os ocultassem. No entender das autoridades, havia o risco de os suspeitos sumirem com o corpo, com extratos bancários que comprovem pagamento pelo crime ou até com vídeos que comprovassem a movimentação.

Os três suspeitos tiveram a prisão decretada na noite de 14 de abril. A primeira a ser presa foi Edelvânia, que guiou policiais até o corpo do menino. Depois, foi preso o casal.

O então sumiço de Bernardo passou da Vara da Infância e Juventude para a Vara Criminal, responsável por casos que vão a júri popular. O novo juiz do caso é Marcos Luís Agostini, que manteve as prisões.


Advogado contesta versão de delegada


O relato feito pela delegada Caroline Bamberg, sobre a aparente frieza do pai de Bernardo ao ser preso em 14 de abril, ganhou um contraponto. Conforme a defesa do médico, ele teria desabado emocionalmente ao saber da morte do filho enquanto era detido. Ontem pela manhã, Jader Marques pediu que os três policiais envolvidos na prisão sejam ouvidos.

– No momento da prisão, ele falou que perguntou se a Keli (madrasta de Bernardo) sabia o que tinha acontecido, se algo tinha acontecido com o menino – afirma Jader.

Ao saber pelos policiais que o filho estava morto, Boldrini teria “desabado”, tido uma crise de choro e avançado contra Keli, diz o defensor.

A delegada disse que participou pessoalmente da prisão do casal.

– Na hora em que ele (Boldrini) recebeu a voz de prisão, ele não desabou. Eu contei o fato da morte do menino, e ele foi extremamente frio nesta hora – reafirmou Caroline.

*Colaboraram Adriana Irion e Letícia Costa


quarta-feira, 23 de abril de 2014

ANULAR O DEPOIMENTO E LEVAR O CASO PARA FREDERICO




ZERO HORA 23 de abril de 2014 | N° 17772

CASO BERNARDO


Advogado de Edelvânia pretende anular o depoimento


No final da tarde de ontem, o advogado Demetryus Eugenio Grapiglia assumiu a defesa da assistente social Edelvânia Wirganovicz. Procurado por uma amiga de Edelvânia, ele se deslocou de Frederico Westphalen para Três Passos e pretende conversar com ela na prisão. Grapiglia diz que o depoimento prestado pela assistente social não tem validade, pois não constaria por escrito que ela dispensou a presença de um advogado. Além disso, ele contesta as informações coletadas pela polícia.

– O que conversei com ela é totalmente divergente do que está no depoimento. Ela teria participação tão somente na ocultação do cadáver, não viu como ele morreu e nem sabe como foi. Também não tem motivação financeira, é puramente psicológica. Ela (Graciele) disse que se a Edelvânia não ajudasse a cavar ia matar ela e a família – afirma o advogado.

Segundo a defesa da assistente social, a cova não foi cavada com dois dias de antecedência, mas sim instantes antes de Bernardo ser enterrado na tarde da sexta-feira, 4 de abril. Pelas dimensões do buraco, o advogado alega que Edelvânia não teria como abri-lo sozinha. Ainda segundo ele, a assistente social não estaria passando por necessidades financeiras para pagar o apartamento e, agora na prisão, estaria totalmente arrependida de não ter impedido a ocultação do corpo.

Caroline não deu detalhes das provas que diz ter contra Boldrini


Defensor de Boldrini quer levar caso para Frederico Westphalen


Enquanto a polícia busca provas da suposta participação do pai de Bernardo no crime, o defensor dele diz que o médico Leandro Boldrini abriu mão de todo sigilo para contribuir com as investigações. Ontem à tarde, o advogado Jader Marques levou à Delegacia Regional de Três Passos uma declaração de Boldrini que autoriza o acesso às informações sigilosas, como dados bancários e telefônicos.

Jader solicitou também a transferência do processo para Frederico Westphalen, onde o crime teria sido consumado. Um pedido foi protocolado na Justiça de Três Passos.

– O Código de Processo Penal diz que a competência é da comarca onde se consuma o delito, por isso vejo a necessidade da transferência. Naturalmente a investigação deve tramitar lá (em Frederico Westphalen) também, sobretudo porque a investigação é determinada por onde tramitará a ação penal – alega Jader.

POLÍCIA ESTÁ CONVENCIDA DA PARTICIPAÇÃO DO PAI

ZERO HORA 23 de abril de 2014 | N° 17772

LETÍCIA COSTA* | TRÊS PASSOS

CASO BERNARDO


Por duas vezes, ontem, a delegada Caroline Bamberg afirmou ter certeza do envolvimento do médico Leandro Boldrini na morte do próprio filho, seja por ação ou por omissão.

Responsável pela apuração da morte do estudante Bernardo Uglione Boldrini, a delegada de Três Passos, Caroline Bamberg, não tem dúvidas de que o pai do menino estaria envolvido no crime.

Sem entrar em detalhes da suposta participação do médico Leandro Boldrini, a policial afirma que pode ter sido de forma omissiva, se ele sabia que o filho já estava sem vida e não informou à polícia, ou ativa, fazendo parte de alguma ação que culminou com a ocultação do corpo em uma cova na cidade de Frederico Westphalen.

Em duas entrevistas coletivas concedidas pela manhã e na tarde de ontem, Caroline ressaltou que há elementos que comprovariam o suposto envolvimento de Boldrini no assassinato. Para não prejudicar as investigações, a delegada não expôs quais seriam as provas contra o pai.

– Tenho convicção de que, de alguma forma, ele participou. Não vou falar porque ainda estou investigando. Não estou satisfeita. Estamos trabalhando, se não tivesse nenhuma dúvida, iria concluir o inquérito. Tenho de apurar a participação de cada um deles – afirmou.

Caroline ressaltou ainda esperar que Boldrini não ganhe a liberdade enquanto as investigações estão em andamento. A Polícia Civil já ouviu os três suspeitos de participar da morte de Bernardo – o pai, a madrasta e uma amiga da madrasta – após eles serem presos, na segunda-feira, 14 de abril. A delegada não informa se algum deles negou participação no crime.

Dos três, apenas a madrasta, Graciele Ugulini, teria exigido a presença do advogado para ser ouvida na segunda-feira, feriado de Tiradentes. Vanderlei Pompeo de Mattos é o advogado que assumiu a defesa de Graciele, apontada pela amiga como autora da morte de Bernardo, por meio de uma injeção letal. Ontem, ZH tentou contato com o defensor, mas não obteve retorno das ligações. A delegada não participou do depoimento da madrasta, mas disse que os policiais que a ouviram teriam destacado “frieza e tranquilidade” dela durante a conversa com a polícia:

– Ela estava tranquila, não chorava. Eu não levo a pau e ferro nenhum depoimento. Não sei se as versões são verdadeiras.

Para concluir o inquérito, a Polícia Civil ainda ouvirá pessoas da convivência dos suspeitos e buscará mais elementos que provem o suposto envolvimento dos três. Fundamental para a conclusão da investigação, a análise do material genético coletado no corpo de Bernardo poderá indicar quais as substâncias químicas foram utilizadas no assassinato.

*Colaborou Mauricio Tonetto




O que diz a polícia sobre morte da mãe

ADRIANA IRION E HUMBERTO TREZZI

Desde o sumiço e a morte de Bernardo Uglione Boldrini, a família da mãe do garoto, Odilaine Uglione, levanta dúvidas sobre o suicídio dela, ocorrido em 10 de fevereiro de 2010. O advogado dos familiares já anunciou que pedirá o desarquivamento do caso, investigado pela Polícia Civil de Três Passos.

A técnica em enfermagem Odilaine morreu, aos 32 anos, com um disparo dentro do consultório do então marido, o médico Leandro Boldrini. Como ele agora é suspeito de envolvimento no assassinato do filho, os Uglione levantam a hipótese de que ele possa também ter matado Odilaine ou induzido ao seu suicídio, já que a morte da mulher não teve testemunhas – os clientes do consultório aguardavam na antessala.

Mesmo com a pressão pela reabertura do caso, os indícios coletados pela polícia apontam que ela se suicidou. ZH teve acesso à maior parte do inquérito. A investigação aponta que Odilaine, um dia antes de morrer com um tiro, avisou num centro espírita que queria se matar. Falou o mesmo para a empregada da casa na data da sua morte. O casal estava em processo de separação.

Indícios técnicos também apontam para suicídio. A arma usada, um revólver calibre .38, disparou à queima-roupa. Mais: a polícia confirmou a ZH que foi feita perícia oficial e que o exame de resíduo de chumbo nas mãos indicou que o disparo foi feito por ela. Com base em tudo isso, os policiais fecharam o inquérito concluindo que foi suicídio.

A empregada da casa de Odilaine à época, Nelci de Almeida e Silva, contou à polícia que na quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010, depois de almoçar com o marido, em casa, Odilaine a chamou no quarto. As duas sentaram ao pé da cama, e a mãe de Bernardo disse:

– Eu não quero mais...

Nelci pensou que ela se referia ao casamento, mas Odilaine foi incisiva:

– Não, eu não quero mais viver.

Médico prestou depoimento

Segundo o testemunho de Nelci, Odilaine disse que, se “Leandro tinha o direito de saber o que era bom para ele, ela tinha o direito de escolher o que era bom para ela.” Quando a empregada aconselhou que ela pensasse melhor, Odilaine teria respondido:

– Tu não é ninguém para impedir.

Era o segundo aviso. Um dia antes, Odilaine estivera no Centro Espírita Francisco de Assis, em busca de conforto emocional. Uma das pessoas que a atenderam, Maria Isabel Neckel, lembra que a mulher confidenciou que o marido tinha pedido a separação.

– Ela estava desesperada, chorava muito e disse que ia se matar – descreveu a testemunha à polícia.

Na tarde de 10 de fevereiro, Odilaine entrou na antessala do consultório do então marido, que não estava no local. Segundo a secretária do médico, Andressa Wagner, ela pediu que não avisasse Leandro Boldrini de que estava ali e entrou no consultório, ficando lá sozinha até a chegada do médico.

Na antessala estavam sete pessoas. Ouvidas pela polícia, elas coincidem nas afirmações: ouviram um estouro, semelhante a um tiro, e logo o médico saiu correndo do consultório, gritando “chamem a polícia”.

Aos policiais, Boldrini disse que encontrou a mulher sentada no consultório e que ela dizia estar com calor. Ao se abaixar para ligar o computador, contou, a viu sacar uma arma da bolsa e apontar a esmo. Apavorado, diz que saiu correndo e então ouviu o estouro.

– Saí correndo, pedindo socorro, e não ouvi mais nada – disse o médico.



OS INDÍCIOS - Veja o que a apuração concluiu sobre o caso

O tiro que matou Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, foi dado à queima-roupa, situação comum em casos de suicídio. A Polícia Civil garante que existe exame pericial mostrando que ela atirou.

Foi Odilaine quem comprou o revólver calibre .38, segundo duas testemunhas. A polícia identificou o vendedor após receber denúncia anônima indicando o local da compra e o nome de quem vendera.

Odilaine falou para duas pessoas que pretendia se matar por causa da separação. Os avisos foram dados horas antes da morte à então empregada da família e a uma atendente de centro espírita.

Leandro Boldrini disse que a mulher havia tentado se matar outras três vezes. Cita nomes de médicos que a tratavam com antidepressivos.

terça-feira, 22 de abril de 2014

A INDIFERENÇA E O CASO DE TRÊS PASSOS

A indiferença

ZERO HORA 22 de abril de 2014 | N° 17771


ARTIGOS

 Por Orlando Faccini Neto*



Recentes estudos sobre nosso funcionamento cerebral sepultaram o ponto de vista de que razão e emoção afiguravam-se divergentes, de maneira que o desenvolvimento de nossa racionalidade não envolvia a participação de estados afetivos. Hoje, diz-se que razão e emoção caminham juntas, e não se descarta alguma inteligência emocional, para que nas empreitadas da vida logremos algum sucesso.

Paradoxal que seja, todavia, entre os estados afetivos reside justamente a possibilidade de sua ausência. É que, se muitos nos movemos por compaixão, por ciúme, por medo ou alegria, há aqueles cuja vida moral se notabiliza pela indiferença.

Não em todos os seus propósitos, mas para certos âmbitos de relação, alguns indivíduos agem em completa desconsideração para o que lhes seja alheio, e dando de ombros perseguem, no reino da individualidade, suas metas e seus objetivos. Não possuem disposição para mergulhar nas dificuldades dos outros, mesmo que agudas, o que não esconde um sintoma de isolamento, em que o sujeito se aparta dos demais, ocultando-os diante da proeminência de si mesmo.

Frisemos, porque essa é nossa primeira conclusão: seja o indiferente, seja aquele que age movido pela exaltação de algum estado afetivo, justamente porque as emoções e a racionalidade são indistintas, não podem alegar para si o que em Direito Penal chamamos de inimputabilidade. Com efeito, sabem o que fazem e variados estudiosos do tema cogitam até mesmo de uma contemporânea educação emocional, em que os incomodados procuram alterar a base de seus afetos.

Isto dito, é necessário apontar que certos casos, situados embora neste plano emocional, são convertidos em normas. O Direito Penal não lhes é, passe o trocadilho, indiferente. Matar por repulsa racial, ou por um ciúme possessivo, agrava a pena do homicida.

Certas obrigações emanam da legislação penal, entre as quais se situa o dever de cuidado. O artigo 13, parágrafo 2º do Código Penal dispõe que o resultado de um crime é imputável àquele que, omitindo-se, tinha entretanto o dever de evitá-lo. Esse dever, autêntico dever de proteção, decorre da lei para os casos que envolvem a relação entre pais e filhos. A indiferença, neste caso, é legalmente repelida.

O genitor, portanto, que nada faz diante de uma situação de risco incidente sobre seu filho, excluída a hipótese em que ele próprio viesse a correr algum risco, é abrangido normativamente pelo resultado delituoso. Sequer a combinação ou o acordo de vontades com o executor do ato se há de exigir: um pai que, ciente da presença de um maníaco nos arredores de sua casa, deixa-a aberta, na esperança de que o facínora elimine a sua prole, não estará excluído de responder pelos homicídios realizados.

As informações até agora havidas sobre o caso de Três Passos conduzem a esse tipo de reflexão. Que se não alegue, no desvio moral da indiferença, uma qualquer inimputabilidade. Mesmo a maldade não nos faz “loucos”, pois de certo modo somos capazes do mal, se bem que a maldade ou ódio ainda signifiquem uma projeção afetiva que considera o outro como pessoa, sendo certo que a indiferença é a pura e simples desconsideração. E que se não relegue apenas aos executores uma responsabilidade que mais não é do que uma decorrência da violação do inerente dever de cuidado, emanado da condição paterna.

Ao saber da morte de sua mãe, Mersault, personagem d’O Estrangeiro, de Camus, sentiu nada, e assim demonstrou inequivocamente a sua indiferença. Mas ainda chamou-a de mãe.

*Juiz de Direito, doutorando em Direito Penal pela Universidade de Lisboa, professor

segunda-feira, 21 de abril de 2014

CASO BERNARDO: MP CONSTESTA

ZERO HORA 21 de abril de 2014 | N° 17770



PÁGINA 10 | CARLOS ROLLSING (INTERINO)



O Ministério Público discorda da avaliação da coluna de que a instituição está na berlinda por conta da atuação da promotora de Três Passos no caso das queixas do menino Bernardo Boldrini.


Em nota encaminhada à Redação de Zero Hora, o subprocurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, escreveu: “Discordamos de suas apressadas conclusões sobre a atuação do MP no caso Bernardo. A fonte da informação da babá, que seria o menino, foi ouvida diretamente pelo MP, juiz, assistente social, conselheiro tutelar, orientadora educacional de sua escola, orientador de medidas socioeducativas, psicóloga e família Petry. E nunca relatou violência fisica ou tentativa de asfixia. A própria babá negou isso à polícia.


O MP pediu liminarmente a troca da guarda dele à Justiça em 31 de janeiro de 2014. Essa senhora tinha trabalhado na casa há mais de cinco anos, quando a mãe estava viva. Nunca tinha convivido com a madrasta. O caso recebeu do MP prioridade. O menino foi vítima de psicopatas. Não há sistema que pudesse impedir”.

O CRIME DE TRÊS PASSOS (II)



ZERO HORA 21/04/2014 | N° 17770


PAULO SANT’ANA



Prossegue tenso e rico de detalhes o rescaldo do crime de Três Passos em que foi barbaramente trucidado o menino Bernardo, de 11 anos.

A chave para abrir o cofre da engrenagem psicológica que envolveu o assassinato está na atitude da madrasta e do pai do menino assassinado.

Os dois chegaram ao ponto de não comparecer à primeira comunhão do garoto. Como se sabe, um dos instantes mais importantes e solenes da vida de uma criança é o momento da sua primeira comunhão.

Pois a madrasta e o pai do menino tiveram o topete de não comparecer ao ato, sendo substituídos por conhecidos da família, que ficaram aturdidos com essa ausência.

A madrasta e o pai arranjaram uma viagem desnecessária para não comparecerem.

Um desprezo profundo do casal para com a criança. Esse desprezo explica em parte as razões do crime.

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Uma amiga da madrasta do garoto depôs a Zero Hora sobre como a madrasta encarava o guri. Eis o que lhe dizia a madrasta: “Aquele demônio! Aquilo não vale nada, passa o tempo todo me incomodando. Tem uma cara para o pai e outra, a verdadeira, para mim”, assim se queixava com ódio da vítima uma das suas assassinas. Essa atitude, verificada algum tempo antes do assassinato, mostra claramente o que sentia a madrasta assassina pelo enteado massacrado e explica cabalmente o crime. O ódio que a madrasta nutria pelo enteado levou-a, entre outros menores motivos, ao tresloucado assassinato.

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De acordo com as investigações policiais e o levantamento jornalístico até agora verificados, a amiga da madrasta que enterrou junto com ela o corpo do menino foi levada à cumplicidade no crime por motivo financeiro, a madrasta prometeu-lhe dar milhares de reais de presente, com o que quitaria seu apartamento. E ela não vacilou em ajudar a amiga, por lucro e solidariedade.

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O crime foi brutal, foi fruto de uma associação criminosa e se inscreve entre os mais famosos delitos ocorridos na história policial gaúcha.

Impressiona, em vários depoimentos que se conhecem agora, a indiferença do pai para com o menino. Encarava como normal o ódio da sua esposa para com o seu filho e já há suspeitas de que incentivava esse ódio.

Daí por que o pai está preso. Não se sabe se ele teve participação material no crime, mas se tem certeza, por várias outras atitudes dele, que, entre a criança que foi trucidada e a madrasta que a trucidou, o pai ficava do lado da madrasta incondicionalmente.

E tudo indica que o pai sabia que sua mulher tinha assassinado Bernardo.

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Uma suspeita que este colunista tinha e que agora se corporificou é a de que há a possibilidade de o menino ter sido enterrado vivo, ou seja, que a tal “injeção letal” que sua madrasta lhe aplicou não foi suficiente para matá-lo.

Horrendo crime.


 DO LEITOR


Caso Bernardo

Mais uma vítima da lentidão e burocracia do Poder Judiciário. Todos os órgãos do sistema agiram com falta de respeito ao menor, por não agirem com pressa antes que acontecesse o pior. Essas autoridades poderão dormir tranquilas? Não devemos esquecer que o pai do menino era um renomado médico, o que talvez provocou o descaso das autoridades.

Amandina Aquines

Advogada – Porto Alegre

Via e-mail

Concordo com Paulo Sant’Ana, talvez apenas a pena de morte para alguns crimes seja a solução mais justa. Estupradores, traficantes, homicidas pensariam duas vezes antes de cometerem suas barbáries.

Larry Beltrame

Empresário – Porto Alegre

Via e-mail

Depois de ter lido na íntegra a reportagem de Humberto Trezzi (21/04), mudei completamente meu conceito sobre a pena que os assassinos devem cumprir. Agora digo não à pena de morte. Seria brando demais. O que eles merecem é prisão perpétua em “regime fechado”.

Alda Pegoraro Roeder

Dona de casa – Nova Prata

Via e-mail

A SOCIEDADE NEGLIGENCIOU?


ZERO HORA 21 de abril de 2014 | N° 17770

ARTIGOS

por Romi Krás Hahn*


A tragédia do menino Bernardo, de Três Passos, assassinado aos 11 anos de idade, cujos principais suspeitos são o pai, a madrasta e uma amiga dela, é surreal e terrível demais. Dói e emociona a gente só de ler sobre o assunto.

E, desse acontecimento terrível, nós, sociedade, devemos tirar alguns ensinamentos. A criança claramente dava sinais de estar sofrendo abandono afetivo e maus-tratos – psicológicos e talvez físicos também –, chegando inclusive a tomar a iniciativa de buscar ajuda junto ao MP, ou seja, fazendo o que a maioria dos adultos, por omissão ou comodismo, não fez. Há relatos de que ele procurava casas de amigos para passar os finais de semana, inclusive indicando ao MP algumas dessas famílias para adotá-lo provisoriamente. Essas, no entanto, negaram-lhe abrigo, não queriam se envolver no caso. A avó queria adotá-lo, mas o monstruoso pai não deixava. Imaginem o inferno que era a vida desse menino.

A questão que se coloca é: houve negligência da sociedade com o comportamento dessa família? E, quando falo sociedade, refiro-me a todos que tinham contato com a criança: vizinhos, amigos, professores, direção da escola, autoridades. Pelo fato de o pai ser médico (e bem de vida), todos esses atores (principalmente os órgãos protetores dos Direitos da Criança) foram condescendentes com o comportamento desse pai?

Com certeza a polícia vai desvendar rapidamente as razões desse crime bárbaro. Essas pessoas, no entanto, não passarão mais do que alguns poucos anos na cadeia, logo estarão soltas por bom comportamento – são classe média alta e podem pagar bons advogados – e estarão de volta ao convívio social. E, por mais injusto que isso pareça, não há nada que possamos fazer. Agora, podemos, sim, ficar mais atentos aos sinais e pedidos de socorro que crianças em situações semelhantes emitem à nossa volta. Esse é o principal ensinamento, a lição que devemos todos tirar dessa tragédia chamada Bernardo Boldrini.


*CIENTISTA POLÍTICO

UMA MORTE PREMEDITADA


ZERO HORA 21 de abril de 2014 | N° 17770


ADRIANA IRION



Zero Hora teve acesso ao depoimento da assistente social Edelvânia Wirganovicz, em 14 de abril, à Polícia Civil, em que confessou participação no assassinato e ocultação do corpo de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos. O relato deu embasamento à polícia para prender Edelvânia, a madrasta do menino, Graciele Ugulini, e o pai de Bernardo, o médico cirurgião Leandro Boldrini. Pelo relato de Edelvânia, Graciele planejava há muito tempo a morte do enteado, considerado um “incômodo” na vida do casal.

Ao confessar o assassinato, ela apontou para a Polícia Civil uma das substâncias que a madrasta teria dado ao menino no dia do crime. Conforme o depoimento, um dos remédios seria o Midazolan, um sedativo e indutor anestésico muito usado em pequenos procedimentos, como endoscopias. Consultada por ZH, a médica clínica geral Lisangela Preissler explica que se usado em doses excessivas o Midazolan pode levar à insuficiência respiratória. A necropsia feita em Frederico Westphalen foi “inconclusiva” para a causa da morte. A polícia aguarda novos exames periciais.

Segundo a médica Lisangela, a apresentação oral da substância, conhecida pelo nome comercial de Dormonid, só pode ser comprada em farmácias mediante receituário azul, já que é de uso controlado. Já a apresentação injetável estaria disponível apenas em hospitais e clínicas para a realização de procedimentos como a endoscopia. A polícia investiga se a medicação foi retirada da Clínica Cirúrgica Boldrini, de propriedade do pai de Bernardo, Leandro Boldrini, em Três Passos. Edelvânia, no entanto, falou aos policiais que Graciele pegaria o remédio no hospital de Três Passos, “eis que disse que tinha acesso à medicação”.


Veja mais detalhes do depoimento da amiga da madrasta à Polícia Civil.


Primeira sondagem para o crime

Kelly (como Graciele é conhecida por amigos) teria convidado Edelvânia para ser madrinha de sua filha e teria desabafado sobre a relação com Bernardo. Teria dito que o menino era “ruim, que era difícil de lidar e que brigava até com o pai”. Que após essa conversa, Kelly perguntou o que achava, sendo que ela tinha bastante dinheiro e que se a depoente a ajudasse a dar um sumiço no guri ela lhe daria dinheiro e ajudaria a pagar o apartamento”, informa um trecho do depoimento.

Conversa com mulher de delegado

A resposta não foi dada naquele dia. Segundo Edelvânia, Kelly “deu um tempo” e elas teriam se falado algumas vezes por telefone. Kelly teria voltado à cidade em 2 de abril, dois dias antes do crime. Edelvânia disse que, na ocasião, se assustou com a presença da amiga, uma vez que estava recebendo em casa outra conhecida, a mulher de um delegado. Edelvânia disse à polícia que estava “começando a se abrir com a mulher sobre a proposta de Kelly, que se tivesse contado tudo, ela não deixaria a depoente fazer o que fez”.

Um local para enterrar o corpo

Naquele dia, Kelly teria revelado o plano: dopar o menino e depois aplicar uma injeção letal. Teria pedido um local para “consumir” o corpo. As duas teriam ido ao local, no interior de Frederico Westphalen, e começado a cavar com uma enxada de Edelvânia. Teriam decidido comprar outras ferramentas, além de um produto para “diluir rápido o corpo e que não desse cheiro”. As ferramentas, uma pá e uma cavadeira, foram apreendidas na casa da mãe de Edelvânia.

Data marcada para a morte

No dia 2, Kelly teria dito que voltaria com o menino “na quinta ou sexta-feira e que de segunda-feira não passaria”. Edelvânia sustentou que, no dia seguinte, quinta-feira, voltou ao local para terminar de cavar a cova. Na sexta-feira, Kelly teria passado uma mensagem informando que estava indo para Frederico Westphalen e teria usado um “código” combinado por elas para confirmar que Bernardo estava junto. Teria sido por volta do meio-dia de 4 de abril.

Despiste para enganar Bernardo

Segundo Edelvânia, Bernardo rumou para a morte depois de sair da escola em 4 de abril acreditando que ganharia uma TV e que faria uma consulta com uma “benzedeira”. Ainda em Três Passos, Graciele teria dado um remédio ao menino para que dormisse – teria dito que o comprimido era para evitar que vomitasse. Mas o remédio não fez efeito e ele chegou a Frederico Westphalen acordado. Desceu do carro da madrasta e entrou no Siena de Edelvânia. “A depoente já estava esperando lá embaixo do prédio onde mora, tendo Kelly estacionado a camioneta do lado do Siena e o menino desceu e entrou no Siena. Que as coisas já estavam no porta-malas, a cavadeira, a pá, a soda e as ‘coisarada’ do kit do remédio que Kelly já tinha deixado com a depoente na quarta-feira e que iria usar para matar o guri.”

"Piquezinho" na veia

No veículo da assistente social, ele teria recebido outra dose da medicação. No trajeto até o local onde seria enterrado, Bernardo teria ouvido da madrasta mais uma vez a explicação de que estava indo a uma consulta com uma benzedeira e que precisava, para isso, levar um “piquezinho na veia”. Edelvânia disse à polícia que “mandaram ele deitar sobre uma toalha de banho cor azul. Que Kelly aplicou na veia do braço esquerdo com uma seringa e ele foi apagando.” Edelvânia contou que “não teve sangue, apenas da picadinha”. As roupas do menino, a seringa e outros materiais foram colocados no lixo.

Menino ainda poderia estar vivo

Após tirar a roupa e os tênis, enterraram o menino, sem conferir se ainda estava vivo. “Que a depoente e Kelly colocaram o menino no buraco sendo que Kelly jogou a soda sobre o corpo e a depoente colocou pedras. Que a depoente acha que ele já estava morto. Que a depoente não viu se Kelly olhou se o menino tinha pulsação.”

Pagamento pelo crime

Edelvânia disse que recebeu, no dia 2, R$ 6 mil, que usou para pagar uma parcela do apartamento comprado por R$ 96 mil. O acerto total seria de um pagamento de R$ 20 mil, mas, segundo a assistente social, depois Kelly teria se disposto a pagar o total que faltava para quitar o apartamento. “Que Kelly lhe ofereceu muito dinheiro e a depoente foi fraca, mas era muito dinheiro e não teria sangue nem faca, era só abrir um buraco e ajudar a colocar dentro o menino (...)”. Ao encerrar o depoimento, Edelvânia afirmou que “somente ela e Kelly sabem sobre o fato. Que antes de hoje (dia 14, quando confessou) já teve vontade de contar para outra pessoa o que tinha feito, mas não contou por vergonha de sua mãe e pensou na sua pequena (referindo-se a sua sobrinha).”



CONTRAPONTO - Procurado para falar sobre os detalhes do crime e sobre o que seu cliente contou em depoimento à polícia na semana passada, o advogado Jader Marques, que defende Leandro Boldrini, se negou a comentar a confissão de Edelvânia, mas disse estar surpreso com o fato de a informação de que seu cliente não sabia do crime nunca ter sido divulgada pela polícia. Edelvânia e Graciele não têm advogado atuando no caso.

O PAPEL DO PAI NO CASO BERNARDO



ZERO HORA 21 de abril de 2014 | N° 17770


CARLOS WAGNER, HUMBERTO TREZZI E MAURÍCIO TONETTO


CASO BERNARDO. Desvendar o papel do pai no caso é DESAFIO DA POLÍCIA


A Polícia Civil já tem provas do suposto envolvimento da madrasta e de uma amiga no assassinato de Bernardo Boldrini, 11 anos. Agora, tenta descobrir se o médico tem envolvimento na morte.


Policiais civis correm contra o tempo para esclarecer todos os detalhes da morte de Bernardo Boldrini, 11 anos, de Três Passos. Começam a investigar as contas bancárias dos três presos por suspeita de envolvimento no crime. Desde a descoberta do corpo, há uma semana (ensacado e enterrado numa cova em Frederico Westphalen), a Polícia Civil se concentra em tentar comprovar que a assistente social Edelvânia Wirganovicz e a madrasta do menino, Graciele Ugulini, mataram a criança movidas por dinheiro. E que, de alguma forma, o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, estaria envolvido.

A principal prova é o estarrecedor depoimento de Edelvânia (leia na página 5), que admite ter ajudado no crime movida pela promessa de auxílio para pagar R$ 96 mil de dívida com um apartamento. O dinheiro seria repassado por Graciele, que, segundo a assistente social, nutriria um sentimento de ódio pelo enteado e teria receio de ser preterida na divisão de bens do marido, caso Bernardo herdasse a clínica e os imóveis do pai.

Os policiais desconfiam que Boldrini sabia do plano, apesar de Edelvânia declarar que o médico desconhecia a intenção da mulher. A amiga teria ouvido de Graciele:

– O Leandro não sabe, mas, no futuro, vai dar graças por se livrar do incômodo.

ZH falou com agentes envolvidos na investigação. Eles estão divididos quanto ao possível envolvimento de Boldrini. Alguns estão convictos de que ele ajudou a planejar o crime. Outros acham que não, que era apenas desleixado e não demonstrava afeto – o que teria facilitado os planos da madrasta em liquidar o enteado. De qualquer forma, todos estão convencidos de que ele teria ajudado a ocultar o assassinato.

Mesmo os que apostam no envolvimento de Boldrini têm dificuldade de comprovar isso. Boldrini tem um álibi consistente: no dia da morte de Bernardo, testemunhas viram o médico transitar o dia inteiro entre a clínica de endoscopia que possui e o hospital onde atua como cirurgião.

Os policiais solicitaram a quebra de sigilo das contas bancárias do casal, para tentar identificar uma movimentação anormal de dinheiro. Os investigadores, porém, já sabem que terão uma dificuldade: dos valores que teriam sido prometidos por Graciele à assistente social, apenas uma pequena parte teria sido entregue a ela.

Madrinha fala em “frieza”

Um relato da madrinha de Bernardo a ZH reforçaria a suspeita da polícia contra o médico. Clarissa Oliveira não consegue tirar da cabeça a conversa que teve com Boldrini em 14 de abril, às 16h, dia em que o corpo foi encontrado. Impressionada com o que definiu como “frieza” do pai do menino, ela começou a acreditar que o médico tem envolvimento com o caso quando ouviu: “Tá, se acharem ele morto, daí a gente vê o que faz”. Horas depois, Boldrini era preso.

A exemplo de uma entrevista do pai à Rádio Farroupilha, Clarissa observou que o médico falava do menino no passado enquanto ele estava desaparecido.

– Ele falava no passado e eu ficava cada vez mais apavorada. A minha dúvida, hoje, é a seguinte: ele participou do plano ou ficou sabendo durante a semana?

Marido de Clarissa, Ary Ribeiro relata uma conversa telefônica. Enquanto ele e a mulher ficavam o dia inteiro nas redes sociais mobilizando as pessoas a divulgarem a foto de Bernardo e buscarem informações, o pai do menino estaria dormindo em casa:

– Liguei duas vezes na segunda-feira (dia 7) e ele estava dormindo. Não consegui me controlar. Eu disse: “Todo mundo está na rua atrás dele e tu estás dormindo em casa!”.

Coroinha da Igreja da Matriz de Três Passos, Bernardo foi homenageado na noite de ontem com uma missa no local que frequentou. Em tom forte, o padre Rudinei da Rosa disse que “monstros existem, mas no final sempre são vencidos”.

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Em uma Páscoa de tristeza em Três Passos, mais de mil moradores participaram de missa em homenagem a Bernardo na Igreja Matriz, onde o menino foi coroinha

domingo, 20 de abril de 2014

NÃO HAVIA SUSPEITA DE CRIME

CORREIO DO POVO 19/04/2014 20:33
Karina Reif / Correio do Povo

“Não havia suspeita de crime”, diz delegada do caso Bernardo. Mãe de dois filhos, policial revela que chegou a chorar no velório do menino



Policial tem convicção de que o pai e a madrasta do menino estão envolvidos no crime
Crédito: Vinicius Araújo / Especial CP


O sentimento de indignação e perplexidade compartilhado por todos que sabem da história do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, morto na região Noroeste, é o mesmo da delegada que investiga o caso, Caroline Bamberg Machado. Mãe de dois meninos, um de 3 e outro de 6 anos, ela tem convicção de que o pai e a madrasta da criança estão envolvidos de alguma forma com o crime. Caroline afirma ter dificuldade em imaginar como uma pessoa como a madrasta, que tem um filho, pode fazer mal para um garoto. “Quando se é mãe, só se pensa em amor”, observa.

Natural de Humaitá, sempre teve o sonho de ser policial. Ela afirma nunca ter lhe passado na cabeça outra carreira. “Queria uma profissão que pudesse ajudar as pessoas”, afirma. Desde 2004, concretizou o objetivo. No entanto, a experiência de dez anos não minimiza a comoção com o assassinato de Bernardo e não impede que ela pense nos filhos ao imaginar o quão indefeso estava o menino antes de desaparecer. “As testemunhas dizem que ele era extremamente carente, amoroso e só buscava amor”, conta a delegada, que se emociona ao pensar na criança.

Inclusive, ela não conseguiu conter as lágrimas no velório. “Eu sou humana”, justifica. “Não tem como não lembrar dos filhos e não se comover”, observa Caroline, que tem uma tatuagem de Nicollas e Murillo no pulso direito. 

Caroline diz agradecer sempre por ter serenidade para agir neste caso. Segundo ela, a vontade que tinha era de passar o dia inteiro abraçada aos filhos. “Eu procuro dar o máximo de carinho”, diz. “Preciso saber o que aconteceu com o Bernardo”, declara a policial.

O que choca tanto a delegada, assim como o restante da população, é que a suspeita recai sobre o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini, além de uma amiga do casal, Edelvânia Wirganovicz. A delegada conhecia o menino de vista e já havia escutado que o Conselho Tutelar estava investigando um abandono afetivo. “Não havia suspeita de crime. Senão, teríamos agido”, disse.

O primeiro contato com o médico e a madrasta foi quando ambos foram registrar o desaparecimento de Bernardo. Naquele momento, Caroline diz que constatou a frieza dos dois. “Desde o início, percebi isso no jeito deles, pois não foi um gesto específico”, comenta a delegada. “A gente se coloca como mãe. Não tem como não ficar perplexa”, ressalta Caroline. Os três suspeitos devem ser indiciados por homicídio qualificado.



BERNARDO PODE TER SIDO ENTERRADO VIVO



CORREIO DO POVO 20/04/2014 08:13


Agostinho Piovesan / Correio do Povo


Polícia investiga se Bernardo pode ter sido enterrado vivo. Madrasta do menino não teria conferido pulsação, relatou amiga


A assistente social Edelvânia Wirganovicz disse à polícia de Três Passos, em seu depoimento no dia 14 de abril, que foi colocada soda sobre o corpo do menino Bernardo Boldrini, encontrado morto e enterrado no interior de Frederico Westphalen na segunda-feira passada. De acordo com ela, o menino pode ter sido enterrado ainda vivo. “Kelly (Graciele Ugulini, madrasta de Bernardo) não olhou se o menino tinha pulsação”

Edelvânia contou à polícia que juntamente com a madrasta praticou o crime e que pediram para o menino deitar sobre uma toalha de banho. “Kelly aplicou na veia do braço esquerdo com uma seringa e ele foi apagando”. Disse, ainda, no depoimento, que depois tiraram a roupa do menino, o colocaram no buraco, sendo que Kelly jogou soda sobre o corpo. No trajeto de Três Passos até Frederico Westphalen, Bernardo ouviu da madrasta a explicação que estavam indo para uma consulta com uma benzedeira e que “ele receberia um piquezinho na veia”.

O fato teria ocorrido em 4 de abril. À tarde, às 16h o crime estava praticado e as duas amigas retornaram para a cidade de Frederico Westphalen, se lavaram no apartamento de Edelvânia. Kelly ainda comprou um televisor numa loja local e retornou a Três Passos, conforme o depoimento. Já Edelvânia ainda levou a sobrinha tomar um picolé e posteriormente foi para sua residência dormir.

Amizade vinha de anos

A amizade de Edelvânia e Graciele vem de vários anos e já teriam morado juntas em Frederico Westphalen, pelo período de dois anos. Os contatos mais próximos foram retomados há dois meses, quando Graciele começou a detalhar o relacionamento que ela tinha com Bernardo que se a ajudasse “a dar sumiço do menor lhe daria dinheiro e a ajudaria a quitar o apartamento”.

A assistente social afirmou que Kelly tinha plano de dopar o menino e, em seguida, aplicar uma injeção letal. Como a madrasta solicitou um local para “consumir” o corpo, ambas foram no interior de Frederico Westphalen, na Linha São Francisco, e começaram a cavar o buraco com uma enxada. Depois compraram outras ferramentas para concluir a abertura do buraco. Também adquiriram um produto para diluir o corpo – que era a soda. No dia 3, Edelvânia voltou à Linha São Francisco e concluiu o trabalho de abertura do buraco, para, no dia seguinte, colocar o corpo de Bernardo no local. O buraco tinha cerca de 60 centímetros de profundidade.

Mulher já havia recebido R$ 6 mil

À polícia Edelvânia disse que “não teve sangue, apenas da picadinha”. Já as roupas do menino, a seringa e outros materiais foram colocados no lixo. Em relação ao dinheiro que recebeu para participar do crime, Edelvânia disse que no dia 2 recebeu R$ 6 mil.

O dinheiro foi utilizado para pagar uma parcela do apartamento adquirido por R$ 96 mil. Edelvânia receberia R$ 20 mil para participar do “sumiço” de Bernardo. Posteriormente Kelly teria se disposto a pagar o total que faltava para quitar o apartamento, no valor total de R$ 90 mil.



CORREIO DO POVO 19/04/2014 15:43

Rádio Guaíba

Pai de Bernardo é destituído de cargo diretivo em hospital de Três Passos. Médico era cirurgião-geral e perdeu posto após determinação do Cremers



O Hospital de Caridade de Três Passos, no Noroeste gaúcho, destituiu do cargo de diretor técnico o médico Leandro Boldrini, preso desde a noite de segunda-feira como um dos suspeitos da morte do filho Bernardo, de 11 anos. De acordo com o administrador da casa de saúde, Tarcísio Dreher, Boldrini também teve rescindido o contrato de cirurgião geral no hospital. O dirigente explicou ter atendido a uma determinação do Conselho Regional de Medicina (Cremers). "Ele está impedido de exercer a função", justificou. Boldrini era diretor técnico havia mais de dois anos na instituição.

• Leia mais sobre o caso Bernardo

"Só o tempo vai dizer que ele vai ter condições psicológicas de voltar a atender", afirmou Dreher. O administrador também negou a possibilidade de recontratar o médico se a defesa obtiver, na Justiça, o habeas corpus.

Em função da morte de Bernardo, o Caridade perdeu, também, a enfermeira-auditora. Irmã da madrasta do menino, Simone Ugulini pediu afastamento do cargo e deixou o município, segundo Dreher. Ela disse ao administrador que "não esperava isso da irmã" e que, por essa razão, não tinha mais condições de ficar no cargo. Graciele Ugulini também foi presa como suspeita do crime, assim como a amiga dela, Edelvânia Wirganovicz. Ao pedir afastamento do hospital, Simone também comentou a possibilidade de pedir a guarda do filho de Graciele e Boldrini, de um ano e três meses.

Morte de Bernardo

O corpo do menino Bernardo foi encontrado na segunda-feira, dez dias depois de a criança desaparecer. A família vivia em Três Passos, a quase 100 quilômetros do local onde o cadáver foi ocultado. Uma das hipóteses para explicar o assassinato é a motivação econômica, já que o menino era herdeiro dos bens da mãe, que cometeu suposto suicídio em 2010. O titular do Departamento de Polícia do Interior, delegado Valter Wagner, disse acreditar que algum tipo de ciúme também possa ter motivado o crime.



O CRIME DE TRÊS PASSOS

ZERO HORA 20 de abril de 2014 | N° 17769


PAULO SANT’ANA


De acordo com os lentos passos da investigação policial e jornalística sobre o pérfido assassinato do menino Bernardo Boldrini, vão surgindo fatos que revelam o profundo desprezo que sua madrasta e seu pai devotavam a ele.

Chegava ao ponto de a madrasta proibir que o menino entrasse em casa antes que o pai chegasse, o que acarretava que a criança ficasse esperando na rua durante uma hora.

Imaginem, com chuva, não poder entrar em sua casa.

*

Sabe-se agora que esse menino sofreu durante anos o desprezo e os maus-tratos de sua madrasta. Já há depoimentos que atestam que ela tentou asfixiá-lo dois anos atrás.

Uma pobre criança sob o poder tirano do pai e da madrasta, com o ápice de ter sido morto e enterrado em uma cova rasa por seus assassinos.

Quanto sofreu esse menino antes de morrer. E que fim triste e doloroso lhe deram seus assassinos.

*

Era tão grande a influência da madrasta sobre o marido e o poder do pai sobre a família – ele é médico e dono de mini-hospital e por isso era pessoa importante na comunidade –, que algumas testemunhas estavam ou ainda estão com medo de depor.

A polícia investiga lentamente se houve mais cúmplices no crime. Não se acredita que duas mulheres somente tenham, com uma pá e uma cavadeira, enterrado o corpo do menino.

A polícia acredita que falta alguém nesse enredo.

*

Mas o que não me sai da cabeça é que esse menino sofreu um martírio por anos nas mãos de seu pai e de sua madrasta.

Ele por vezes ia visitar um amigo e ficava na casa dele por por dois ou três dias sem que sua madrasta ou seu pai ligassem para isso.

E imaginem o terror desse menino quando tinha de voltar para casa.

*

Chama a atenção que as autoridades, o juiz, o promotor e o Conselho Tutelar tivessem tomado conhecimento do desprezo e dos maus-tratos que o menino sofria e não tivessem tomado providência para afastá-lo daquela prisão existencial. É a tal coisa, acharam que dava para ir levando a situação, que acabou, no entanto, no estúpido assassinato de uma criança.

Muitas pessoas agora devem estar arrependidas de não ter livrado o menino Bernardo dos grilhões que o amarravam à madrasta e ao pai.

Mas agora não adianta mais, consumou-se a tragédia.

E resta a Três Passos e ao Brasil lamentar profundamente.

E o que colabora mais ainda para isso é a capa da revista Veja desta semana, tomada inteiramente pelo crime.

TV COMO ARMADILHA




ZERO HORA 20 de abril de 2014 | N° 17769


ADRIANA IRION


CASO BERNARDO. TV como armadilha para atrair a criança à morte



Por um tempo, Bernardo deixou de se queixar do pai e da madrasta. Até teve oportunidade para isso. Em 31 de março, poucos dias antes de sumir, encontrou a promotora Dinamárcia na calçada do Fórum de Três Passos. Estava acompanhado de uma mulher e fez sinal de positivo para a promotora, que devolveu o cumprimento. Tudo parecia bem, e Dinamárcia ficou tranquila. Ouvida pela polícia, a mulher declarou ter escutado de Bernardo a frase “esta (referindo-se à promotora) é a mulher que vai mudar minha vida”.

E a vida de Bernardo parecia mesmo mudada, tanto que a madrasta voltou a ser vista com ele – e até prometeu ao enteado uma televisão nova. O menino comentou com coleguinhas sobre o presente que receberia. A compra coincidiria com outro negócio na família: a venda da casa do médico Leandro Boldrini.

Bernardo talvez não tivesse uma ideia precisa, mas tanto a casa quanto a clínica do pai também lhe pertenceriam, quando fosse adulto. A mãe do menino, Odilaine Uglione – que se matou em fevereiro de 2010, dentro do consultório do pai do garoto – era sócia na clínica do marido e tinha direito aos demais bens.

A Polícia Civil trabalha com a possibilidade de que Graciele tenha decidido matar Bernardo porque via nele um concorrente pelo R$ 1,5 milhão em bens do médico e, também, porque uma pensão poderia ser um estorvo nas pretensões financeiras da madrasta – uma pessoa ambiciosa, definem amigos e inimigos dela.

Graciele namorara outros médicos e empresários da cidade antes de se envolver com o cirurgião Boldrini. Chamou a atenção de todos que, pouco depois da morte de Odilaine (a mãe de Bernardo), já circulava pela cidade de mãos com o médico. Os comentários cresceram quando ela engravidou, meses depois do suicídio da ex-rival. Nos primeiros meses pós-morte da mãe de Bernardo, era vista passeando com o menino, no legítimo papel de mãe-substituta. Durou pouco. Logo depois começaram as queixas mútuas, relatam amigos de ambos. Desavença que parece ter virado ódio após o nascimento de Maria Valentina, o bebê que Graciele teve com Boldrini. No Facebook do casal, que é compartilhado, as únicas fotos de criança são da nenê – não existem ali imagens de Bernardo.

Tudo poderia ser coincidência, mas os comentários cresceram quando Bernardo sumiu, dia 4 deste mês. Aí as pessoas começaram a lembrar as brigas dele com a madrasta, as queixas de ambos, a hostilidade mútua. Dicas anônimas congestionaram a linha telefônica da Delegacia da Polícia Civil de Três Passos, relatando que Graciele tinha sido vista na estrada para Frederico Westphalen com o menino, no dia do desaparecimento dele – enquanto ela jurava que o menino sumira sem deixar vestígios. Boldrini, ouvido por policiais, também disse imaginar que o filho estivesse na casa de pais de colegas de escola.

Imagens dos últimos momentos da criança

ZH conversou com o casal que deveria estar com Bernardo no fim de semana em que ele sumiu – o empresário Édison Luís Müller, dono de restaurante, e Simone, professora de português de Bernardo e mãe de Lucas, um dos melhores amigos do menino.

O casal Müller diz que Bernardo não apareceu naquele final de semana na residência deles. Quem esteve lá, no domingo, foi o pai da criança.

– Onde está o menino? – questionou o médico Boldrini.

Müller pensou que o médico se referia a Lucas, um precoce jogador de futebol, que atua no Juventude de Caxias do Sul e durante a semana é colega de Bernardo na escola Ipiranga.

– Não, o meu filho – insistiu Boldrini.

O empresário estranhou a pergunta, porém, imaginou que o guri estivesse em sua casa, sem informar. Mas a mulher, Simone, tampouco sabia onde Bernardo se encontrava. Ela ligou para conhecidos do menino, ainda em frente ao médico, que logo foi embora. Simone continuou ligando, ligando...e nada de notícia. Desconfiou logo que algo estava muito errado.

– Não sei se o Boldrini fingiu imaginar que o filho dele estivesse conosco ou se pensava isso mesmo. Estranhei que ele aparecesse, nunca nem ligava para o filho – comenta o empresário Müller.

Pegou muito mal, também, o fato de o casal Boldrini ter ido a uma badalada festa no vizinho município de Três de Maio na noite de sábado, quando Bernardo já estava sumido. Eles ficaram no melhor camarote da festa e beberam a noite toda.

Boldrini até pode alegar desconhecimento do sumiço do filho, mas a madrasta do garoto sabia onde ele estava. Graças ao Big Brother moderno viabilizado pelas câmeras de segurança, agora se sabe os últimos passos de Bernardo. Ele foi levado no início da tarde do dia 4 de Três Passos a Frederico pela madrasta em uma Mitsubishi L-200 preta, a pretexto de comprar a tão sonhada TV.

Graciele comprou o aparelho em Frederico e depois se dirigiu a um posto de combustíveis, onde se encontrou com a amiga Edelvânia Wirganovicz. As duas se tornaram íntimas quando Graciele foi cedida pelo município de Três Passos para atuar na Coordenadoria Regional de Saúde de Frederico Westphalen. Edelvânia também atuava lá, cedida pela prefeitura da pequena localidade de Cristal do Sul. As duas eram vistas constantemente na cidade, inclusive em bares.

Edelvânia é filha de agricultores muito pobres. As investigações da Polícia Civil apontam que ela teria recebido uma quantia para ajudar no assassinato de Bernardo (fala-se em R$ 80 mil), mas ela nega.

O certo é que Bernardo saiu da Mitsubishi e entrou no Siena prateado de Edelvânia, com ela e a madrasta Graciele. Eram 14h30min de 4 de abril. O menino nunca mais foi visto com vida. As duas retornaram ao posto por volta das 17h, pedindo uma ducha para limpar o carro, que estava todo embarrado. Edelvânia ainda colocou no porta-malas uma pá suja de terra.

Confrontada com as imagens, Edelvânia confessou participação no crime. A incógnita, para os policiais, é se o médico Leandro Boldrini participou de alguma forma do assassinato do filho. Para a comunidade de Três Passos, isso pouco parece importar. Nos cartazes colocados nas grades da casa do cirurgião, sobram expressões como “canalha” e “monstros”. No julgamento moral dos cidadãos, os Boldrini já estão condenados.


Menino achou que iria a uma benzedeira


O relato que a assistente social Edelvânia Wirganovicz deu à Polícia Civil ao confessar participação na morte de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, mostra um roteiro de frieza e premeditação, no qual Edelvânia justifica o fato de ter aceitado participar do crime de forma singela:

– Era muito dinheiro e não teria sangue nem faca, era só abrir um buraco e colocar dentro o menino.

Zero Hora teve acesso ao depoimento que deu à polícia o embasamento para prender Edelvânia, a madrasta do menino, Graciele Ugulini, e o pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini. Pelo relato de Edelvânia, Graciele planejava há muito tempo a morte do enteado, considerado um “incômodo” na vida do casal.

Quanto à suposta participação de Boldrini, no entanto, Edelvânia repetiu o que teria ouvido da amiga: que ele “não sabia, mas futuramente ele ia dar graças de se livrar do incômodo, porque Bernardo era muito agitado”. A polícia suspeita de que o médico tenha ajudado a encobrir o crime depois de ficar sabendo.

A relação de Graciele e Edelvânia seria do passado, elas teriam morado juntas por dois anos. Cerca de dois ou três meses antes do crime, Graciele, chamada de Kelly, começou a procurar Edelvânia novamente e teria feito a proposta enquanto tomavam chimarrão no apartamento da assistente social: “que se ajudasse a dar um sumiço no guri, ela lhe daria dinheiro e ajudaria a pagar o apartamento que a depoente estava comprando no valor de R$ 96 mil.” A quantia inicial acertada seria de R$ 20 mil.

A escolha do local onde seria feita a cova e a compra das ferramentas para isso teria ocorrido dia 2 de abril. No mesmo dia, Graciele já teria deixado com a amiga o “kit” de medicamentos que seria usado para matar o menino. Ela teria dito que pegou o material no hospital de Três Passos. Ainda no dia 2, Graciele teria falado que precisava de Kelly e disse que precisava de um produto para “diluir rápido o corpo e que não desse cheiro”. As duas compraram, então, soda em um mercado. Tudo ficou guardado com Edelvânia.

Bernardo rumou para morte depois de sair da escola em 4 de abril acreditando que ganharia um aparelho de televisão e que faria uma consulta com uma “benzedeira”, segundo contou Edelvânia. Conforme o depoimento, ainda em Três Passos, Graciele teria dado um remédio ao menino para que dormisse, mas não fez efeito e já em Frederico Westphalen ele teria recebido outra dose.

No carro de Edelvânia, a madrasta teria repetido ao menino a história de que iria a uma benzedeira e que precisava, para isso, levar um “piquezinho na veia”. Edelvânia disse à polícia que “mandaram ele deitar sobre uma toalha de banho cor azul. Que Kelly aplicou na veia do braço esquerdo com uma seringa e ele foi apagando.”

Depois de tirar a roupa – que seria o uniforme da escola – e os tênis, enterraram o menino, sem conferir se ainda estava vivo:

“Que a depoente e Kelly colocaram o menino no buraco sendo que Kelly jogou a soda sobre o corpo e a depoente colocou pedras. Que a depoente acha que ele já estava morto. Que a depoente não viu se Kelly olhou se o menino tinha pulsação.”

Contraponto - Edelvânia e Graciele não tem advogado atuando no caso. Procurado para falar sobre os detalhes do crime e sobre o que seu cliente contou em depoimento à polícia na semana passada, o advogado Jader Marques, que defende Leandro Boldrini, se negou a comentar a confissão de Edelvânia, mas disse estar surpreso com o fato de a informação de que seu cliente não sabia do crime nunca ter sido divulgada pela polícia.



A assistente social Edelvânia Wirganovicz receberia ajuda para quitar apartamento



TRECHOS DO RELATO DE EDELVÂNIA WIRGANOVICZ, ASSISTENTE SOCIAL SUSPEITA DE ENVOLVIMENTO

- Era um guri muito rebelde (sobre o motivo de Kelly querer matar o menino), muito ruim de conviver, que a vida dela (Kelly) era um inferno com o guri junto

- Kelly disse que tinha tudo planejado sobre o que fazer e como fazer e que fazia tempo que estava planejando matar Bernardo. Que até uma vez Kelly contou que tentou matá-lo com um travesseiro, não conseguindo. Que Kelly disse que desta vez seria com injeção na veia

- Kelly disse que precisava de produto para diluir rápido o corpo e que não desse cheiro

- Kelly deu mais um comprimido ao menino, que tomou bem tranquilo com aguinha que Kelly mesmo havia levado.

- Kelly perguntou se tinham local onde consumir o corpo

No domingo à noite (6/4), Kelly falou com Edelvânia pelo telefone de casa, simulando estar apavorada, dizendo que o menino tinha desaparecido. Na segunda de manhã, Edelvânia ligou para o celular de Kelly perguntando se estava sofrendo muita pressão. Falaram sobre a morte de Bernardo e Kelly perguntou se estava tudo tranquilo lá embaixo, referindo-se ao local onde tinham enterrado Bernardo.



O CRIME - Em 4 de abril, Bernardo Boldrini, 11 anos, desapareceu em Três Passos. Dizendo acreditar que o filho passara o final de semana na casa de um amigo, o pai, o médico Leandro Boldrini, só buscou ajuda da polícia dois dias depois. A investigação policial aponta que o pai, a madrasta, a enfermeira Graciele Ugulini, e a amiga dela, a assistente social Edelvânia Wirganovicz, tiveram participação no assassinato de Bernardo. O menino foi encontrado morto 10 dias depois do sumiço, enterrado no interior de Frederico Westphalen. O casal e a amiga estão presos.




BERNARDO ACREDITOU QUE VIVERIA BEM COM O PAI


ZERO HORA 20 de abril de 2014 | N° 17769

HUMBERTO TREZZI

CASO BERNARDO


O assassinato do menino, que teria sido cometido com injeção de analgésicos, chocou o país, revoltou a comunidade, mas não se pode negar a existência de sinais da tumultuada relação do casal Boldrini com Bernardo. Ele era ignorado pelo pai e odiado pela madrasta, repetem pelo menos 10 moradores de Três Passos que privavam da intimidade do casal, ouvidos por Zero Hora.

Andréia Oliveira Küntzell, que via Bernardo pelo menos três vezes por semana, é uma das que não se espantam com o desfecho macabro do caso, embora esteja horrorizada. Ela diz que Kelly (como os íntimos chamavam Graciele, a madrasta de Bernardo) detestava o menino.

As duas trabalharam juntas por quatro anos, na rede municipal de saúde de Três Passos, até Kelly migrar para a clínica de endoscopia na qual se associou com o marido, o cirurgião Boldrini.

Andréia lembra que Graciele levou a bebê dela, Maria Valentina (meia-irmã de Bernardo), para vacinar, meses atrás, e as queixas contra o guri foram infindáveis. “Aquele demônio! Aquilo não vale nada, passa me incomodando. Tem uma cara para o pai e outra, a verdadeira, para mim”, teria se queixado Graciele.

As brigas eram tantas que, admitiu Graciele, Bernardo estava impedido de ver a irmã e de ter chave própria da casa. Andréia, desconcertada, tentou dar uma ajuda. Levava o menino para jantar pelo menos três vezes por semana, com a filha Maria Eduarda. Ela estranha que o pai de Bernardo não telefonava para ver se as coisas estavam bem:

– Era um excelente cirurgião, afável, mas parecia não ligar para o destino do guri.

O espanto de Andréia se transformou em revolta quando, em dezembro passado, nem Graciele nem o próprio Boldrini compareceram à cerimônia de primeira comunhão de Bernardo. A decepção foi enorme também para a outra “mãe postiça” do menino, a técnica em enfermagem Nelda Maria, a Bugra, que chegou a chorar ao perceber o peso da ausência do médico e da madrasta. Católica arraigada, tinha convencido a criança a frequentar missas. Foi com imensa felicidade que viu o menino se transformar em um destacado coroinha, sempre a auxiliar os padres e as freiras.

– Era o menino do sorriso triste – define a técnica em enfermagem.

Bugra e o filho Alex, 17 anos – monitor no Colégio Ipiranga, onde Bernardo cursava a 6ª série –, ajudavam também o menino a aprender português. Ativo, irrequieto, Bê (apelido do menino) tinha dificuldade em se concentrar.

– Qualquer coisa tirava a atenção dele. Era ansioso, mas um guri meigo – define Maria Eduarda Küntzell, colega e melhor amiga, com a sinceridade dos seus 11 anos.

Eduarda ressalta que Bê preferia ficar mais entre as meninas do que entre os meninos porque era ridicularizado por ser atrapalhado. No futebol, tinha pouco domínio e costumava perder para a bola. No vôlei, levava boladas, e muitos riam da situação. Com as meninas, ele debatia filmes, algum programa de TV.

Entre os sonhos, ir com o pai à Arena

Mesmo sem ligar muito para futebol, o gremista Bernardo confidenciava a amigos um sonho: que o pai o levasse a ver um jogo na Arena do Grêmio. Mas isso nunca aconteceu. O pai, um workaholic assumido, nunca tinha tempo para o filho. Sequer para a primeira comunhão. Boldrini e Graciele viajaram, e Bernardo foi socorrido emocionalmente pelas “tias” Andréia e Bugra e pelo casal de empresários José e Juçara Petry – outros a quem o menino tinha rogado para que o adotassem.

Os Petry chegaram a ficar com Bernardo por um mês, quando o pai do menino sofreu um acidente de moto. Nos últimos meses, Bernardo confidenciara a eles estar feliz com a promessa, feita por Boldrini, de lhe dar mais atenção e de, finalmente, poder brincar com a irmãzinha – algo que estava proibido de fazer, pela madrasta.

A promessa de Boldrini fora feita ao filho por meio de pressão judicial. Em audiência mediada pelo Ministério Público, o menino se queixara de indiferença e desamor do pai. E chegou a apontar duas famílias com as quais queria morar: os Petry ou os Küntzell. Uma situação constrangedora para essas pessoas, já que eram conhecidos do pai e da madrasta de Bernardo (até colegas, no caso de Andréia Küntzell).

Para alívio geral, o próprio menino desistiu, ao ouvir do pai promessas de melhora na relação, feitas diante da promotora Dinamárcia Maciel de Oliveira.

A promotora pediu um estudo social de caso, para verificar o que ocorria na família Boldrini. Na análise, Bernardo é descrito como um menino emocionalmente carente, com “pai desatencioso e madrasta intolerante”. É considerado “um caso típico de negligência afetiva”. Em nenhum momento, porém, são mencionadas agressões físicas, tão típicas de casos escabrosos que costumam chegar ao Ministério Público.

O laudo, de cinco páginas, é assinado pela assistente social Juliana Kaufmann de Quadros e pela psicóloga Raquel Raffaeli. A promotora considera que não existiam abusos físicos contra Bernardo.

Talvez existissem. Dinamárcia afirmou à imprensa que nunca recebera notícias de agressões físicas contra Bernardo, mas, na realidade, fora alertada sobre episódios assim. A advertência partira do advogado Marlon Balbon Taborda, que representa a família materna do menino – brigada com o pai dele.

Por e-mail, Taborda copiou denúncia feita por Eliane Raber, ex-babá de Bernardo, em 2012. A mulher informa que Bernardo se queixou de ter recebido uma surra “de vassoura” da madrasta e que Graciele tinha tentado asfixiá-lo enquanto dormia. A ex-babá também se disse surpresa por encontrar, seguidas vezes, o menino sujo, mal vestido e abandonado pelas ruas de Três Passos.

Esse informe foi passado ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público, que marcou audiência com familiares de Bernardo. A babá nunca foi ouvida. A promotora Dinamárcia nega descaso com a situação do menino:

– Recebo, por dia, três denúncias de maus-tratos ou crimes envolvendo crianças, como vítimas ou autores. No mês em que Bernardo apareceu aqui, tive dois latrocínios com gargantas cortadas, praticados por adolescentes, e uma menina abusada sexualmente. Já no caso do Bernardo, não havia risco iminente, por isso o juiz aceitou a palavra do pai dele, de que tudo mudaria para melhor.

Bernardo, abraçado pela mãe, Odilaine Uglione, que se matou em fevereiro de 2010, e pela avó Jussara

Rodeado por colegas e amigos, Bernardo (de óculos) deu inúmeros sinais de que buscava uma outra família

No Espaço da Criança do jornal Atos e Fatos, de Três Passos, Bernardo definiu o pai como “herói”